Nova entrevista do Papa: ao diário “La Stampa” de Turim
“Para mim o Natal é esperança e ternura…” – começa assim, com uma reflexão sobre o sentido do Natal, a entrevista que Papa Francisco deu a um jornalista do quotidiano de Turim, “La Stampa”. Um colóquio de uma hora e meia, no qual o Santo Padre fala por exemplo do sofrimento das crianças e do drama da fome no mundo, das relações entre a Igreja Católica e as outras confissões cristãs, das questões do matrimônio e da família de que tratará o próximo Sínodo.
É o primeiro Natal deste pontificado e é com a sua habitual simplicidade, desarmante, que o Papa Francisco explica como o viver:
“É o encontro com Jesus. É o encontro de Deus com o seu povo. E é também uma consolação, um mistério de consolação. O Natal fala-nos de ternura e de esperança”. O Papa convida os cristãos a não se tornarem uma “Igreja fria”, que não sabe aonde andar e se deixa enredar em ideologias e em atitudes mundanas. “Quando não se tem a capacidade ou se se encontra numa situação humana que não lhe permite compreender esta alegria, vive-se a festa com a alegria mundana. Mas há diferença entre a alegria profunda e a alegria mundana.”
Na sua entrevista a “La Stampa”, publicada neste domingo, o Papa evoca os 50 anos da histórica visita de Paulo VI à Terra Santa e exprime o desejo e a esperança de visitar também ele no próximo ano a Terra Santa para encontrar aquele a quem define como “o meu irmão Bartolomeu, Patriarca de Constantinopla”.
O Santo Padre aborda também o tema do sofrimento inocente das crianças, para o qual não existe um porquê. Não resta senão confiar em Deus, “confiar no seu olhar”, diz o Papa Francisco. E a dor das crianças é visível também na situação de fome. O Pontífice convida a sair da indiferença e a evitar desperdícios.
A bússola do Papa é a Doutrina Social da Igreja, como explica ele mesmo, referindo-se à Exortação apostólica Evangelii Gaudium e a algumas críticas que lhe foram feitas por alguns ambientes ligados à economia capitalista. A preocupação do Santo Padre são os pobres e o ver que a economia nunca consegue melhorar a condição deles, mesmo em períodos de prosperidade.
Ao jornalista que lhe perguntava se se sentia ofendido por ter sido definido “marxista”, o Papa reconhece que o marxismo é uma ideologia errónea, mas declara ter conhecido muitos marxistas que eram boas pessoas.
Quanto às afirmações mais fortes da Exortação Apostólica, contra a “economia que mata”, o Papa sublinha que não há ali nada que não faça parte da doutrina social da Igreja . E acrescenta que não falou do ponto de vista técnico, tendo-se limitado a propor uma fotografia do que existe.
O Papa declara que a unidade dos cristãos é uma prioridade. E recorda que hoje em dia existe o “ecumenismo do sangue”, diz o Santo Padre: em muitos países os cristãos são assassinados indistintamente. Em todo o caso, a unidade é uma graça que ainda deve ser alcançada.
Sobre a questão dos sacramentos aos divorciados e pessoas que voltaram a casar, o Papa não se pronuncia, aguardando o Consistório de fevereiro próximo e o Sínodo extraordinário de outubro de 2014, mas ressalta a necessidade de recorrer à prudência “não como atitude paralisante, mas como virtude de quem governa”.
Respondendo à questão da justa relação entre Igreja e política, o Papa considera que aquela há-de ser ao mesmo tempo paralela e convergente: completando-se em vários âmbitos e com diferentes tarefas, mas convergindo para servir as pessoas. “A política é nobre – diz, citando Paulo VI – é uma das formas mais altas de caridade. Manchamos a política quando a usamos para fazer negócios.”
A concluir, sobre a figura da mulher na Igreja, o Papa recorda que esta deve ser valorizada, mas não “clericalizada”.
Fonte: Rádio Vaticano