Jesus nos encoraja a insistir no caminho da Justiça
Reflexão sobre a Mesa da Palavra
Ano C – XXIX Domingo do Tempo Comum
Tendo filhos mortos pela violência, mulheres se reúnem para lutar por justiça. Pobres e moradoras de comunidades, ou seja, sem direito à voz e vez, elas batem muitas portas que não se abrem. A chance que têm é de ir às ruas e corajosas fazem isto. Expõem-se mostrando o rosto sofrido à sociedade “aborrecendo-a” até que escute as denúncias do que padecem e do que sofreram seus filhos.
Há uma palavra chave para nos ajudar na compreensão das leituras desse domingo. Trata-se do verbo insistir. Moisés insiste no cuidado e proteção do povo da Bíblia mantendo levantada a sua mão. Paulo diz a Timóteo para insistir na pregação da Palavra. Jesus nos traz a história da viúva insistindo até que lhe seja feita justiça.
As Mães de Acari no Rio, de Maio em São Paulo, da Praça de Mayo na Argentina e tantas outras mundo afora, remetem-nos ao Evangelho de hoje.
Contemplando a cena fico imaginando que Jesus deva ter tomado conhecimento de algum fato no qual uma mulher não conseguia justiça e mesmo assim não se cansava. Perseverava insistindo. Conta-nos então, quem sabe a partir do que assistira, essa parábola para não desistirmos daquilo pelo qual lutamos.
Pode ser que nos confundamos e achemos que devemos “aborrecer” Deus com excessiva obstinação. Não é bem assim. A insistência, como essas mães descobriram, deve acontecer na história.
Será de maneira insistente que conseguiremos criar um mundo de mais justiça e solidariedade. Para isto devemos nos reunir, praticar a cidadania fazendo-nos valer, entrando na luta. É necessário mostrar o rosto participando da defesa da justiça em todos os níveis e setores. Só assim, “aborrecidos” com a persistência, os poderosos, escutarão e atuarão conforme a justiça.
Não que seja de menor valia a oração, ao contrário ela é fundamental. Será com ela que nos aproximaremos do Senhor e seremos mais íntimos dEle. É a amizade e a intimidade com Deus que deve dar o sentido maior à nossa prece. Nessa linha os pedidos, insistentes ou não, que fizermos estarão integrados também aos agradecimentos, louvores e bendições que devemos àquele que nos cria.
Deus já sabe do que precisamos. Mais do que isto, o que necessitamos de verdade: a vida, a fé, a graça de discernir o que é necessário para que haja justiça, Isso tudo Ele já nos concedeu. Ganhamos muitos dons e seremos nós que deveremos, com eles, patrocinar a transformação do mundo.
Será com a inteligência e os braços que temos, que deveremos trabalhar para a justiça e a paz. O que precisamos pedir é que tenhamos coragem para tal trabalho. Um teólogo dizia com propriedade que: “quando Deus trabalha somos nós que ficamos suados”.
A primeira leitura nos apresenta cena da luta dos judeus contra os amalecitas. Nela precisamos também tomar cuidado para não acharmos que Deus é a favor das guerras e que gosta de uns e desgosta de outros. Nada disto. Ele vai se revelando progressivamente e era assim, naquela época, que o povo judeu via Deus. Jesus, tempos depois, vem nos mostrar que o Pai é bom e que ama a todos, inclusive os amalecitas.
Que tal interpretarmos essas mãos levantadas de Moisés como a sua doação insistente e perseverante ao povo? Mesmo cansado ele, com apoio dos demais, mantém-se no serviço.
A segunda leitura traz-nos Paulo exortando a Timóteo. Que ele não desanimasse e que a Palavra aprendida desde a infância, fosse proclamada insistentemente. Paulo também sabe que somente insistindo com as pessoas, repetindo tudo o que precisam saber, é que a pregação dará frutos.
Será assim pela persistência daqueles que nos trazem a Palavra, que nos apropriaremos da vida que há dentro dela. A Vida que deve nos conduzir ao serviço da justiça.
E o Evangelho termina de forma instigante: “será que Jesus, ao voltar, encontrará fé sobre a Terra?” Esta pergunta, uma maneira bem interessante de nos questionar, deve ser entendida não só a partir da pequenez da nossa fé, mas também no contexto das perseguições vividas pela comunidade Lucana. Os dois sentidos são válidos para nós.
A sociedade nos “persegue” oferecendo-nos coisas para que deixemos o absoluto e relativizemos a fé. Ao mesmo tempo, precisamos cuidar dela para que cresça e se robusteça. Somente uma fé maior e amadurecida fará de nós essas pessoas insistentes, construtoras da justiça e da paz do Reino.
Para reflexão durante a semana:
– Sou dos que desistem com facilidade? Ou insisto na luta mantendo a mão levantada?
– Qual é o tamanho da minha fé? Ela é bem alimentada e crescente?
– Como está o meu compromisso com a justiça? Como o tenho demonstrado?