O Amor supera o legalismo
Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra
22º Domingo do Tempo Comum – Ano B
Após algumas semanas seguindo João e o seu discurso do pão da vida, retornamos ao seguimento de Jesus através do evangelista Marcos. No próximo domingo contemplaremos uma cena interessante. Alguns mestres e fariseus saem de Jerusalém e vêm ao encontro de Jesus.
Ritualistas por demais eles se escandalizam, ao reparar que os discípulos do Senhor não cumpriam com as regras judaicas, de limpeza ritual para a alimentação. Jesus tomará tal crítica para ensinar verdades muito importantes para a vida. Mostrará que mais que a Lei, o que vale na realidade é o Amor. Tudo que se coloque contra ele, mesmo que esteja prescrito em regras e tradições humanas, o irá contaminar. Mais que lavar as mãos e o corpo, é preciso deixar bem limpo o coração.
As notícias da pregação itinerante de Jesus e das suas ações junto ao povo, chegaram ao centro do poder. O Nazareno tornara-se homem conhecido. Por isto, um grupo de fariseus e doutores da lei parte de Jerusalém e vai ao encontro dele. Não que fizessem isto de boa fé. Muito mais estavam em busca de evidências que pudessem incriminá-lo.
O poder tende a se concentrar, não gosta de admitir seu exercício por outros não pertencentes ao grupo dos mandantes. Jesus não busca esse tipo de poder exercido no Templo e pelos fariseus. Seu poder não necessita mandar e ser obedecido e por isto acontecia o incômodo dentre os poderosos.
O poder do Senhor é o poder do serviço. De quem se sabe autoridade e por isto somente quer fazer crescer e servir aos que dele necessitam. Ver tal manifestação de poder confunde doutores e fariseus. É preciso ver de perto este homem. Arrumar formas de denunciá-lo pela “prática ilegal do poder da religião”.
Este tipo de relação autocrática de poder prescrevia, para que o controle do povo com mais eficácia fosse exercido, um numero excessivo de ritos. Para ser mantida e se proteger, a religião lançava mão, enfaticamente, das normas e dos rituais. Ao fazer isto acabava deixando em segundo plano a sua finalidade: unir-nos cada vez mais ao Criador.
Havia regras para quase tudo e a alimentação não ficava de fora. Para se comer, não como mera e obvia orientação higiênica, mas como diretriz religiosa, era preciso antes lavar as mãos. Dá para se ver facilmente a impossibilidade do povão em seguir tal preceito, o que terminava por torná-lo pecador. Como lavar as mãos numa terra seca, num tempo sem água encanada, onde o acesso à água não era tão simples?
Ao ver os discípulos comendo desse jeito, quem sabe no meio de alguma praça, mostram-se escandalizados. Não porque os seguidores de Jesus poderiam adoecer, mas porque feriam a Lei dos antigos. Aquela gente se apegava demais às exterioridades.
Aquele jeito de agir não ocorria somente naqueles tempos. Infelizmente, hoje é possível se ver posturas bem ritualistas na nossa Igreja. Na verdade confunde-se por aí “ritualidade” com o “ritualismo”. A primeira é necessária eis que se configura na ação litúrgica cuidadosa e amorosa a nos elevar para Deus.
Já o ritualismo nada mais é do que o que Jesus denuncia nesse Evangelho. A ritualidade liberta, conduz para o interior do coração, para viver o Amor. Leva-nos enfim para Deus. O ritualismo prende, dirige-nos rumo ao mero seguimento das regras. Mais que atentar ao que está dentro, a ênfase é posta no lado de fora.
O que torna impuro não é o que entra, aquilo que se come, mas o que sai do coração humano. Jesus desmascara duramente o ritualismo vazio daqueles dirigentes religiosos. Sua afirmação é forte: a impureza não está naquilo que entra no corpo, mas sim do que sai do coração.
No interior é que nascem as coisas que contaminam o ambiente e aqui não pensemos somente em coisas do tipo da inveja, orgulho, poder despótico e mentira.
É no coração que nasce a ganância, a fazer com que nesse mundo de Deus haja tanta miséria e fome. É lá dentro dele que são geradas também as políticas que deveriam cuidar do meio ambiente e que, ao contrário, mais o agridem e poluem tornando-o impuro e inapropriado em tantos lugares para a vida em abundância.
Pistas para reflexão durante a semana:
– Como anda minha liberdade em relação aos ritualismos?
– O tempo que gasto com o meu exterior é maior do que aquele no qual cuido da minha interioridade?
– O que tem saído do meu coração?