Exercícios espirituais: jamais dividir oração e caridade

Publicado em 06/03/2017 | Categoria: Notícias Papa Francisco |


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Os Exercícios espirituais para o Papa e a Cúria Romana prosseguiram na tarde desta segunda-feira (06/03) em Ariccia – nas proximidades de Roma – com a segunda meditação dedicada ao tema: “As últimas palavras de Jesus e o início da Paixão” no Evangelho segundo São Mateus.

 

Tendo na parte da manhã proposto a primeira meditação partindo da “confissão de Pedro e o caminho de Jesus a Jerusalém”, na parte da tarde o pregador franciscano, Pe. Giulio Michelini, recordou a importância de conjugar ajuda aos pobres e oração.

“Concluídos todos os discursos”, Jesus anuncia que será entregue para ser crucificado. O trecho do Evangelho segundo São Mateus do qual parte a meditação vespertina deu a oportunidade ao frade menor de deter-se sobre o silêncio de Jesus diante dos opositores, característico da Paixão.

O silêncio de Jesus na Paixão e os silêncios que, ao invés, não deveriam existir

Efetivamente, podemos dizer que em alguns momentos as palavras não servem, como quando os interlocutores são potenciais antagonistas ou o poder não permite pronunciá-las, ressaltou o pregador.

Também São Francisco de Assis diz aos frades que estejam entre os infiéis de dois modos: anunciando o Evangelho, se podem, ou então, com a sua simples presença vivificante.

Aliás, às vezes, as palavras podem prejudicar, observou, como dizia Baal Shem, rabino considerado o fundador do hassidismo moderno: “as palavras que saem dos lábios dos mestres e daqueles que rezam, mas não com um coração voltado para o céu, não sobem para o alto, mas enchem a casa de uma parede a outra e do piso ao teto”.

Por conseguinte, Jesus se cala diante de quem o considerava um blasfemo, de quem o queria destruir. É um silêncio que se rompe com um golpe de lança e o grito com o qual termina a sua existência terrena.

Existem, porém, vários tipos de silêncio, observou o franciscano: existe um silêncio rancoroso de quem medita vingança, ou mesmo o silêncio de quem, como disse Elie Wiesel, “jamais ajuda as vítimas”.

O silêncio de Jesus na Paixão é um silêncio desconcertante, desarmado e sereno. Mas para além do silêncio de Jesus, existe “o silêncio mais premente, o silêncio de Deus”. E Jesus confia Ele mesmo àquele silêncio do Pai. Portanto, é preciso perguntar-se de que tipo são os próprios silêncios:

“Pensando no silêncio de Jesus pergunto-me, em primeiro lugar, se comunico a fé somente com palavras ou se minha vida é evangelizante. Pergunto-me também de que tipo são meus silêncios, e em relação ao ofício eclesial que desempenho, se sou culpado de silêncios que não deveriam existir.”

Não salvaguardar a fachada em detrimento das pessoas

Outros personagens que aparecem neste trecho do Evangelho segundo São Mateus são Caifás, os chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, que decidem capturar Jesus, mas não durante a festa para evitar uma revolta. Não se trata de estigmatizar os judeus, porque essa atitude diz respeito a uma hierarquia religiosa que pode ser, de todas as formas, de instituição humana, explicou Pe. Michelini.

Trata-se de uma atitude que perde a justa perspectiva crendo servir a Deus. Surge, portanto, o confronto entre duas lógicas: de um lado está Jesus, um judeu observante, mas leigo que se prepara para celebrar a Páscoa, e de outro estão os sumo sacerdotes que se preparam para matar um inocente, que se preocupam com a festa no sentido da realização exterior.

A pergunta que Pe. Michelini convidou a fazer-se é se se é “profissional do sacro” cedendo a pactos para salvaguardar a fachada, a instituição, em detrimento dos direitos das pessoas.

A mulher que unge a cabeça de Jesus e os pobres

Logo em seguida, o Evangelho propõe as unção de Betânia: uma mulher derrama perfume precioso na cabeça de Jesus. A cena é descrita por todos os quatro Evangelhos, embora com algumas diferenças. Jesus defende essa mulher que parece ser a única que percebe o que está para acontecer com Jesus, e faz um gesto fortemente simbólico.

A unção é unção real, mas pode ser interpretada também como uma unção fúnebre. Jesus louva o gesto daquela mulher e rejeita os argumentos de quem diz que o dinheiro gasto com aquele perfume caro poderia ser dado aos pobres porque, como recorda Sergio Quinzio, aquele era o momento para servir Jesus.

Em seguida, Pe. Michelini recordou os tantos pobres: aqueles que não participam das liturgias porque anciãos ou doentes, aqueles que batem em nossas portas pedindo apenas para ser ouvidos:

“São muitos os que não têm coragem de bater em nossas portas, e até aos quais devemos ir. Se somos sinceros e olhamos para dentro de nós, não podemos deixar de colocar-nos também nós entre aqueles pobres: no fundo cada um é um pobre para o outro. As palavras de Jesus dizem que a sua missão não termina com a sua existência histórica, e, efetivamente, continua com o compromisso da comunidade crente em prol de todos os pobres, nós inclusive.”

Amar Deus e o próximo

O pregador dos Exercícios espirituais concluiu com uma exortação a manter juntos o amor a Deus e o amor ao próximo:

“Pergunto-me se escolho somente uma parte – aquela que me é mais congenial, ou aquela mais ‘fácil’, e, portanto, coloco-me a ungir os pés de Jesus, talvez com a liturgia, a oração, deixando de lado os pobres, ou mesmo me dedico aos pobres, mas esqueço de rezar e honrar Jesus. Consigo manter juntos o amor a Deus e o amor ao próximo?” (RL / DD)

O Retiro na parte da manhã, desta segunda, dia 6

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Exercícios espirituais: aceitar seguir Jesus e carregar a própria cruz

 

Ouço a voz do Senhor, que fala de modo humilde, ou coloco meu interesse pessoal acima do Reino de Deus? Na manhã desta segunda-feira (06/03), na primeira meditação dos Exercícios espirituais proposta ao Papa Francisco e à Cúria Romana, Pe. Giulio Michelini exortou os 74 presentes a se fazerem algumas perguntas sobre a própria vida espiritual.

 

“A confissão de Pedro e o caminho de Jesus para Jerusalém” no Evangelho segundo São Mateus são o ponto de partida da meditação desta segunda-feira. Na tarde de domingo foi feita a introdução dos Exercícios espirituais, que se realizam até esta sexta-feira (10/06) na localidade de Ariccia, nas proximidades de Roma.

Os Exercícios espirituais são marcados pela Liturgia das Horas e pelas duas meditações diárias, que passam da interpretação dos textos ao desdobramento existencial. Jesus tomava suas decisões na oração, não através de sonhos ou magos, como, ao invés, fazia Alexandre Magno, segundo nos relata Plutarco. Pe. Michelini exortou os presentes a se perguntarem como tomam as decisões importantes da própria vida:

“Faço discernimento baseado em qual critério? Decido impulsivamente, deixo-me levar por aquilo que é habitual, coloco a mim mesmo e meu interesse pessoal acima do Reino de Deus? Ouço a voz de Deus, que fala de modo humilde?”

Pedro e a tradição rabínica sobre a voz de Deus através dos pequenos: a humildade de ouvir-nos

Em seguida, Pe. Michelini se concentrou na figura de Pedro e na tradição rabínica. Mediante revelação, Pedro reconhece que Jesus é o Messias. Daí, o religioso franciscano sugere que o Pai tenha falado não somente por meio do Filho, mas tenha falado ao Filho, Jesus, também através de Pedro. É Jesus que revela pouco a pouco a sua vocação, mas realiza gestos também porque é solicitado por outros.

Na vida de Jesus de Nazaré é deixado muito espaço aos encontros, que incidem na sua missão. Segundo a tradição rabínica, com o fim da grande profecia, se considerava que Deus continuasse falando de modos muito humildes, como por exemplo mediante a voz das crianças e dos loucos.

Com uma comunicação parecida com o sussurro de um vento leve como se deu com o profeta Elias no monte Horebe. E Pe. Michelini ofereceu aos presentes outra ocasião de reflexão:

“Tenho a humildade de ouvir Pedro? Temos a humildade de ouvir-nos uns aos outros, estando atentos aos preconceitos ou às pré-leituras que certamente temos, mas atentos a colher aquilo que Deus quer dizer apesar – talvez – dos meus fechamentos? Ouvir a voz dos outros, talvez frágil, ou escuto somente a minha voz?”

Aceitar seguir Jesus e carregar a própria cruz

Em seguida, o pregador dos Exercícios espirituais deteve-se sobre a interpretação daqueles estudiosos que consideram que Jesus soubesse o que estava para acontecer. No Evangelho segundo Mateus se diz que Jesus se retirava, um verbo que no grego antigo indicava a retirada dos exércitos diante de uma derrota ou de um perigo.

Também Jesus parece retirar-se diante da notícia da prisão do Batista e quando sabe que os fariseus querem matá-lo, mas todas essas retiradas são estratégicas, ressaltou Pe. Michelini, não são para deter-se: após ter-se retirado, Jesus faz coisas concretas, isto é, começa a anunciar o Reino e a curar os doentes.

Entre as muitas referências que enriqueceram a meditação do frade menor, encontra-se a que fez a Hanna Arendt, que falava da banalidade do mal, em referência a como os hierarcas nazistas falavam das atrocidades por eles cometidas.

Tal alusão foi feita para referir-se à ferocidade com a qual foi perpetrado o assassinato de João Batista após o pedido de Herodíades.

Aludiu também ao rabino Hillel, para ressaltar que Jesus continua a missão assumindo sempre novas responsabilidade até a que o levará a Jerusalém. Daí, o ponto de agarra para a última reflexão:

“Pergunto-me se tenho a coragem de caminhar até o fim para seguir Jesus Cristo, levando em consideração que isso comporta levar a cruz, como Ele disse, anunciando a ressurreição, a alegria, mas também a provação: ‘Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me’.” (RL/ DD)

Fonte: Rádio Vaticano



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