Jesus nos chama à montanha

Publicado em 15/03/2014 | Categoria: Notícias |


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Liturgia da Missa – Reflexão sobre a Mesa da Palavra

Ano A – Segundo Domingo da Quaresma 

Um grupo de jovens combinou subir à montanha. Bem cedo no domingo saíram animados começando a escalada. Nem se passara uma hora de subida e dentre eles já havia alguns desejosos de voltar. “Para que subir mais se daqui se descortina uma bela vista?” E dali mesmo deram meia volta. Passou mais um tempo de caminhada forte e íngreme. Já se sentiam todos cansados, quando chegaram num platô, de onde se avistava o próximo cume, para descansar. Uns deles então disseram. “Para que ir mais além? Fizemos um grande esforço. É mais sensato voltarmos daqui mesmo. Estamos cansados e suados. Vamos para casa”. E dali aqueles também retornaram. Só um pequeno grupo alcançou o cume. A experiência desses foi maravilhosa. Naquele silêncio imenso escutavam o murmúrio do vento e puderam refletir sobre o que Deus queria da vida de cada um deles. Seus rostos brilhavam, não por causa do suor que lhes escorria, mas sim porque estavam profundamente felizes e realizados. A satisfação era tanta e no topo estava tão bom que chegaram a pensar em morar por lá, mas um olhar sobre a planície fez com que vissem que era lá embaixo que Deus os queria.

Na primeira leitura a Palavra nos apresenta Abrão se colocando em atitude de escuta diante de Deus. Dessa maneira ele pode ouvir a sua vocação e, entregue totalmente no colo de Deus, ganha um ‘a’ no seu nome a mostrar ter sido transfigurado, deixa a sua terra e vai para o lugar que o Senhor lhe indica.

O Evangelho também nos fala do quão importante para nós é a escuta de Jesus. É a voz do próprio Pai que vem nos dizer: “Escutai-o”. Nas nossas relações com Deus costumamos falar tanto que se torna pouco, ou mesmo nenhum, aquele tempo possível para que Ele também nos diga o que tem para nós.

Também somos convidados, tanto quanto Abraão na primeira leitura quanto Pedro, Tiago e João no Evangelho de Mateus, a nos colocarmos em movimento. Sairmos do nosso lugar. O Patriarca sai de Ur na Caldéia. Os apóstolos saem da planície e sobem com Jesus à montanha, lugar da transcendência e da teofania.

Deixar a terra no sentido de Abraão, ou subir a montanha no sentido dos discípulos, quer dizer sair do comodismo. Não consentir que a rotina nos deixe fixos com raízes profundas e teias de aranha, a mostrar nosso imobilismo.

Sair da sua terra e subir a montanha é fazer uma experiência de Deus. Deixar-se transfigurar por Ele. Abandonar-se confiantes em suas mãos para que nos leve a experimentar um vislumbre da eternidade. Transfigurar é muito mais do que transformar.

Enquanto a transformação muda a forma externa, ou seja, é algo de fora, a transfiguração altera-nos internamente. Essa mudança é tão forte que é capaz de gerar luz.

Quando uma pessoa está profundamente alegre e feliz, dizemos que está radiante e que tem o rosto iluminado. Dar exemplo assim é muito pouco para mostrar a beleza da transfiguração, mas quem sabe possa nos dar uma pálida idéia do que seja.

Transfigurar-se é algo tão imenso, eis que nos remete aos tempos apocalípticos, que pode até nos amedrontar. Os apóstolos ficam com medo e, mais uma vez, Jesus vai se aproveitar da situação para nos dizer que não tenhamos medo.

O rosto transfigurado irradia luz e essa claridade, parece que o Pai quer nos dizer, é muito importante que seja guardada para que, quando formos passar pelos momentos de escuridão na vida, a tenhamos como uma pequena lanterna. A experiência profunda de Deus de Jesus, tendo transfigurado o rosto, ajudou-o passar pela sua noite escura.

A luz que havia nele foi farol para que atravessasse o túnel escuro do sofrimento, do silêncio profundo de Deus e da morte. Ao ressuscitar, a luz de Cristo que comemoramos na Vigília Pascal, ressurge ainda mais gloriosa.

É Deus quem nos transfigura. Por isso é impossível nos transfigurarmos sem estarmos unidos a Jesus. Além dele é preciso estar na comunidade e nela respeitar a Lei e viver a liberdade da profecia sempre manifestando a vontade de Deus.

No caso de Jesus as testemunhas da ação de Deus no Monte Tabor são os três discípulos, Moisés, representando a Lei e Elias trazendo-lhe a Palavra profética de Deus.

A montanha é tentadora. “Está tão bom ficar aqui em cima com o Senhor transfigurado. Façamos três tendas e permaneçamos aqui por cima mesmo. Lá embaixo, além de ter muito trabalho é perigoso”. É o que devia pensar Pedro. Esta é também pode ser uma nossa tentação quando dos momentos fortes de experiência de Deus. A vontade é de permanecer imersos neles, deixando de lado o lugar aonde precisamos atuar.

 

Para refletir durante a semana:

 

– O que significa na minha realidade sair da terra, ou subir a montanha?

– Como está a minha escuta de Deus?

– Permaneço na montanha das missas, ou me coloco a serviço do outro e da comunidade?

 

1ª Leitura – Gn 12,1-4a
Naqueles dias, o Senhor disse a Abrão: ‘Sai da tua terra, da tua família e da casa do teu pai, e vai para a terra que eu te vou mostrar. Farei de ti um grande povo e te abençoarei: engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma bênção. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão abençoadas todas as famílias da terra!’. E Abraão partiu, como o Senhor lhe havia dito.

2ª Leitura – 2Tm 1,8b-10
Caríssimo: Sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus. Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não devido às nossas obras, mas em virtude do seu desígnio e da sua graça, que nos foi dada em Cristo Jesus desde toda a eternidade. Esta graça foi revelada agora, pela manifestação de nosso Salvador, Jesus Cristo. Ele não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho,

Evangelho – Mt 17,1-9
Naquele tempo: Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Então Pedro tomou a palavra e disse: ‘Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias.’ Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: ‘Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!’ Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. Jesus se aproximou, tocou neles e disse: ‘Levantai-vos, e não tenhais medo.’ Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: ‘Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos.’

Fernando Dias Cyrino 

www.fernandocyrino.com



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