“Mesa da Palavra”
“Simples dicas e modos de enxergar o Caminho”
A Palavra de Deus proclamada a cada domingo é possuidora de incomensuráveis riquezas. Nenhum livro no mundo é mais comentado e estudado que a Bíblia e dentro dela os Evangelhos. Apesar disso, nunca se esgotam as descobertas dos tesouros neles contidos. Encantado por esta Palavra, sempre renovada, que dá sentido à vida, faço há um bom tempo anotações sobre os Evangelhos. Um dia mostrei-as e meus leitores animaram-me a disponibilizá-las, considerando que poderiam ser úteis.
Resolvi então publicar semanalmente esses comentários à Mesa da Palavra, o que vem sendo feito desde junho de 2010. Ao fazê-lo sempre me lembro do amigo e mestre Padre José Luis Caravias sj, a dizer-me que os leigos precisam assumir mais positiva e concretamente a sua fé, também refletindo a Palavra de Deus e os ensinamentos da Igreja a partir do seu lugar existencial, bem diverso daquele no qual se originam a maior parte dos textos da Igreja e comentários Bíblicos.
Essas são simples dicas e modos de enxergar o Caminho. Ele, que faz novas todas as coisas, saberá dar o devido sabor àqueles que se aventurarem a ler-me. Crendo nisto a minha esperança é que os comentários, aqui semanalmente postados, possam gerar a novidade do maior amor e serviço a partir do seguimento, como discípulos missionários, do Nosso Senhor Jesus Cristo.
Fernando Dias Cyrino.
Liturgia da Missa
31º Domingo do Tempo Comum Ano A – 30-10-2011 – Mt 23,1-12
Jesus falou às multidões e a seus discípulos: ‘Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. Amarram pesados fardos e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo. Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros. Eles usam faixas largas, com trechos da Escritura, na testa e nos braços, e põem na roupa longas franjas. Gostam de lugar de honra nos banquetes e dos primeiros lugares nas sinagogas; Gostam de ser cumprimentados nas praças públicas e de serem chamados de Mestre. Quanto a vós, nunca vos deixeis chamar de Mestre, pois um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos. Na terra, não chameis a ninguém de pai, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. Não deixeis que vos chamem de guias, pois um só é o vosso Guia, Cristo. Pelo contrário, o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve.
Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.’
A fé se concretiza na vida diária
Naquela região só havia uma fonte de empregos. Um homem que havia herdado muitos bens era o empregador de praticamente todo mundo nas suas fazendas, fábricas e armazéns. Apesar de nunca haver trabalhado, era patrão duro e bruto sendo comuns os relatos de suas explosões, humilhando publicamente pessoas que tinham feito algo que o desagradou. Aqueles que caíam em desgraça não tinham aonde recorrer e passavam grandes necessidades. Com o tempo seus abusos se ampliaram. Agora se sentia dono também das filhas dos que trabalhavam para ele e seus funcionários de confiança seguiam seus maus exemplos sendo ainda mais duros com o povo do que ele.
Não que os religiosos do tempo de Jesus fossem como o patrão e seus asseclas da historinha de hoje. Mas também eles extrapolavam na missão de líderes do culto do povo judeu. O evangelista Mateus vem nos mostrar Jesus denunciando, com palavras duras, a maneira como os mestres da Lei e os fariseus agiam com o povo.
O judaísmo tinha caído numa supervalorização do culto da Lei e preocupavam-se em exigir o cumprimento dos 613 preceitos da Torá (Lei). As 248 prescrições práticas e positivas e os 365 impedimentos e proibições, não por acaso um para cada dia. Eram tremendamente duros e exigentes com o povo mas não cumpriam muitas daquelas coisas que cobravam dos pequenos. Para compreender melhor essa narrativa é preciso tomarmos consciência de que o conflito existente entre Jesus e os responsáveis pela religião acentuava-se mais ainda.
A religião, o nome já o diz, é aquela que mantém a ligação entre o humano e o divino e para que isto aconteça é necessário que se tenha três grandes pilares. O culto e o simbólico, a doutrina e o ensinamento e a prática da misericórdia. Os mestres da Lei gostavam de enfatizar as duas primeiras dimensões e nesse super dimensionamento delas a preocupação se mantinha em se cumprir o que se mandava e não fazer o que devia ser feito, a obra da justiça e da misericórdia.
Jesus vê então a hipocrisia da Lei e do culto colocando pesados fardos sobre os ombros dos fiéis enquanto os seus estavam livres deles. Denuncia também a hipocrisia dos ministros do culto e da Lei. O exercício do ministério passou a se dar na busca dos melhores lugares e no acúmulo de privilégios. A palavra ministro que quer dizer servidor e pequeno (daí vem o vocábulo mínimo), é vista invertidamente e passa a significar o maior e aquele que deve ser servido.
Até aqui vimos os tempos do Senhor. Vale agora, para que o Evangelho se faça vida entre nós, lançarmos um olhar sobre as nossas estruturas de poder e verificarmos se os males denunciados por Jesus ainda acontecem no mundo atual. Infelizmente, olhando em volta, veremos vários símbolos desse nefasto modo de proceder. Ministros no Poder Público, que se esqueceram (ou nunca souberam) que devem ser os menores, aqueles que estão para servir à população e não para serem servidos, infelizmente, tornaram-se praticamente a regra. A exceção se dá ao se descobrir aqueles poucos que estão na posição de liderança somente para servir.
A Igreja, sempre necessitada de conversão, precisa também verificar como está procedendo enquanto seguidora desse Jesus que denunciou seus irmãos religiosos. A Igreja está mesmo servindo aos cristãos, a começar dos menores e mais excluídos, ou mais serve aos grandes e até busca ser servida por aqueles que tem como missão cuidar? A Igreja somos nós e ao lançar este olhar é importante que também nos incluamos nele. Nas comunidades que somos parte, como é a acolhida, de que maneira se dá o serviço, há pobres entre nós na real proporção da sua existência na sociedade onde estamos inseridos?
Não só a Igreja instituição necessita de conversão. Também cada um de nós seus filhos necessitamos de constante exame, á luz da vida daquele a quem buscamos seguir, para checarmos se a distância que nos separa está diminuído, mantém-se fixa, ou até mesmo vai aumentando. Converter-se é tornar-se cada dia mais coerente, mais junto a Jesus, mais cristificado enfim.
Pistas para reflexão durante a semana:
- A quem servimos?
- Nossa fé é coerente com as práticas de caridade?
- Aproximamo-nos de Jesus?
1ª Leitura – Ml 1,14b – 2,2b.8-10
2ª Leitura – 1Ts 2,7b-9.13