Maria, Rainha da paz, guardava os acontecimentos meditando-os no coração.
Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra
Solenidade da Santa Mãe de Deus
Uma semana depois, quando chegou o dia de circuncidar o menino, puseram nele o nome de Jesus. Pois o anjo tinha dado esse nome ao menino antes de ele nascer. Lc. 2, 16-21
A mãe acabara de dar à luz o primeiro filho. Irradiava felicidade. Para tê-lo sofrera muito. Faltaram médicos no pré-natal e vagas não havia nas maternidades para o parto. Marido trabalhava nas ruas como camelô e ela era diarista em casas do bairro vizinho. Sobreviviam num barraco em meio a uma favela envolta em um círculo vicioso: falta de oportunidades, violência e drogas. Apesar disto ela tinha lindos sonhos para a sua criança. Via-o como grande ser humano. Líder capaz de transformar aquela comunidade, sendo gerador de paz e justiça para todos. Ao falar dessas expectativas com os médicos e enfermeiras, acabou banhada por um tanto de “baldes de água fria”. Pôde sentir claramente que não acreditavam em suas esperanças para o bebê que agora amamentava. Optou então por guardar os sonhos no coração.
Todo nascimento é gerador de muita esperança e essa, geralmente, inicia-se a partir da mãe. Ela, por piores que sejam as condições de vida a serem enfrentadas e as previsões “oficiais” para o seu filho, irá imaginá-lo superando barreiras. Alguém muito maior do que a dura realidade costuma indicar.
Contemplemos Maria e seus sonhos para o Menino. Por maiores que fossem, sem dúvidas que haveriam de ser ainda bem pequeninos, diante da grandiosidade da vida futura do seu bebê. Aquela criança que trouxera ao mundo e que, agora amamentava, era nada mais nada menos, do que o Filho de Deus.
Muitas outras crianças nasceram naqueles dias. Todas, com certeza, portadoras de sonhos e olhares bem bonitos das suas mães e pais. Quantas dentre elas tiveram essas belas expectativas realizadas?
Podemos imaginar que algumas devem ter sido pessoas especiais. Outras, a maioria quem sabe, não fizeram grande diferença no mundo, mantendo o mesmo jeito de ser dos seus pais e avós. Pode ser até, e isto é triste, que alguns se tornaram especiais e fizeram diferença pelo lado avesso. Criaram-se tornando-se gente má e até causa de tristeza e vergonha para os pais.
Aproximemos a cena da realidade de hoje. Relembremos aqueles que nesse ano, agora findo, foram considerados por nós como “os piores”: ladrões, assassinos, corruptos, radicais violentos, drogados, terroristas… Não nos interessa aqui o motivo que faz com que os vejamos assim, reparemos como a lista é melancólica e dolorida.
São os componentes da nossa lista dos horríveis do ano. A cena fica ainda mais triste, caso contemplemos os dias dos seus nascimentos. Neles veremos gente, a começar das mães, vibrando de alegria e de esperança, com aquelas vidas que puseram no mundo e que hoje nos assustam, nos enojam e nos entristecem, causando-nos sentimentos de baixa esperança e mesmo de medo e angústia.
É aí que podemos nos dar conta de um dos grandes pecados do mundo: o descuidado com as crianças e jovens. A desatenção com a educação, com os valores, a moral, a solidariedade e a justiça. Este descaso, acaba por fazer com que muitos acabem não “dando em nada”, ou pior ainda, “dando em coisa ruim”… A gente que nos tira o que celebramos hoje: a paz.
E reparem que não estamos tratando aqui somente daqueles oriundos de classes menos privilegiadas do ponto de vista econômico e educacional…
Tivessem tido boas oportunidades, quantos desses dirigentes famosos do tráfico nas grandes cidades, não estariam utilizando sua liderança e inteligência a serviço do bem, como suas mães sonharam quando dos seus nascimentos?
Tivessem recebido e assumido Valores, quantos desses dirigentes famosos, corruptores e corrompidos, não estariam utilizando suas competências e inteligências na construção do bem comum, como suas mães sonharam quando dos seus nascimentos.
Vale refletir então, a partir dos sonhos de Maria, daquilo tudo que que falavam do Menino, sobre a nossa responsabilidade na criação da paz. É preciso tomar consciência de que ela não chegará grande e muito menos como prodígio imenso, capaz de transformar o coração dos violentos, a começar dos maiores dirigentes do planeta.
A paz chega pequenina, diria até que nesse sentido no qual a estamos olhando, ela vem de maneira individual. Verdade que não costumamos falar em “pazes”, mas em paz. Ela é construção de cada um, na medida em que esse ser vá se tornando mais humano.
Humanizar-se é promover, a partir da vivência pessoal, a paz. Não se conseguirá gerar paz alguma em volta, se vivemos em guerra conosco mesmos. Se não nos aceitamos, nem buscamos crescer como pessoas, nada feito. A violência interna do coração transbordará.
A paz é fruto da constante conversão. Por isto, para realizá-la é preciso atenção e abertura para a mudança. Aquele que se acomodou e se vê “pronto”, ou “bom” para a vida será incapaz de irradiá-la.
Neste primeiro dia do ano, haverá bastante gente a pedir a Deus em suas orações, para trazer paz e fraternidade ao mundo. Será que é assim que devemos fazer? O propósito nosso, de cristãos, deve posicionar-se além.
Será o de trabalhar para que, a partir de cada um, esta nova realidade se faça presente. O pedido então a ser feito é outro: Que Ele nos dê a força e a coragem de sermos pacíficos e assim trabalharmos pela paz, sendo geradores de maior fraternidade. Amém.
Pistas para reflexão:
– Como tenho construído a paz?
– Sou solidário e apoio, concretamente, os sonhos das mães pobres em relação às suas crianças?
– Estou em paz comigo mesmo? O que falta em mim para ser pacificado?