Excomungado!

Publicado em 15/05/2013 | Categoria: Notícias |



É destaque na mídia a excomunhão de um padre em Bauru, interior de São Paulo. No Fantástico da Rede Globo o assunto mereceu espaço nobre, com entrevistas tanto do padre quanto do bispo responsável pelo processo.

Até onde me é possível avaliar, vi argumentos interessantes e instigantes dos dois lados.

Quem me conhece ou lê o que tenho escrito, sabe das reservas que tenho em relação à maneira como a mídia, em geral, trata a notícia. Chega às manchetes o que é espetáculo, ainda que não seja verdade. Sei, por experiência própria, que uma entrevista pode e é editada de modo a colocar em destaque uma frase impactante, aquela palavra ambígua, mesmo se fora de contexto. Para bem do ibope, quanto mais polêmica, melhor.

Neste caso, em especial, não quero ser nem ingênuo nem injusto. Até porque, sei pouco sobre o fato em si, a não ser o que foi divulgado na imprensa, o que, repito, é pouco e pouco confiável. Penso na manipulação da mídia, na falta de critério e caráter, nos interesses escandalosos por trás de uma manchete escandalosa. Mas me preocupa também o outro extremo, o outro lado que leva à absolvição ou condenação prévias, sem reflexão ou questionamentos.

Não conheço o Pe. Beto nem o Bispo de Bauru, mas se há uma coisa que a vida me ensinou é que podem ser surpreendentes os labirintos da psique humana, das nossas fragilidades, dos nossos anjos e demônios interiores. Lembro-me do caso do Rabino Sobel. Um homem com aquela estatura moral, com a biografia que tem, furtando gravatas…

Sei separar tranquilamente uma coisa da outra. Sei a diferença entre o sentir (que não controlamos) e o consentir, que é fruto da nossa liberdade. O desequilíbrio psíquico ou químico que levou Sobel àquele momento de transgressão não invalida ou anula sua história, sua vida cheia de exemplos de dignidade. Mas o fato me convida a pensar sobre nossas fragilidades pessoais e, principalmente, das nossas instituições.

Meu sentimento primeiro é acreditar que tanto o Pe. Beto, quanto o Bispo de Bauru buscam ser fiéis às suas crenças e convicções. Tendo a me inclinar a favor do padre, por ser a parte mais frágil, diante do poder da Instituição. Sei das dificuldades da Instituição em lidar com questões morais que foram viradas de cabeça para baixo da segunda metade do século passado para cá, mas a radicalização não me parece a melhor opção. E a palavra excomunhão me parece irremediavelmente e radicalmente anti-cristã. Pode até ser católica, mas não é cristã. Cristo não excomungou sequer seus carrascos. Em meio ao sofrimento atroz da cruz, foi além do perdão, inventou uma desculpa: “eles não sabem o que fazem…”.

Não sei dos passos dados até aqui, das tentativas de diálogo e conciliação, mas o que me parece é que, em nome da coerência, os dois lados chegaram a um impasse. O padre falou corajosa e abertamente da sua visão, daquilo que julga ser a leitura correta e cristã da realidade. O bispo, em nome da Igreja que representa (e da qual sou parte), demarcou os limites do aceitável, limites que, ao olhar da Instituição, foram ultrapassados de forma irremediável pelo sacerdote que, assim, não pode mais continuar o seu ministério.

Há aí, um drama humano profundo e sofrido, para ambas as partes. Mas para a mídia isso pouco importa. Para ela, o que interessa é o espetáculo escandaloso da notícia. É a velha história que corre nas redações; se um cachorro morde um homem, nada a noticiar, mas se um homem morde o cachorro…

E assim, quando a notícia vira espetáculo, quem sofre é a verdade.

Para a mídia, ficou fácil ‘colar’ na Igreja a imagem de atrasada, retrógrada, ultrapassada. Mesmo com alguns acenos de simpatia aos primeiros gestos do papa Francisco, as mancheteiros continuam atentos a um escândalo novo, um padre pedófilo, uma denúncia contra o Banco do Vaticano, um padre excomungado…

E nós, Igreja, temos parte da responsabilidade nisso. Muita sujeira foi empurrada para debaixo do tapete nos últimos tempos. E é justamente esse acobertamento dos desvios, esse corporativismo silencioso, perverso e equivocado que contribuiu para que cheguemos ao estado atual das coisas. Uma desconfiança geral foi estabelecida, agora, basta denunciar.

E o mais triste nessa história é que, uma vez estabelecida essa desconfiança prévia, formada a tal de opinião pública, um ‘discurso espontâneo’ se encarrega de repassar a notícia a partir justamente desse senso comum, infiltrado no subconsciente coletivo, injetado com estardalhaço ou em silêncio, em doses diárias, como um veneno para o qual o único antídoto seria a verdade clara e transparente à qual nem sempre temos acesso.

O episódio em questão, a excomunhão do Pe. Beto, me faz pensar nesse grande e manipulado cenário em que nos movemos. Diante dele, repito, não podemos ser ingênuos nem injustos. Não podemos condenar nem absolver previamente. Podemos e devemos, como cristãos, discípulos e seguidores de Jesus de Nazaré, amar sempre.

Essa é a verdade que nos libertará: no amor, perdoar, restaurar, reconstruir, reedificar.

Nunca excomungar.

Autor: Eduardo Machado

Fonte: Amai-vos



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