Festa no céu de na Terra
Quando morre alguém, é comum ouvirmos dizer coisas do tipo: “Hoje o céu está em festa!” ou “Chegou quem faltava para completar a festa!” Devo confessar que esses comentários às vezes me incomodam: quero que a festa continue sendo aqui com a presença daqueles queridos que se partem. Nessas ocasiões, não sinto qualquer alegria pela partida do outro; ao contrário, como me alegrar sabendo que não verei mais o rosto amado ou terei a presença amiga? São vezes em que penso que no céu deve ser sempre festa e então Deus bem que poderia deixar-nos continuar a nossa aqui na terra também…
Egoísmo puro de minha parte, é certo! Então, confesso também que (por pura graça de Deus!) é um sentimento que me toma apenas momentaneamente. A festa do céu também não está completa: qual Pai não desejaria ter todos os seus filhos juntos em uma mesma comemoração? Mais: quem sou eu para negar aos meus irmãos as alegrias da vida plena prometida pelo Senhor?
Não passamos pela vida sem sofrermos perdas… há aquelas que são precoces, outras acontecem mais tarde, já na maturidade. Mas, sempre acontecerão. Algumas pessoas são incapazes de superá-las, outras encontram na dor o motivo para assumir uma missão maior e, outras ainda, fazem da ocasião da morte, a oportunidade para testemunhar sua fé. Perder alguém querido é doloroso e é lícito que soframos e nos entristeçamos por isso – Não foi tristeza o que o próprio Jesus sentiu pela perda do amigo Lázaro?
Mas, penso que a nossa fé na vida eterna e na ressurreição prometida pelo Pai é precedida pela experiência da comunhão dos santos. Talvez esta seja a graça que mais nos aproxima da plenitude das promessas de Deus. Acreditar que vivemos todos – vivos e mortos – já uma mesma vida: uns em carne, ossos e limitações; outros, em espírito, mas atuantes junto ao Pai e junto a nós. São aqueles que mesmo não visíveis permanecem conosco em lembranças, em valores aprendidos, em sentimentos deixados e naquilo que nos constitui simplesmente porque um dia conviveram conosco.
Viver a comunhão dos santos é um aprendizado: aprender a conviver com a saudade, aprender a conviver com o vazio do outro, aprender a ver que o outro continua a nos completar mesmo que não presente, mas nos completa pelo que nos deixou, pelo que nos amou, pelo o que foi trocado de bom, de alegria. Aprendemos a ver essa presença quando a saudade deixa de ser vazia e passa a ser preenchida por um amor que completa a nossa alma, que nos dá força para continuar e que nos faz entender que nossa presença aqui nesta Terra ainda é necessária para muitos e muitas. Quando não o for mais, aí sim, partiremos.
Portanto, que a Celebração de Finados possa renovar em nós saudades e alegrias, dores e consolações, sempre na certeza de que a vida prometida, aos olhos de que têm fé, é plena e eterna.
Autor: Gilda Carvalho
Fonte: Amai-vos