Dar sentido ao mundo
No desapego dos bens, conduzimos tudo à redenção. A pobreza do Cristo o fez Redentor.
Por Padre Luiz Carlos de Oliveira
No mês de agosto refletimos sobre as vocações. Um dos temas é a vocação religiosa na vivência dos votos de pobreza, castidade e obediência. Somente sendo pobres é que os religiosos podem abrir o coração (castidade) e se colocarem a serviço (obediência). Trata-se de sair de si para conhecer mais o Senhor e viver para os necessitados.
A razão de ser religioso, entre outras, é ser testemunhas para o povo de Deus das realidades futuras, de modo particular para os leigos. Leigo não é aquele que não entende do assunto, mas o que não faz parte do clero ou dos consagrados.
Ser testemunha é viver já agora o que se espera. Se não faz isso, não se cumpre a missão. Na história da espiritualidade aconteceu que eclesiásticos e religiosos passaram a ser o modelo acabado de santidade.
Os leigos eram considerados de nível espiritual inferior. Com isso que era difícil a vida de santidade no mundo. Não é ser religioso ou padre que santifica, mas a opção pelo Evangelho. Temos que compreender que os leigos são cristãos de primeira categoria.
O Concílio acentuou a santidade do povo de Deus. Há um modo próprio de os leigos viverem a santidade. Vivem a pobreza quando não transformam a riqueza como sua única preocupação, mas enriquecem os outros praticando a caridade, colocando suas capacidades para que os bens do mundo se desenvolvam e todos sejam beneficiados.
Nem muito ricos, nem muito pobres. Os bens se multiplicarão na medida em que foram partilhados. A pobreza dos leigos é santificar o mundo. Santificar não é jogar água benta, mas conduzir as realidades o bem da vida de todos. Deste modo os leigos participam da obra criadora de Deus: “Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a” (Gn 1,28). Dominar significa conquistar para todos e para a glória de Deus.
Condutores do universo
Falar de pobreza, não quer dizer por a mão no bolso, mas sim, por as mãos na grande consagração do universo e em sua destinação primeira que é, como nos ensina Jesus, estar a serviço.
O mundo é o altar de Deus onde se sacrificam as vítimas espirituais. Este sacerdócio é exercido através das boas obras. Paulo ensina: “Exorto-vos a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12,1).
O corpo, nossa carne, está unido a toda a criação. O texto de Paulo sobre a libertação do universo (Rm 8,20-22) ensina que o ser humano é o sacerdote que conduz o mundo à união a Deus. Todas as coisas participam da função de dar glória a Deus. O pão e o vinho são natureza criada e se transformam, pelo Espírito, no Corpo e sangue de Cristo. No desapego dos bens, conduzimos tudo à redenção. A pobreza do Cristo o fez Redentor.
Em nome de Deus
No mistério da pobreza que é a ação de Deus que nos une a Cristo pobre, agimos em nome de Deus Pai, pois nos confiou este universo. Podemos pensar que somos um nada e o mundo é imenso. Como ousamos exercer essa função? Para Deus não existe nada pequeno nem grande. Deus se manifestou na pequenez de Cristo.
A missão de conduzir o mundo a Deus só existe quando nos fazemos pequenos e despojados, mesmo tendo bens. Por mais que resolvamos todos os males da pobreza social, a pobreza mística continua sendo a vida de todo o homem e mulher. É preciso ser rico com a pobreza de Cristo que redimiu o universo.
Esta é nossa rica missão: ser pobres para Deus. A santidade é aberta a todos. Todos podem ser santos, cada um na sua condição, diz Santo Afonso.
Fonte: Dom Total