O dom de Comunicar e Servir
Palavras de vida
A Verdade é uma só, e atravessa todas as épocas. Mas cada época tem a sua maneira própria de expressar essa verdade. Este é o desafio de qualquer pessoa que, hoje, deseje passar aos outros uma mensagem de fé e esperança. Estamos numa época muito desconfiada, por conta de decepções e amarguras. Isso aumenta a importância do “como dizer as coisas”.
Não estou me referindo a uma nova matéria teórica, a uma espécie de Curso Superior de Comunicação. Pessoas que têm uma vivência religiosa autêntica já possuem o essencial para essa comunicação efetiva.Mas alguns exemplos concretos sempre são úteis.
Um deles é o de Henri Nouwen, hoje em dia um dos autores espirituais mais conhecidos e apreciados. Nouwen nasceu na Holanda, onde foi ordenado sacerdote em 1957. Escreveu muitos livros, deu aulas em universidades famosas; mas acabou abandonando a vida acadêmica para trabalhar numa comunidade de deficientes — experiência que ele sempre descreveu como tendo sido definitiva para o seu amadurecimento espiritual. Morreu em 1996.
No trecho seguinte, extraído de “O sofrimento que cura” (Paulinas), ele tenta descrever alguns aspectos do que seria um “ministro” nos dias de hoje — alguém que está disposto a transmitir aos outros uma palavra de vida. “Um ministro não é um médico, cujo objetivo primário é eliminar a dor. Ao contrário, ele aprofunda a dor até o ponto em que ela possa ser partilhada. Quando alguém vai a um ministro com a sua solidão, só pode esperar que sua solidão seja entendida e sentida, de tal modo que ele não precise mais fugir dela, mas possa aceitá-la como expressão da nossa condição humana. Quando uma mulher sofre a perda de um filho, o ministro não é chamado para confortá-la com o argumento de que ela ainda tem dois filhos lindos em casa; ele é desafiado a ajudá-la a compreender que a morte de seu filho revela sua própria condição mortal, a mesma condição humana da qual ele e outros participam com ela.
A principal tarefa do ministro talvez seja a de impedir que as pessoas sofram pelas razões erradas. Muitas pessoas sofrem devido a falsas suposições que orientam suas vidas. Uma dessas suposições é a de que não deveria existir medo ou solidão, nem confusão ou dúvida. Mas esses sofrimentos só podem ser repartidos de modo criativo quando entendidos como ferimentos que integram a nossa condição humana.
Por isso, o ministério é um serviço de muita confrontação. Ele não permite que as pessoas vivam com ilusões de imortalidade e integridade. Ele continua a lembrar aos outros que eles são mortais e frágeis, mas também que a libertação começa com o reconhecimento dessa condição.
Uma dor partilhada não é mais paralisante, e sim mobilizante, já que entendida como um caminho para a libertação. Quando tomamos consciência de que não precisamos fugir de nossas dores, mas que podemos mobilizá-las numa procura comum pela vida, essas mesmas dores são transformadas de expressões de desespero em sinais de esperança“.
Texto de Luiz Paulo Horta