Editorial: O desejo de paz
Depois do sonho de paz, o pesadelo da guerra, que traz morte e destruição. O mundo está seguindo com apreensão o que está ocorrendo na Terra que todos nós chamamos de Santa, entre Israel e Hamas. Para entender um pouco o que está acontecendo naquela parte do Oriente Médio, podemos sintetizar desta maneira: O Exército de Israel lançou no último dia 8 a denominada Operação Margem de Proteção contra a Faixa de Gaza, território controlado pelo grupo militante Hamas, em uma ofensiva que já causou a morte de mais de 270 e de dois israelenses. Israel justifica a ação afirmando que seu objetivo é destruir as capacidades militares de Hamas e impedir o lançamento de foguetes contra o seu território.
A atual onda de violência foi precedida pelo aumento da tensão entre os dois lados com a morte de três adolescentes israelenses na Cisjordânia e, posteriormente, com a morte de um jovem palestino. A Organização das Nações Unidas estima que mais de três quartos dos mortos sejam civis. Cerca de 2.000 os feridos.
Mas o conflito está se intensificando ainda mais com o contínuo lançamento de foguetes por parte de Hamas, de um lado, e de outro com a decisão de Israel de usar tropas de terra contra os militantes palestinos.
A situação no Oriente Médio é motivo de grande preocupação. Enquanto a diplomacia internacional trabalha por um cessar-fogo, a hipótese foi descartada nos dias passados pelo premier israelense, Benjamin Netanyahu. Ele afirmou que uma trégua com Hamas “não está na agenda”.
Não há dúvidas de que o momento é de grande preocupação, porque o que aconteceu nos últimos dias trouxe novas preocupações à situação complexa que já existia. É preciso bom senso e do senso de limite, disse o Núncio Apostólico em Israel e Delegado apostólico para Jerusalém e Palestina, Dom Giuseppe Lazzarotto, referindo-se principalmente aos políticos que devem tomar as decisões. De outra parte, é preciso coragem, como disse o Papa Francisco em tantas ocasiões e continua a repetir: a paz necessita de gestos corajosos, senão, torna-se difícil parar uma situação de conflito, que tende a aumentar.
São necessários gestos concretos e práticos de paz, como ensina o Papa Francisco. Como o grande gesto que ele fez ao convidar os dois presidentes a rezarem juntos, a refletirem juntos, para dar uma mensagem forte. O que aconteceu nos jardins do Vaticano, com o encontro dos líderes palestino e israelense não pode ser esquecido. Não é verdade que foi esquecido, que não serviu para nada. Foram gestos fortes, mensagens fortes que devem sempre estar presentes e devem ser consideradas como pontos de referência, porque esta é a estrada que deve ser seguida.
Também os Ordinários Católicos da Terra Santa expressaram o desejo do fim à violência, “mas não se pode deixar de notar – afirmam – o recurso constante a uma linguagem que pede punições coletivas e vingança, impedindo assim o surgimento de qualquer alternativa”. Os prelados recordam que muitos políticos jogam óleo no fogo com palavras e atos que alimentam o conflito sem entrar em um processo de diálogo.
Os Ordinários da Terra Santa afirmam que não se pode instrumentalizar “o seqüestro e o assassinato a sangue frio dos três jovens israelenses e a vingança brutal em relação ao jovem palestino”, para exigir uma punição coletiva contra o povo palestino na sua totalidade e contra o seu legítimo desejo de serem livres; é um trágico aproveitamento da tragédia e assim se promove mais violência e ódio.
Como disse o Papa Francisco para fazer a paz é preciso muito mais coragem do que para fazer a guerra. “É preciso coragem para dizer sim ao encontro e não ao conflito; sim ao diálogo e não à violência”. Por todos os lados há guerras e rumores de guerra. Que fazer? Em quem confiar? A quem recorrer?”
Os dois povos – israelense e palestino – disse o Francisco durante a sua visita a Jerusalém desejam ardentemente a paz. As lágrimas das mães sobre os seus filhos estão ainda marcadas nos nossos corações. Nós devemos pôr um fim aos gritos, à violência, ao conflito. Nós todos temos necessidade de paz. Paz entre iguais.
A alegria e o otimismo provocados com a visita de Francisco estão perdendo terreno para a tristeza e o pessimismo ao ver reascender um conflito sem fim que incute nas novas gerações o mesmo espírito de violência e de intolerância.
A unidade prevalece sobre o conflito e o tempo é superior ao espaço escreveu o Papa Francisco na sua Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”: parece ser essa uma máxima importante para os desafios da paz no Oriente Médio e no mundo.
A paz na Terra Santa, um desejo, uma prece e uma intenção, que levaram o Papa Francisco a dinamizar apelos e momentos que marcaram nas últimas semanas a atividade da Santa Sé. “A violência gera violência”, israelenses e palestinos devem se reconhecer como irmãos; é preciso uma mudança radical nos gestos e nos corações. (Silvonei José)
Fonte: Rádio Vaticano