Em Roma, já se fala do próximo papa
E quem seria o candidato?
Por Mirticeli Dias de Medeiros*
Ad multus annos, Sancte Pater! Este, sem dúvida, é o desejo de muitos católicos e não católicos quando pensam em Francisco, o papa argentino que se sente confortável quando chamado de “papa revolucionário”. Este ano, o atual pontífice completará 82 anos e as deduções sobre quem o substituiria, caso um conclave fosse convocado hoje, começam a entrar em cena. Os nomes dos cardeais Robert Sarah (guineense) e Luis Antonio Gokim Tagle (filipino) estão na boca do povo, porém, por enquanto, ainda longe de serem cotados para a lista de papáveis sobre a qual os vaticanistas lançam suas apostas. O primeiro, o atual prefeito da congregação para o culto divino, por agradar aqueles que não se conformam com a renúncia de Bento XVI e ainda alimentam a esperança de um revivalratzingeriano. O segundo, o presidente da Cáritas internacional, por ser um fiel escudeiro de Francisco e jovem o suficiente para conduzir um papado longo, como nos tempos de João Paulo II. Mas que tipo de papa, se pensarmos no impacto que Francisco tem causado, se adequaria perfeitamente aos anseios da Igreja e a essa eclesiologia poliédrica promovida por Francisco, a qual, na visão de analistas, é praticamente um caminho sem volta?
No fim das contas, a eleição do papa é orientada por uma série de fatores que fogem um pouco da compreensão de um católico comum. Nas congregações gerais que antecedem o conclave, por exemplo, tudo pode mudar. Até o início do século XX, alguns soberanos possuiam o ius exclusivae sobre o conclave – ou seja, direito de veto – que dava-lhes a possibilidade de impedir que um cardeal que não correspondesse aos interesses da coroa pudesse ser eleito. Apesar da Igreja Católica nunca ter reconhecido formalmente tal prática, não se opunha a tais decisões, sobretudo se os solicitantes em questão fossem aliados ao estado pontifício. Quem pôs fim a esse tipo de interferência por parte do poder laical foi Pio X, através da bula Comissum nobis, em 1904. Os conclaves atuais, por sua vez, sempre se orientam sobre um nome que seja capaz de manter a credibilidade da instituição. Desde o tratado de Latrão, de 1929, responsável por restaurar a soberania pontifícia – em partes -, é essa a grande preocupação, muito mais que corresponder aos anseios dos “blocos”.
No conclave de 2005, seria muito traumático eleger alguém que não estivesse alinhado ao governo de João Paulo II, e é por isso que optou-se por Joseph Ratzinger, o braço direito do papa polonês à época. É de praxe que, depois de um papado longo, evitem-se mudanças bruscas e prefira-se alguém que conduza um papado de transição. Já em relação ao de 2013, era esperado um sucessor de Pedro outsider, capaz de corresponder ao sentimento anti curial que imperava entre os membros do colégio cardinalício. Certamente, não elegeriam um “curial bertoniano”, sobretudo após a tempestade ocasionada pelo Vatileaks. Apesar da idade, nunca se pensou em Francisco como condutor de um papado de transição, mas alguém que pudesse revigorar a imagem do papado. E, como vimos, bingo!
O nome do atual secretário de estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, o homem tido como aquele capaz de aliviar as tensões partidárias entre os “blocos”, vai ganhando força entre os cardeais eleitores. Considerado um dos melhores secretários de estado que a Santa Sé já teve nos últimos tempos, a sua carreira diplomática só faz aumentar a chance dele se tornar um papável em potencial conforme o tempo for passando. Durante o pontificado de João Paulo II, ele foi subsecretário da seção para a relação com os estados, sendo responsável pelo diálogo entre a Santa Sé e alguns países asiáticos, entre os quais China e Vietnam. Em 2013, quando convocado a Roma para auxiliar o papa Francisco, era núncio da Venezuela, cargo que assumiu em 2009, durante o governo de Hugo Chávez. Além disso, ele reúne em si duas características imprescindíveis para o cargo: possui uma sólida formação teológica e é considerado um “prelado-pastor”, algo que certamente será levado em consideração na hora de escolher quem deverá ocupar a cátedra de Pedro após Francisco. Uma coisa é certa: cada vez mais cresce a chance de que o próximo papa será alguém neutro e, ao mesmo tempo, diplomático o suficiente para quebrar essa dicotomia entre ratzingerianos e bergoglianos.
*Mirticeli Dias de Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre primordialmente o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália, sendo uma das poucas jornalistas brasileiras credenciadas como vaticanista junto à Sala de Imprensa da Santa Sé.
Fonte : Dom Total