Nosso Deus é comida e bebida para todos

Publicado em 19/06/2014 | Categoria: Notícias |


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Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra da Solenidade do Corpo e Sangue do Senhor – Corpus Christi

 

Houve uma grande estiagem naquele país e as sementes se viram incapazes de brotar. A fome chegou de uma vez e invadia as casas, principalmente dos mais pobres. Aos poucos os poços também foram secando e a sede fazia sofrer, mais ainda, o povo. Naquela calamidade as crianças e os idosos eram os mais prejudicados. Os sacerdotes consultaram os oráculos e concluíram que seu deus ardia de raiva deles. Por isto mandara aquela seca enorme. Depressa organizaram mil sacrifícios de animais. Era urgente aplacar a ira da divindade. Bem distante dali outro povo, paradoxalmente, sofria com enchentes terríveis. Não parava de chover e tudo estava inundado. As plantações morreram e sobreveio a grande fome. A água suja provocava doenças e essas agravavam ainda mais o estado daqueles debilitados, de novo os mais pobres, os velhos e as crianças. Os religiosos de lá se reuniram e constataram que tal dilúvio tinha sido enviado pelo deus deles que, da mesma maneira, estava com muita raiva de algo que tinham feito ou deixado de fazer, não sabiam ao certo. Por causa disto é que os punia. Juntaram todo o povo para propiciar ao deus raivoso um número imenso de sacrifícios. Dentre esses obrigaram os pais de família a lançarem na fogueira expiatória o restinho das sementes que ainda guardavam para alimento e também para o plantio logo que chegasse o tempo bom.

Esses povos sentiam que precisavam conquistar seus deuses com oferendas, para que os amasse, não os punindo e nem os abandonando à própria sorte. Fosse só isso, mas sabemos que em várias civilizações os sacrifícios não se restringiam aos animais, vegetais e nem aos flagelos físicos. Os deuses por lá eram mais implacáveis e exigiam sangue humano.

Vem Jesus a nos mostrar exatamente o contrário. Deus não precisa ser conquistado. Ao contrário, é Ele que, constantemente, quer nos conquistar. Cativa-nos fazendo-se comida e bebida disponível para todo aquele que se aproximar dele.

Nosso Deus é Amor e o Amor só pode desejar a felicidade do amado. Assim Ele se dá, livre e totalmente, a nós seus filhos queridos. Faz isto, através do Filho, da forma mais simples e humana possível: como alimento. Quem é que não vai entender o sentido da comida? Eucaristia é Deus se dando como alimentação para o sustento na fé, esperança e caridade de todos nós. Até uma criança entende que sem comida e sem bebida não é possível que se sustente, que se mantenha vivo.

Infelizmente ainda há muita gente que tem uma visão muito intimista da comunhão. Compreendem-na e tomam-na somente numa dimensão vertical: ela e Deus. Esquecem-se de que a Eucaristia se faz em comunidade. A Eucaristia faz a comunidade da Igreja e a comunidade da Igreja faz a Eucaristia, no dizer tão simples e ao mesmo tempo tão profundo do Concílio Vaticano II.

Não existe Igreja solitária. Ela, em outro dizer do Concílio, é “povo de Deus” reunido e então podemos afirmar que comer do corpo e do sangue do Cristo sem estar unido aos irmãos, na ilusão de que se está ligado a Deus, é tomá-lo em vão.

Eucaristia não é devoção. É muito mais do que isto. Por isto, não basta comungar como preceito ou mandamento. Isto é muito pouco para o cristão do Século XXI. Algo bastante pobre para quem está comprometido com o seguimento. Comungar assim dá a impressão de que se toma algo pesado e que se está cumprindo uma obrigação. Nada mais equivocado, pois o Corpo de Cristo é leve e sempre traz a alegria e a paz (mesmo em meio aos sofrimentos e tribulações).

Eucaristia também não pode ser confundida com mágica e que num piscar de olhos será capaz de transformar a realidade. Ela não protege contra ladrões, mal olhados e nem gera empregos, ou traz namorada. O que ela oferece é a força e a coragem necessária para o trabalho e a luta na criação de um mundo mais solidário, pacífico e humano, onde não mais seja preciso se proteger dos outros.

Viver a Eucaristia é viver em comunidade cuidando para que não haja ninguém descuidado ou mesmo abandonado em volta. É adquirir ânimo para a missão de fazer com que as estruturas do pecado possam ir se desintegrando e em seu lugar haja espaço e condições, para que nasçam e se desenvolvam as estruturas do Reino: de serviço e bondade.

Acostumados com a Eucaristia acabamos por não nos dar conta do quão grande e poderosa ela é. Fôssemos mais conscientes da transformação que a comunhão é capaz de nos fazer, teríamos condições de criar um mundo bem mais humano, com muito mais justiça e paz.

No auge de uma discussão com um ateu um padre ouviu dele algo que o faz refletir há vários anos: “Caso os cristãos acreditassem realmente que o Deus de vocês está nesse sacrário, já teriam deixado, há muito tempo, o mundo à feição do que Ele lhes delegou”.

 

Perguntas para refletirmos durante a semana:

 

– Creio no Deus que vem até mim?

– Que significado tem a Eucaristia na minha vida?

– Em que aspectos ela tem me transformado?

 

1ª Leitura – Dt 8,2-3.14b-16a

Moisés falou ao povo, dizendo: Lembra-te de todo o caminho por onde o Senhor teu Deus te conduziu, esses quarenta anos, no deserto, para te humilhar e te pôr à prova, para saber o que tinhas no teu coração, e para ver se observarias ou não seus mandamentos. Ele te humilhou, fazendo-te passar fome e alimentando-te com o maná que nem tu nem teus pais conheciam, para te mostrar que nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca do Senhor. Não te esqueças do Senhor teu Deus que te fez sair do Egito da casa da escravidão, e que foi teu guia no vasto e terrível deserto, onde havia serpentes abrasadoras, escorpiões, e uma terra árida e sem água nenhuma. Foi ele que fez jorrar água para ti da pedra duríssima, e te alimentou no deserto com maná, que teus pais não conheciam.

 

2ª Leitura – 1Cor 10,16-17

Irmãos: O cálice da bênção, o cálice que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? E o pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? Porque há um só pão, nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão.

 

Evangelho – Jo 6,51-58

Naquele tempo: disse Jesus às multidões dos judeus: Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo’. Os judeus discutiam entre si, dizendo: ‘Como é que ele pode dar a sua carne a comer?’ Então Jesus disse: ‘Em verdade, em verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue,não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim o que me come viverá por causa de mim. Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram. Eles morreram. Aquele que come este pão viverá para sempre.

 

 

Fernando Cyrino

www.fernandocyrino.com



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