Jesus se faz humano para que a gente possa se divinizar
Reflexão sobre a Mesa da palavra – Batismo do Senhor
Ano A – 12-01-2014
Jesus veio da Galiléia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João e ser batizado por ele. Mas João protestou, dizendo: ‘Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?’ Jesus, porém, respondeu-lhe: ‘Por enquanto deixa como está, porque nós devemos cumprir toda a justiça!’ E João concordou. Depois de ser batizado, Jesus saiu logo da água. Então o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus,descendo como pomba e vindo pousar sobre ele. E do céu veio uma voz que dizia: ‘Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado’. Mt 3,13-17
Há poucos anos um desmoronamento a setecentos metros de profundidade no Chile deixou um grupo de trinta e três mineiros isolados no fundo da Terra. Passados vários dias e já dados por muitos como mortos, são descobertos. A partir daí desencadeia-se uma bela e eficaz operação de salvamento. Quando a sonda chega enfim ao salão onde estavam vivendo sai de dentro dela um homem. Para melhor realizar a missão de resgate foi necessário que alguém descesse ao fundo do poço. Para nos salvar Jesus faz coisa semelhante. Tornar-se homem é como descer ao abismo no qual éramos prisioneiros para nos libertar levando-nos para a vida plena.
Neste domingo a liturgia nos traz, com a cena do Batismo de Jesus, uma segunda epifania (manifestação de Deus). Ela acontece quando Jesus se faz ainda mais humano, aceitando, Ele que não tinha pecado, ser batizado por João. No seu batizado o Pai manifesta a todos estar ali o seu “filho amado” (João diria no seu Evangelho “filho unigênito”). O céu se abrir significa que a partir daquele momento o divino e o humano estão ligados. Ao se tornar humano Deus liga essas duas realidades.
Em todo batizado,, não importa a criança, podemos imaginar que deste “céu aberto por Jesus” e que não se fechou depois, mas continua escancarado para a humanidade, a voz de Deus se faz presente dizendo estar ali mais um filhinho(a) amado(a)…
É interessante imaginar a cena. Dentro do Rio Jordão, com a água pelas coxas, um severo profeta vai, um a um, mergulhando as pessoas que faziam fila à beira d’água. De repente um homem especial entra na fila e ouve-se um murmúrio geral. Com certeza que Jesus, mesmo sem precisar estar ali para ser batizado por João Batista, não furou a fila. Afinal “era preciso que se cumprisse toda justiça”. O homem para os outros, na linda definição que nos faz de Jesus o teólogo Dietrich Bonhoeffer, está lá naquela fileira para passar pela experiência.
Quando chega a sua vez e João o vê toma um susto. “Mas, Senhor, o que você faz aí? Tome o meu lugar. Venha, é você quem deve batizar este povo…” Mas Jesus, sempre surpreendente, lhe diz que continue a realizar aquilo que está fazendo. João, todo trêmulo, toma Jesus nos braços e o mergulha dentro do rio.
O batismo de João é um batismo de penitência. Um ritual de conversão dos pecados e mudança de vida para esperar o Messias. Jesus, homem como qualquer um de nós, exceto pelo fato de não ter pecado, não tinha necessidade de passar por ele. Mas não nos esqueçamos que nosso Senhor está se tornando humano. Deus, para se fazer um de nós quer experimentar toda a nossa realidade. Mergulhar nela literalmente, e nada melhor do que o batismo como atestado de que estava pronto para a missão.
O Divino agora já é totalmente Humano. Tem gente que chega a pensar que para seguir melhor a Jesus Cristo precisa se afastar da sua humanidade. Tornam-se assim pessoas alienadas e frias. Vão deixando de experimentar Deus na humanidade do mundo. Quanto mais atributos do humano tivermos, mais perto estaremos do Senhor a quem seguimos. Que atributos são estes? Simplesmente os mesmos do Amor.
O nosso batismo é o inverso do batismo de Jesus. Enquanto sob os braços de João Batista Jesus se mostra plenamente humano, “descendo” profundamente até a nossa realidade, no nosso batismo há o inverso. Somos nós que “subimos” para acolher a “chama da divinização”. Nós, seres humanos vamos para o alto e somos inseridos na realidade de Deus.
Devemos tomar cuidado no entendimento do batismo. Ainda há por aí quem pense que ele é como que uma bênção para dar mais saúde à criança, ou que seja somente para o perdão dos pecados, como ocorria no batismo de João. O sacramento do Batismo é muito mais do que isto. Ele nos insere em Cristo. Faz-nos participantes da vida dele e isto tem conseqüências.
Ser batizado significa tornarmo-nos também, como Jesus, pessoas para os outros. A expressão do batismo em nós deve se dar não em atos de piedade, mas na ação piedosa na direção dos irmãos. Batizado é aquele que sai de si e se põe a caminho do outro.
Para ajudar na reflexão para a missa do domingo:
– Quando e como foi o meu batizado? O que me contaram dele?
– Como tenho vivido o batismo?
– Coloco-me a serviço dos outros, ou estou fechado em mim mesmo?
1ª Leitura – Is 42,1-4.6-7
Assim fala o Senhor: ‘Eis o meu servo – eu o recebo; eis o meu eleito – nele se compraz minh’alma; pus meu espírito sobre ele, ele promoverá o julgamento das nações. Ele não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas. Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade. Não esmorecerá nem se deixará abater, enquanto não estabelecer a justiça na terra; os países distantes esperam seus ensinamentos.’ ‘Eu, o Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te constituí como o centro de aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas.
2ª Leitura – At 10, 34-38
Naqueles dias: Pedro tomou a palavra e disse: ‘De fato, estou compreendendo que Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença. Deus enviou sua palavra aos israelitas e lhes anunciou a Boa-Nova da paz, por meio de Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judéia, a começar pela Galiléia, depois do batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele.
Fernando Dias Cyrino
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