Amazônia: fé e luta. Inaugurado encontro da Igreja em Manaus
Manaus (RV) – Às 20h desta segunda-feira, 28, uma cerimônia oficial no auditório do Centro de Treinamento Maromba da capital do Amazonas marcou o início do Iº Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal.
O evento, que atende a uma solicitação do Papa Francisco, é promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e está reunindo cerca de 60 bispos, coordenadores de pastoral, religiosos, leigos e convidados dos 9 Estados que formam a Amazônia Legal (AC, AM, AP, MA, MT, PA, RO, RR e TO).
Falando aos participantes, o Cardeal Dom Cláudio Hummes, Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, disse que o Encontro, amplo e histórico, quer responder às interpelações de um novo tempo, ditado pelo encorajamento do Papa Francisco a enveredarmos por novos e decisivos caminhos. Na cerimônia, falaram também o arcebispo de Manaus, Dom Sérgio Castriani, pedindo a iluminação de todos para salvaguardar este “patrimônio criado por Deus com a sua pluralidade de culturas; Dom Leonardo Steiner, Secretário-Geral da CNBB, Dom Roque Paloschi, bispo de Roraima, dentre outros. Dom Leonardo leu a mensagem enviada pelo Núncio Apostólico, Dom Giovanni D’Aniello, ausente por recomendação médica devido a uma forte gripe.
Dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida e Presidente da CNBB, marcou presença com um vídeo, recordando as palavras do Papa aos bispos do Brasil em sua viagem ao Rio para a JMJ de julho passado.
Enfim, foi apresentado um filme produzido pela TV Nazaré de Belém (PA), ilustrando as diversidades e recursos da região amazônica.
A pauta do Encontro vai contar debates, painéis e palestras abrangendo temas que envolvem os povos da Amazônia e os conflitos que vivenciam. A partir de terça-feira, 29, a finalidade será evidenciar linhas claras para a contribuição da Igreja Católica na promoção e defesa da vida da população amazônida e da biodiversidade da região.
O Regional Norte II, que abrange os Estados do Pará e Amapá, está presente no Encontro com o seu Presidente, o agostiniano espanhol Dom Jesus Maria Cizaurre Berdonces. Para ele, o objetivo principal do evento será identificar os caminhos que a Igreja deverá percorrer para enfrentar problemas sociais da região, como o agronegócio, a mineração, a falta de respeito pela floresta, a educação e a saúde.
Sua Diocese, Cametá, se localiza na Amazônia Oriental, beirando 500 km do Rio Tocantins, afluente do Amazonas. A população se divide entre o povo originário, descendentes de indígenas, de portugueses e de escravos vindos da África. Vivendo nas margens do rio, este povo sobrevive da pesca e da agricultura. Mais no interior, a população é um misto de imigrantes de todo o Brasil, constituindo uma ampla variedade de culturas e religiosidades. A Igreja é configurada por paróquias formadas por Comunidades Eclesiais de Base, ou Comunidades Cristãs, que podem chegar a 100. “É uma região muito pobre economicamente, mas com gente muito firme na fé e lutadora”, garante Dom Jesus. Dentre os maiores desafios, ele cita as drogas, que a partir das pequenas cidades, invadiram totalmente o território. Com ela, a violência, a prostituição e o tráfico de pessoas, problemas cuja solução implicaria um grande esforço de toda a sociedade e do Estado. “No dia a dia, crianças de 12 anos já estão submetidas ao contato cotidiano com as drogas”, denuncia o Bispo, lamentando que no entanto, sua região está abandonada pelo Estado. Não há estruturas, como estradas e pontes, que poderiam ajudar no transporte, atualmente baseado exclusivamente nos rios. Além disso, falta emprego para os jovens, que depois de estudar, se encontram obrigados a migrar para cidades maiores.
Esperançoso, Dom Jesus deposita neste Encontro grandes expectativas para os 25 milhões de habitantes da Amazônia.
Cristiane Murray, de Manaus.
Fonte: Rádio Vaticano