O pão de Santo Antônio
Distribuído por diversas paróquias brasileiras no dia 13 de junho, a tradição do Pão de Santo Antônio dá continuidade à ação fraterna do padroeiro dos pobres
Por Frei Alberto Beckhäuser, ofm
Pelo culto aos santos, a Igreja celebra sempre o mistério pascal. Os santos revelam o mistério de Cristo e conduzem a ele. Eles constituem, por assim dizer, o Evangelho vivido.
Entre os santos comemorados durante o mês de junho, destaca-se Santo Antônio de Lisboa e de Pádua, o Santo do mundo inteiro. Entre nós, simplesmente Santo Antônio.
Antônio é fonte abundante de Cristo e do Evangelho. Nessa fonte, uma multidão de fiéis devotos do Santo, inspira-se para uma vida cristã mais plena. Santo Antônio continua presente, a falar e a transmitir a mensagem do Evangelho, Jesus Cristo, através de suas imagens, como elas se apresentam hoje na devoção popular ao Santo.
Um dos símbolos mais presentes nas imagens do Santo, importante também para a Igreja dos nossos dias, dentro da nova evangelização, é o “Pão de Santo Antônio”, ou o Pão dos pobres, em referência à imagem de Santo Antônio distribuindo o pão aos pobres.
A história do “Pão de Santo Antônio” remete a um fato curioso Antônio comovia-se tanto com a pobreza que, certa vez, distribuiu aos pobres todo o pão do convento em que vivia. O frade padeiro ficou em apuros, os pães tinham sido ‘roubados’. Atônito, foi contar ao santo o ocorrido. Este mandou que verificasse melhor o lugar em que os tinha deixado. O Irmão padeiro voltou estupefato e alegre: os cestos transbordavam de pão, tanto que foram distribuídos aos frades e aos pobres do convento.
Mais do que a lenda da origem do “Pão de Santo Antônio”, o que importa é a riqueza do seu simbolismo.
Através de Santo Antônio, Jesus continua a realizar o grande milagre da multiplicação dos pães. Mas se olharmos para as narrações da multiplicação dos pães, veremos que Jesus nunca age sozinho; ele pede a colaboração dos apóstolos: “Dai-lhes vós mesmos de comer; quantos pães tendes, ide ver”. (Mc 6, 37-38) O grande milagre de Jesus está em multiplicar sua presença e sua ação nos seus discípulos. Por meio deles, Cristo sacia a fome da multidão faminta, tanto a fome espiritual como a fome corporal. O pão simboliza a vida, simboliza a fraternidade.
Talvez o maior milagre que Santo Antônio continua realizando seja justamente que sua mensagem e sua caridade continuem presentes em tantas obras, em tantas mulheres e homens capazes de dedicarem seu amor e seu serviço ao próximo.
Por meio de Santo Antônio, Nosso Senhor está convidando continuamente os cristãos a pensarem no bem do próximo, a amarem o próximo como a si mesmos e a darem uma atenção especial ao necessitado, ao pobre.
Durante a festa de Santo Antônio, o povo brasileiro lota as paróquias para conseguir o pão bento pelo sacerdote. Segundo a tradição popular, o pão deve ser colocado em uma vasilha de arroz ou de farinha, para que nunca nos falte alimento.
O significado desse símbolo, no entanto, é ainda mais amplo e pleno. Dar graças, ser generoso, pensar no bem comum, promover a vida: eis o mistério revelado no Pão de Santo Antônio. Não se dá apenas uma esmola. Podemos e devemos dar o trabalho, o tempo, a atenção, o perdão, a seriedade e honestidade em nossa ação profissional, que vale muito mais do que o dinheiro.
O milagre do Pão de Santo Antônio continua até hoje em seus devotos. Ele nos ensina e nos ajuda a sermos mais cristãos. Nele, manifesta-se a espiritualidade pascal, dos atos de amor, das ações de serviço ao próximo, da promoção do ser humano, para que tenha vida e a tenha em abundância.
Frei Alberto Beckhäuser, religioso franciscano, escritor e professor do Instituto Teológico Franciscano (ITF) de Petrópolis, RJ