Igreja e comunicação
Salta aos olhos o duplo fato da relevância do tema e da sua dificuldade no campo católico, apesar dos enormes esforços feitos nos últimos anos. Evidentemente não vale a comparação com outras instituições, cujo extraordinário sucesso se deve frequentemente ao uso de meios eticamente duvidosos, para não dizer mais. No entanto, isso não justifica certo atraso da Igreja.
O Concílio Vaticano II percebera a importância, mas produziu documento pouco inspirador. Revelou a inapetência eclesial nesse setor, visto com reservas e desconfiança, como uma das maiores fontes dos males da atual sociedade.
A Igreja do Brasil preocupa-se com a espiritualidade e formação do comunicador cristão, com os fundamentos éticos da comunicação e com a forma como a Igreja a tem usado.
O protagonismo dos leigos merece nesse setor especial atenção. E talvez aí resida o futuro da presença da Igreja. Existem cristãos sérios e comprometidos que se mostram excelentes profissionais da comunicação e que estariam desejosos de prestar serviço qualificado à pastoral, quer onde estão, quer mesmo com ajudas esporádicas aos setores eclesiais. Faltam, sem dúvida, um levantamento detalhado dessas pessoas e um contacto objetivo a fim de traçarem-se estratégias de ação.
Com o crescimento vertiginoso das “relações virtuais”, a presença da Igreja nesse mundo faz-se necessária, não na ilusão de suprir o trabalho de evangelização da comunidade, mas como ponto de provocação a fim de despertar o interesse pela fé. A fé cristã, essencialmente comunitária, se transmite e se vive em comunidade. As “relações virtuais” abrem vias inusitadas de acesso à Igreja, mas devem ser orientadas para a entrada na comunidade de fé.
O entusiasmo de poder atingir milhões e milhões de pessoas pela imagem justifica-se no sentido de “proclamar sobre os telhados” (Mt 10, 27) os arcanos de Deus. Além disso, o universo da mídia está a pedir mudança profunda na linguagem de nossa comunicação. Significa o sepultamento definitivo do discurso moralista barato que encheu no passado os púlpitos e ainda frequenta certos sermões. Uma jovem adolescente explicava sua não-frequência às celebrações litúrgicas, porque saía deprimida depois de ouvir certas homilias. Por isso, lá não voltou.
A mídia impacta as pessoas. Habituou o espectador a fortes sentimentos que se sucedem em rapidez vertiginosa. A lentidão enfadonha de muitas das celebrações enervam a geração jovem, acostumada à beleza, ao jogo das emoções, a um tipo de participação viva. O tema está aí jogado com provocante relevância à espera de novos rumos para a pastoral da comunicação.
João Batista Libanio
João Batista Libanio é teólogo jesuíta. Licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana (Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte. Publicou mais de noventa livros entre os de autoria própria (36) e em colaboração (56), e centenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Internacionalmente reconhecido como um dos teólogos da Libertação.
Fonte: Dom Total