Jesus nos quer atentos à vida
Liturgia da Missa – Reflexão sobre a Mesa da Palavra
para o XIX Domingo do Tempo Comum – Ano C
Era uma vez um dorminhoco. Um homem que seguia dormindo pela vida. As coisas aconteciam e ele não reparava. Apesar de ter os olhos abertos era incapaz de perceber a realidade. Não via as pessoas necessitadas dele e muito menos percebia Deus naqueles que estavam à sua volta. Como a vida passa rápido, ela passou e ele nem viu.
O Evangelho deste domingo vem nos falar da atenção que precisamos ter com a nossa vida. Do cuidado que precisamos tomar nas escolhas que fazemos, para que não coloquemos o futuro a perder, deixando-o onde “o ladrão chega e a traça corrói.
Há duas opções de texto e geralmente, pelo menos na minha experiência, acaba se optando pelo mais curto (Lc. 12, 35-40), o que é uma pena, pois se perde um início de muito carinho de Jesus para conosco e um final com parábolas bastante significativas, principalmente para nós os leigos.
Jesus começa nos animando e encorajando para não termos medo. O medo é terrível, pois que pode nos fazer fugir, paralisar, ou até mesmo nos levar a agir com violência. Não tenhamos medo, porque o Pai nos dá o reino. Nos dias de hoje, vivendo num regime republicano, temos dificuldades de entender a profundidade dessa expressão.
Somos donos do reino. Dito com outras palavras seria o mesmo que afirmar que somos “reis e rainhas”. Aliás, nenhuma novidade, já que somos filhos de Deus… Por isto Ele nos diz que o Senhor nos servirá à mesa, eis que viveremos no seio da sua família.
E Jesus continua de modo bem afetivo a sua conversa, nos qualificando como “pequenino rebanho”. Verdade que não somos mais um pequeno rebanho. Os seguidores de Jesus somos cerca de um terço da humanidade, mas é certo também que não constituímos ainda o grande rebanho sonhado de Jesus e convenhamos que nesse rebanho que já somos, mesmo não sendo nada miúdo, ainda falta uma maior atenção e cuidado da nossa parte.
Diz-nos também que precisamos estar atentos ao “lugar” onde colocamos o coração. O mundo oferece muitos tipos de “hospedagens” para ele e pode ser que o tenhamos posto em algum local de fantasia. São locais que até parecem interessantes e bonitos, mas que não são capazes de preenchê-lo. Só Ele é capaz disto.
Vivemos desatentos no mundo. Se no tempo de Jesus já se ficava sem atenção e não havia tanto estímulo assim à volta, o que diremos de hoje em dia quando somos bombardeados ininterruptamente por mil novidades? E em meio a tantas coisas acabamos por não prestar atenção naquilo que nos é mais necessário. Passamos de uma coisa a outra como o colibri voa de flor em flor. É como se vivêssemos a maior parte do tempo caminhando pelo mundo adormecidos e isto apesar de mantermos os olhos abertos.
Jesus nos alerta para ficarmos acordados com os olhos, a mente e coração. Ou seja, inteiramente despertos. Viver é estar de prontidão e, poderíamos dizer, “com a roupa adequada para a viagem, o carro revisado e o tanque cheio”. A todo o momento vivemos exemplos, uns distantes, outros mais próximos, do quão frágil é a vida.
Não importa a hora que chegue em casa. Ao colocar a chave para abrir o portão já escuto o alarido dos cachorros vindo me acolherem. Isto é para mim um belo exemplo do que significa se estar em prontidão.
Recebemos muito do Senhor. Num mundo de tanta miséria nós somos bastante privilegiados. O fato de estarmos diante do computador é prova disso, mas Jesus não quer nos falar apenas em questões de possuir coisas, ou termos tido acesso à educação.
Ele vai muito mais longe. A questão é o que estamos fazendo com a vida toda. Por isto é para nós mais um motivo de grande atenção o final do Evangelho: “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”.
O autor da Carta aos Hebreus nos oferece na segunda leitura uma bela e profunda definição de fé. Vale pararmos e refletirmos sobre ela: “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se vêem”. Nossos tempos são de muita fé no efêmero, de se colocar como finalidade aquilo que é relativo.
E nesse trecho da leitura me lembro dos pais. Pais e mães são definitivamente pessoas de fé. É porque acredita, consciente ou inconscientemente, isto aqui não importa, em realidades que não consegue ver e que serão vividas pelos filhos, que ele os gera e os cria.
Pontos para reflexão durante a semana:
– Qual é o meu tesouro, onde tenho colocado o meu “coração”?
– O que tenho retribuído do muito que me foi dado?
– Como alimento a minha fé?