O Natal está chegando. Acolher Jesus é se colocar a serviço para transformar o mundo

Publicado em 19/12/2015 | Categoria: Mesa da Palavra Notícias |


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Liturgia da Missa – Reflexões para a Mesa da Palavra 

4º Domingo do Advento – Ano C

 

Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, às pressas, a uma cidade da Judéia. Entrou na casa de Zacarias, e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se agitou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito exclamou: «Você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu. Lc 1, 39-45

Era o tempo do comunismo. Num país do Leste Europeu, dois jovens amigos tomaram rumos diferentes na vida. Um se tornou sacerdote em sua cidade. O outro, membro influente do Partido Comunista na capital. Muitos anos depois o ateu retorna para passar o Natal na sua terra. Reserva um tempo para visitar o velho companheiro. Na antiga Igreja ele celebra a missa. Senta-se ao fundo da nave e aguarda. Todos saem e então se abraçam. Há muito assunto. A conversa é demorada. Resvala para as coisas de Deus e ateísmo. Religião e comunismo. O papo se inflama. Muita veemência na defesa do que acreditam. Foi então que o comunista apontou para dois pontos: O sacrário e o presépio montado. “Vocês acham que acreditam que Deus está ali. Claro que é de mentirinha. Caso cressem mesmo já teriam mudado o mundo! Imaginem um povo que tem Deus ao seu lado e ainda o carrega dentro de si. Ele pode tudo!” Essas palavras ressoaram na cabeça do padre até o momento da sua morte.

Estamos às vésperas do Natal. O Menino Jesus já vem. Daqui a pouco estará nascendo, pequeno e frágil, numa gruta de Belém. Aquele que é Senhor de todo o Universo chegará despossuído de tudo. Neste Quarto Domingo do Advento a Liturgia irá nos mostrar a mãe do Salvador, grávida, partindo para uma viagem.

Contemplaremos Maria se pondo na estrada. Fará isto apesar das dificuldades inerentes à gravidez. Estas se somavam ainda aos problemas naturais dos deslocamentos daqueles tempos. A região não é plana e nem havia automóveis nem ônibus. Ela terá que subir e descer morros. Sua prima, a mulher a quem irá visitar e que como ela também se encontra grávida, mora lá no alto em meio às montanhas.

Após o anúncio do anjo dois fatos bem marcantes ocorrem. Maria toma consciência da sua história, bem como da vida sofrida e tão explorada do seu povo. Mesmo sem compreender totalmente o mistério, sente que dentro dela vai sendo gerada nova realidade de justiça e paz. Reconhecida de toda essa grandeza seu coração se enche e ela canta o Magnificat.

Mas não basta denunciar a opressão e anunciar a ação de Deus. É preciso se colocar no caminho. A experiência de Deus faz com não se permaneça quieto. É necessário se por a serviço, é obrigatório se fazer serviço. Por isto, aquela que tem em seu ventre o Salvador, irá ao encontro daquela outra que carrega no seio o precursor.

Fôssemos capazes de ordenar pela sua importância, os encontros havidos na terra ao longo dos tempos, pelos fatores de qualidade, significado e relevância com certeza que este das duas grávidas, acontecido há quase dois mil anos, numa cidadezinha perdida entre as montanhas da Judeia, estaria entre os primeiros.

Na vida corre-se o risco da permanência somente nas intenções daquelas coisas que se almeja realizar. A zona de conforto na qual nos metemos, costuma fazer com que não se parta para cumprir o que foi sonhado e planejado. Lucas nos mostra nessa cena que Maria não se mantém presa ao plano das ideias. Coloca os pés na estrada. Parte para estar com uma mulher mais velha que enfim engravidara. Sua prima Isabel.

A gravidez de mulher mais madura, se hoje demanda maior atenção e cuidado, naquele tempo e lugar os riscos eram ainda muito maiores. Isabel necessitava apoio e a jovem grávida, mãe do Salvador, vai caminhar resoluta até ela para se postar ao seu serviço.

Esta é a parte da história que nos é contada pelo evangelista. Há um convite implícito para que imaginemos outras faces desse fato que permaneceram ocultos. Numa delas poderemos ver Maria também precisada de apoio. Faria muito bem a ela afastar-se por um tempo de Nazaré. A parenta mais experiente e sábia poderia lhe oferecer proteção naquela hora difícil. A partilha desses dois milagres da concepção, com certeza que geraria para as duas um maior entendimento da ação de Deus em suas gravidezes.

É fácil de conceber a quantidade de mexericos, dos quais a mãe de Jesus estava sendo vítima em Nazaré. Ainda prometida em casamento a um homem justo, ela engravidara. Uma adolescente esperando o filho que nem era do seu noivo José. Dá para imaginar o tamanho da fofoca que rolava por lá. Cidade pequenina, composta de um povo conservador. Profundamente apegado ao conceito da honra pessoal e do clã.

Fazendo parte de uma mesma geração e se pondo em serviço para a mesma missão, os dois que ainda estão sendo gerados se mostrarão, alguns anos depois, completamente diferentes. João Batista representa para a humanidade o final de um período de tempo marcado pela espera do Messias. Jesus é a chegada desse novo tempo tão esperado. Emanuel, o Deus menino desejado por séculos está enfim chegando.

Aprofundando um pouco mais na contemplação deste sagrado e misterioso encontro, encontraremos, lá no andar de baixo que se faz oculto sob o véu das palavras ditas, mais riquezas a serem saboreadas.

A primeira delas é que Jesus, mesmo sem haver nascido, já se faz presente no serviço aos outros. Quando o Senhor está, haverá sempre o convite para se sair de si mesmo e partir em direção aos irmãos mais necessitados. E isto se dá não de agora, mas desde a sua concepção.

Carregar Jesus dentro de si é tornar-se, literalmente, sacrário vivo. É estar de posse do mandato de serviço aos irmãos e dentro da comunidade. Por isto o Natal se faz pleno na Eucaristia. Mas não basta comungar. A comunhão só estará completa realmente no momento em que seu portador se colocar à disposição dos que dele estejam necessitados.

A Eucaristia é transfiguradora. Ela nos faz sacrários e manjedouras. Deve fazer novas as pessoas que nela fazem seu Natal, acolhendo o Deus que vem dentro de si. Quem carrega Deus dentro de si pode tudo, como nos ensinava o comunista na historinha de hoje. Ter Deus dentro de si é realidade de todo dia e não somente do Natal. A partir dessa tomada de consciência, ter Deus no coração e não fazer nada não será sacrilégio e pecado?

Quem sabe não fosse também por isto que um tanto de místicos, lá nos primórdios do cristianismo, sabedores de quão tremenda é a Eucaristia, costumavam comungar só duas vezes ao ano? 

Sim, por seis meses se preparavam para receber o Cristo e os outros seis meses eram usados na ação de graças pela comunhão feita. Comungar e não se colocar a serviço, como Maria, sacrário vivo, é prova de que ainda não se compreendeu bem o sentido do Sacramento do Corpo de Jesus.

 

Para reflexão durante a semana

 

– Ponho-me a caminho para encontrar aqueles que estão precisados de mim?

 

– Que sentido tem para mim este encontro das duas grávidas mais importantes da história? Lembremo-nos de que o próprio Jesus irá dizer que João Batista é o maior homem nascido de mulher.

 

– Quando comungo e carrego no coração Jesus Cristo, sinto-me  vivendo o Natal e impelido ao serviço aos irmãos e à comunidade?

 

Fernando Cyrino


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