Frei Chico lança primeiro dicionário de religiosidade popular
Das benzedeiras aos cordelistas, obra publicada pela editora Nossa Cultura desvenda o universo religioso popular.
Será lançado nesta quarta-feira (21), na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em Brasília, o “Dicionário da Religiosidade Popular”. De autoria de Frei Chico, o livro é o primeiro dicionário religioso do mundo, com informações sobre manifestações religiosas dos lugares mais remotos do país.
Título de grande destaque nacional pelo pioneirismo, a obra, publicada pela editora Nossa Cultura, apresenta uma densa pesquisa realizada pelo autor durante mais de 40 anos. Nela, são trazidas as rezas, saberes populares, descrições de festas e demais experiências religiosas do povo.
De forma abrangente e sem estigmas ou preconceitos, são trazidas para as páginas do livro a experiência religiosa das camadas pobres do país, praticamente desconhecidas até então. Da “espinhela caída” aos cordéis e cânticos, a obra busca trazer manifestações religiosas de todas as religiões e crenças, além das origens, significados e descrições.
“A obra não se limita ao registro dos séculos XX e XXI, mas vai também a fontes históricas do passado, buscando tornar explícitos comportamentos e mentalidades que hoje fluem com circularidade, sempre em transformação, por to¬dos os segmentos sociais da nossa população” define Lélia Coelho Frota, curadora e crítica de arte, autora do texto de apresentação da obra.
Os registros e pesquisas começaram quando Frei Chico foi viver no Vale do Jequitinhonha, região nordeste de Minas Gerais, e ficou lá por dez anos, entre 1968 e 1978. O contato direto estabelecido, a partir de então, despertou o interesse e a atenção do autor, que iniciou o processo de coleta de informações e aprofundamento.
“O Jequitinhonha mudou o meu modo de pensar sobre a verdadeira religião: aprendi que quem pretende entender a religiosidade popular e ter o direito de explicar seus significados há de se tornar simples com os simples e pobre com os pobres” afirma Frei Chico.
Em busca de um “pensamento redondo”, o autor se preocupou em trazer também as influências dos povos migratórios como africanos, indígenas, portugueses, entre outros. Também há uma vasta consultoria com especialistas nas mais diversas áreas, como economia, cinema, medicina popular e folclore.
Muito além de um dicionário, a obra traz outros ângulos, algumas vezes ignorados ou desconhecidos da fé do povo brasileiro. Para isso, trabalha com manifestações de todas as religiões, ubanda, católica, evangélica ou qualquer outra. Como também, em determinados momentos, trata dos problemas causados pela opressora desigualdade social que assola o país há séculos.
“O ‘popular’ da religiosidade do povo brasileiro não é enquadrado aqui apenas em sua dimensão mais ‘tradicionalmente’ folclórica. Seria fácil fazer assim”, argumenta Carlos Rodrigues Brandão, doutor em ciências sociais pela USP e autor do texto Um mundo posto no livro, publicado na introdução do livro.
O Dicionário da Religiosidade Popular não vem para definir ou finalizar o assunto, mas sim, para incentivar o aprofundamento e, ao mesmo tempo, promover a cultura popular. Com linguagem simples e fácil, a obra traz os mais variados pontos de vista quando convida o leitor a conhecer e divulgar a religiosidade popular brasileira.
Sobre o autor
Francisco van der Poel, franciscano, membro do corpo docente do Instituto Jung, em Belo Horizonte (MG); do Conselho do Centro da Memória da Medicina, na UFMG; do corpo docente do Instituto Santo Tomás de Aquino, de teologia; da Comissão Mineira do Folclore; do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais; da Ordem dos Músicos do Brasil; formado em Teologia, na Holanda; licenciado em Filosofia, em São João del Rei (MG); publicou seis livros; é palhaço do Teatro Terceira Margem, em Belo Horizonte.
Fonte: Dom Total