Amar é tornar eterno o ser amado
Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra
27º Domingo do Tempo Comum – Ano B
Não é raro se ver por aí interpretações da expressão “tornar-se uma só carne” como exemplo da mera fusão de dois seres, propiciando assim a geração de um terceiro. Pensar de tal forma seria como nos imaginar como algum tipo de “ameba” se moldando e se misturando ao ser amado, até se perder totalmente nele, deixando de ser pessoa. Não é raro encontrar-se casais, patologicamente assim unidos.
Tornar-se uma só carne é ideal a ser perseguido pelos casais, reconhecendo-se cada dia mais um no outro, na medida em que deixem que o Amor mútuo se expanda. Todos possuímos a experiência bem próxima, alguns em si mesmos, da impossibilidade de se alcançar esta meta.
Com estes é preciso, mais que acolhida, que se busque enquanto Igreja como um todo e cada um como membros dela, saídas para que não se deixe à margem, sofredores, aqueles que, não importa o motivo eis que pregamos o perdão, ficaram pelo meio da estrada do Amor conjugal.
Amar pressupõe olhar, toque, enlevo, cuidado e acolhimento o que só é possível caso haja entre os amados algum espaço. Uma só carne significa que um se reconhece e se identifica integralmente com a natureza única do outro. Pertencem suas “carnes” à mesma matéria e realidade e esta faz parte da vida do próprio Deus.
Descobrem que necessitam a partir daí viver um para o outro, eis que passam a experimentar o maravilhoso processo da complementaridade. “Eu não consigo mais me ver completo sozinho. Sua ausência faz-me experimentar a dor, tal qual tivessem me amputado um membro”, é como se dissessem um ao outro.
O Amor é eterna descoberta de que a vida só estará plena se ocorrer a entrega ao outro. Este encontro fará com que se venda simultaneamente cachimbo e cabelos na doação de si, conforme nos recorda a história que o Pe. Hermann Rodriguez sj recolheu num livro do seu companheiro Juan Rafo sj. Estar um para o outro, como Deus é para cada um de nós.
É o mesmo que se dizer, em oração: “Sem você, estarei morto. Sem mim você não conseguirá sobreviver. Em você me torno eterno. Em mim você nunca morrerá.”
Por isto o Amor é muito mais do que mero sentimento. Santo Inácio de Loyola, nos seus Exercícios Espirituais, demonstra compreender bem isto, ao nos dizer que o Amor consiste mais em obras do que em palavras.
Na sua intuição, transformada para os exercitantes em contemplação, ele nota que amar é sair totalmente de si para caminhar na direção do outro, comunicando a ele, o santo continua, tudo aquilo que tem e pode. Amar é ser suporte para que o outro seja mais. É fazer com que o ser amado se torne maior e mais bonito a cada dia.
Pistas para reflexão durante a semana
– Sinto Deus como a fonte de todo Amor?
– Amar para mim se faz mais em obras do que em palavras?
– Agradeço a Deus pelo Amor na minha vida?