Jesus é tentado no deserto
Liturgia da Missa
Reflexão sobre a Mesa da Palavra
Primeiro Domingo da Quaresma – Ano A
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Chegamos ao tempo da Quaresma. Período de maior recolhimento onde caminharemos com Jesus durante seu sofrimento até a morte na sexta-feira santa. Tempo no qual cada um de nós é convidado a visitar o seu deserto, que como o de Jesus, mais do que um local físico é um espaço interior para um encontro mais profundo consigo mesmo. Não apenas para se conhecer melhor, ou se autojustificar, mas para verificar as coisas que no mais profundo do coração estão necessitadas de conversão. A vida vai passando muito rápida. Estamos todos cheios de muitos afazeres e ao mesmo tempo nos sentindo com espaços vazios dentro de nós. Na Quaresma a Liturgia nos oferece essa oportunidade de nos retirarmos para o nosso “deserto” e nele darmos uma parada existencial para checagem da rota que seguimos. Verificar se ela está apontada para o nosso princípio e fim, Deus. Jesus também sente essa necessidade e por isso vai ao deserto. Nele é tentado, conforme nos mostra Mateus nesse domingo. Sabemos que os Evangelhos são construções elaboradas teologicamente. Não são simples descrições de fatos. Lê-los de maneira literal irá nos levar a enganos e a grande fundamentalismo. Nesse sentido simbólico é que também entenderemos os números. Por isso que ninguém vá pensar que Jesus esteve exatos quarenta dias no deserto. O sentido aí é de tempo suficiente e necessário para que aquilo que é buscado se cumpra. Além de também nos reportar dentro do Primeiro Testamento a questões chave para o Povo da Bíblia, como o dilúvio e a fuga do Egito. As três tentações, do mesmo modo, estão carregadas de simbolismo. Os evangelistas ao nos relatarem três tentações não querem dizer que Jesus somente foi tentado nesse momento da sua vida e por três vezes. Sabemos que, como também a nossa, sua vida teve da mesma maneira muitas tentações. Algumas delas terríveis como as vividas durante a semana da Paixão. A diferença fundamental é que nós caímos e Jesus se mantém sempre fiel ao Pai.As tentações do nosso Senhor no seu deserto vêm nos mostrar as maneiras principais como o ser humano é tentado. Cada um de nós sofre essas tentações básicas, bem como também as comunidades das quais somos parte. O alerta é para que as conheçamos bem e nos mantenhamos atentos para que, quando surgirem, não cedamos a elas.
A primeira tentação trata do milagre fácil, de permanecermos na alienação esperando que Deus aja e transforme a realidade. Esta é a tentação de fazer pão de pedras enquanto tantos passam fome não somente do alimento, mas também de justiça, paz, trabalho digno, reconhecimento e de tantas outras necessidades fundamentais.
A outra tentação, quando o diabo convida Jesus a se lançar do alto do Templo, tem a ver com a busca do prestígio, a super valorização da aparência que passa a valer mais do que o interior das pessoas. É a tentação da vaidade de ocultar a verdade, de manipular números e fatos, de se manter no auge porque se usa táticas não autênticas, alienantes e opressoras. Em tempos imagéticos como os atuais essa é uma tentação a qual precisamos estar muito atentos.
A última tentação é a do poder. Não o poder da influência positiva que valoriza o outro e o ajuda a crescer, mas aquele autocrático e absoluto. O poder de se sentir como um imperador que tem todos à sua disposição. Este é o poder da luxúria, do uso do próximo para se ter algum tipo de satisfação ou prazer. A tentação de dominar o outro seja pelo poder do dinheiro, do conhecimento, ou da política.
A primeira leitura vem nos mostrar o sonho do Éden. Não como lugar físico e acontecido, mas como local da esperança daquele dia em que instalado o Reino viveremos felizes nele. O Éden é a forma simbólica que o autor do Genesis usou para nos falar do projeto de Deus. Nesse programa nós falhamos. A Trindade então envia o Filho para nos dizer que a Aliança está valendo e que o paraíso é o final da história.
– Já tenho planejado como viverei o “deserto” nesses quarenta dias?
– Para qual das tentações devo ter mais atenção?
– O que tenho feito para construir o “Éden”?
1ª Leitura – Gn 2,7-9; 3,1-7
O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores de aspecto atraente e de fruto saboroso ao paladar, a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: ‘É verdade que Deus vos disse: ‘Não comereis de nenhuma das árvores do jardim?’ ‘ E a mulher respondeu à serpente: ‘Do fruto das árvores do jardim, nós podemos comer. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus nos disse: ‘Não comais dele nem sequer o toqueis, do contrário, morrereis.” A serpente disse à mulher: ‘Não, vós não morrereis. Mas Deus sabe que no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão e vós sereis como Deus conhecendo o bem e o mal’. A mulher viu que seria bom comer da árvore, pois era atraente para os olhos e desejável para se alcançar conhecimento. E colheu um fruto, comeu e deu também ao marido, que estava com ela, e ele comeu. Então, os olhos dos dois se abriram; e, vendo que estavam nus, teceram tangas para si com folhas de figueira.
2ª Leitura – Rm 5,12-19
Irmãos: Consideremos o seguinte: O pecado entrou no mundo por um só homem. Através do pecado, entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram… Na realidade, antes de ser dada a Lei, já havia pecado no mundo. Mas o pecado não pode ser imputado, quando não há lei. No entanto, a morte reinou, desde Adão até Moisés, mesmo sobre os que não pecaram como Adão, – o qual era a figura provisória daquele que devia vir -. Mas isso não quer dizer que o dom da graça de Deus seja comparável à falta de Adão! A transgressão de um só levou a multidão humana à morte, mas foi de modo bem mais superior que a graça de Deus, ou seja, o dom gratuito concedido através de um só homem, Jesus Cristo, se derramou em abundância sobre todos. Também, o dom é muito mais eficaz
do que o pecado de um só. Pois a partir de um só pecado o julgamento resultou em condenação, mas o dom da graça frutifica em justificação, a partir de inúmeras faltas. Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça. Como a falta de um só acarretou condenação para todos os homens, assim o ato de justiça de um só trouxe, para todos os homens, a justificação que dá a vida. Com efeito, como pela desobediência de um só homem a humanidade toda foi estabelecida numa situação de pecado, assim também, pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça.
Evangelho – Mt 4,1-11
Naquele tempo: o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome. Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: ‘Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!’ Mas Jesus respondeu: ‘Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’.’ Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo, e lhe disse: ‘Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’.’ Jesus lhe respondeu: ‘Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!” Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória, 9e lhe disse: ‘Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar.’ Jesus lhe disse: ‘Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto.’ Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus.