“O caminhar juntos requer amor, e o nosso é um serviço de amor”
O Papa Francisco recebeu no final da manhã desta quinta-feira, na Sala Clementina, no Vaticano, os 120 participantes do Encontro para novos bispos promovido pela Congregação para os Bispos e pela Congregação para as Igrejas Orientais. O encontro que se concluiu com a audiência pontifícia, esteve centralizado na figura do bispo como pastor e teve um caráter formativo e informativo. Este ano estiveram também presentes 26 novos bispos orientais, ausentes no Encontro de 2012 porque tinham encontrado o Papa Bento XVI durante a sua viagem apostólica ao Líbano.
No seu discurso o Papa iniciou recordando que o bispo é um homem de comunhão e unidade, “visível princípio e fundamento de unidade”. (Lumen gentium,23) Em seguida citou a Primeira Carta de São Pedro: “Apascentem o rebanho de Deus que lhes foi confiado, não por imposição, mas de livre e espontânea vontade, como Deus o quer; não por vil interesse, mas com generosidade; não como donos daqueles que lhes foram confiados, mas como modelos para o rebanho” (1 Pt 5,2). Essas palavras de São Pedro – disse o Papa -, devem estar esculpidas no coração! Somos chamados e constituídos Pastores não por nós mesmos, mas pelo Senhor e não para servir a nós mesmos, mas o rebanho que ele nos confiou servi-lo até dar a vida como Cristo, o Bom Pastor.
Mas o que significa apascentar, ter “habitual e cotidiano cuidado do rebanho”? O Papa ofereceu três breves pensamentos. Apascentar significa: acolher com magnanimidade, caminhar com o rebanho, permanecer com o rebanho.
Falando sobre acolher com magnanimidade o Papa Francisco disse:
“Que seu coração seja tão grande a ponto de ser capaz de acolher todos os homens e mulheres que você encontrar ao longo de seus dias e que você vai encontrar quando visitar suas paróquias e comunidades. Já agora se perguntem: aqueles que baterão à porta da minha casa, como irão encontrá-la? Se a encontrem aberta, – continuou o Santo Padre – através de sua bondade, da sua disponibilidade, experimentarão a paternidade de Deus e entenderão como a Igreja é uma boa mãe, que sempre acolhe e ama”.
O segundo pensamento: caminhar com o rebanho: “acolher todos para caminhar com todos. O Bispo – frisou Francisco – está em caminho “com” e “no” seu rebanho. Isto significa caminhar com os próprios fiéis e com todos aqueles que se dirigirão a vocês, partilhando com eles alegrias e esperanças, dificuldades e sofrimentos, como irmãos e amigos, mas, mais ainda como pais, que são capazes de escutar, compreender, ajudar, orientar. O caminhar juntos requer amor, e o nosso é um serviço de amor, amoris officium dizia Santo Agostinho.
E no caminhar – continuou o Pontífice -, gostaria de recordar o afeto para com os seus sacerdotes. Eles são os mais próximos do Bispo, indispensáveis colaboradores dos quais buscar conselho e ajuda, e dos quais cuidar como pais, irmãos e amigos.
E o Papa deu alguns conselhos aos novos bispos:
“Entre as primeiras tarefas que vocês têm está o cuidado espiritual do presbitério, mas não se esqueçam das necessidades humanas de cada sacerdote, especialmente nos momentos mais delicados e importantes de seus ministérios e de suas vidas. Nunca é tempo desperdiçado o tempo passado com os sacerdotes! Recebam-nos quando solicitarem; não deixem sem resposta um telefonema; estar sempre próximo, em contato constante com eles”.
O Papa citou ainda a presença do bispo na diocese e recordou que na homilia da Missa do Crisma deste ano disse que os Pastores devem ter o “cheiro das ovelhas”. Sejam Pastores com o cheiro das ovelhas, presentes no meio do seu povo como Jesus, o Bom Pastor. A presença de vocês não é secundária, é indispensável. É o próprio povo quem pede, quer ver o seu Bispo caminhar com ele, estar do lado dele. E o Papa acrescentou ainda o estilo de serviço ao rebanho, que deve ser humilde, mas também austero e essencial. “Nós pastores não somos homens com a ‘psicologia de princípios’, homens ambiciosos, que são esposos de uma Igreja, na espera de outra mais bonita, mais importante ou mais rica. Estejam muito atentos a não caírem no espírito do carreirismo! Não é só a palavra, mas também é, sobretudo, com o testemunho concreto de vida que somos mestres e educadores do nosso povo”.
O terceiro e último elemento proposto pelo Papa: permanecer com o rebanho.
“Refiro-me – disse Francisco – à estabilidade, que tem dois aspectos específicos: “permanecer” na diocese, e permanecer “nesta” diocese, sem buscar mudanças ou promoções. Não se pode conhecer realmente como pastores o próprio rebanho, caminhar à sua frente, no seu meio e atrás dele, cuidá-lo com o ensinamento, com a administração dos Sacramentos e com o testemunho de vida, se não se permanece na diocese. A nossa é uma época em que se pode viajar, se deslocar de um ponto a outro com facilidade, um tempo em que as relações são velozes, a época da internet. Mas a antiga lei da residência não passou de moda! É necessária para um bom governo pastoral. Permanecer, … continuou o Papa. Evitem o escândalo de serem “Bispos de aeroportos”! Sejam Pastores acolhedores, que caminham com o seu povo, com afeto, com misericórdia, com docilidade de tratamento e firmeza paterna, com humildade e discrição, capazes de olhar também aos seus limites e de ter uma dose de bom humor. E permaneçam com seus rebanhos!”.
O Papa concluiu seu discurso pedindo aos novos bispos que retornando às suas dioceses levassem a sua saudação a todos, em particular aos sacerdotes, aos consagrados e consagradas, aos seminaristas e a todos os fiéis, e a todos aquele que têm mais necessidade do proximidade do Senhor. A presença de dois bispos sírios – encerrou Francisco – nos leva mais uma vez a pedir juntos a Deus o dom da paz. Paz para a Síria, paz para o Oriente Médio, para paz o mundo! E pediu mais uma vez que rezem por ele como ele o faz por eles. (SP)
Fonte: Rádio Vaticano