Confissão como meio de viver a caridade

Publicado em 09/04/2014 | Categoria: Notícias |


 Confissão: reconciliação com Deus, com a comunidade e conosco.


Confissão: reconciliação com Deus, com a comunidade e conosco.

 O perdão nos restitui a amizade de Deus, a sua graça em nós, dando-nos a verdadeira paz interior.

 

 

Por Dom Orani João Tempesta*

 

O Sacramento da Reconciliação também pode ser chamado de Penitência ou Confissão. Por este sacramento, o cristão recebe da misericórdia de Deus o perdão de seus pecados e, ao mesmo tempo, é reconciliado com a Igreja, à qual feriu com o pecado.

 

Tivemos o evento “24 horas para o Senhor”, organizado pelo Pontifício Conselho para a promoção da nova evangelização e aberto pelo papa Francisco em Roma. Tempo para oração, adoração, pregação e confissão. Agora é tempo dos “mutirões de confissões”, quando um grupo de padres da mesma forania ou região atende os fiéis em uma paróquia, dando oportunidade de confessores para distribuir a misericórdia de Deus.

O pecado é uma ofensa a Deus; somente Ele pode perdoá-lo! Jesus, que é Deus bendito, tem o poder de perdoar os pecados: “O Filho do homem tem o poder de perdoar os pecados sobre a terra” (Mc 2,10). Este poder Ele concedeu à Igreja, para que o exerça em seu nome: “Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo por Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação” (2Cor 5,18); “O que ligares na terra será ligado no céu, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19); “Em verdade vos digo: tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu” (Mt 18,18).

As passagens acima citadas são claras: o Cristo, único que pode perdoar os pecados, Deus deu à sua Igreja o poder de perdoar os pecados em Seu nome! Ligar, desligar significa, na linguagem rabínica do tempo de Jesus, excluir da comunhão com Deus e com a comunidade e acolher novamente na comunhão com Deus e a Igreja. Vale a pena ainda citar Jo 20,22s: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes, ser-lhes-ão retidos”. Na potência do Espírito do Cristo ressuscitado, a Igreja continua a obra do Senhor Jesus de perdoar, em seu nome, os pecados. Aparece, portanto, com clareza, que a Igreja recebeu esta autoridade por parte do próprio Cristo.

Podemos perguntar: qual o remédio para o pecado? A resposta é uma só: uma contínua conversão pela penitência. A penitência são as atitudes e gestos que revelam a mudança interior, a conversão do coração. O Catecismo da Igreja Católica explica que “a conversão interior impele à expressão exterior com gestos e sinais visíveis, gestos e sinais de penitência” (n. 1430). E o Catecismo completa, de modo muito preciso: “A penitência interior é uma radical reorientação de toda a vida, um retorno, uma conversão a Deus com todo o coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal, juntamente com a reprovação das más ações que cometemos” (n. 1421).

Observe-se bem que: quando falamos de sacramento da Penitência, estamos falando de uma profunda atitude de penitência! É que não tem sentido o sacramento sem a atitude interior; de nada adianta confessar-se sem o sincero sentido do pecado e o firme propósito de conversão! Desde já vai aparecendo claro que o Sacramento da Penitência insere-se numa atitude mais ampla de volta a Deus e no profundo sentido existencial de que somos pecadores. Como diz o Salmista: “Um coração despedaçado e triturado, ó Deus, não rejeitarás! Cria em mim um coração puro, ó Deus; enraíza em mim um espírito novo” (Sl 51,19.12).

Recordemo-nos que o pecado é uma ruptura da comunhão com Deus que nos desarruma interiormente e nos faz também romper com os irmãos na fé. O pecado provoca sempre uma ferida não só em nós mesmos, mas também em todo o Corpo de Cristo, que é a Igreja: eu me torno um membro ferido do Corpo de Cristo, prejudicando todo o Corpo do Senhor.

Assim, o perdão nos restitui a amizade de Deus, a sua graça em nós, dando-nos a verdadeira paz interior, sendo uma verdadeira ressurreição espiritual. É importante notar que essa paz é dada mesmo quando eu não a sinto de modo sensível. Não se trata de sentimentos, mas da realidade do Sacramento, que é ação de Cristo e da Igreja.

O Sacramento também nos reconcilia com a Igreja, comunhão dos irmãos em Cristo, de quem o pecado nos separa. Assim, eu me torno mais forte, pois novamente estou em comunhão com meus irmãos e com a vida da Igreja, que é dada na Palavra do Senhor e nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia. É importante notar ainda que a Reconciliação fortalece também a Igreja, pois cada membro seu que é curado de seu pecado fortalece todo o Corpo de Cristo.

Nenhum pecado e nenhuma graça são totalmente individuais, mas têm repercussão na Igreja toda!

A Reconciliação é também, em certo sentido, uma antecipação do juízo do Senhor, dando-me a oportunidade de escolher entre a vida e a morte já, agora! Além do mais, ajuda-me muitíssimo a que me mantenha unido ao Senhor pela atenção da minha consciência, pelo cuidado em vigiar para não mais pecar. O sacramento deixa-me mais forte no combate contra o pecado e minhas más tendências!

A Igreja pede que pelo menos uma vez ao ano, na Páscoa do Senhor, nos confessemos e comunguemos. Aqui, é necessário deixar bem claro que isto é o mínimo que se pede! Quem ama não dá o mínimo; procura dar o máximo. Assim, o Sacramento da Confissão é um meio de caridade, pois, através deste chegamos a reconciliar com Deus, com a comunidade e conosco mesmo. Isso é de suma importância para a caminhada cristã e para o nosso processo de conversão.

Por isso, eis que, como pastor, recomendo a todos neste tempo quaresmal a se aproximarem dos confessionários para receber as bênçãos de Deus.

CNBB, 07-04-2014.

*Dom Orani João Tempesta é cardeal e arcebispo do Rio de Janeiro (RJ).

 

 

Fonte: Dom Total



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