Padre Lombardi: Papa Francisco trouxe esperança para todos

Publicado em 27/05/2014 | Categoria: Notícias |



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O último dia do Papa Francisco na Terra Santa foi rico de mensagens e gestos fortes. Um dia marcado pelo encontro com o mundo muçulmano, pelos vários eventos relacionados com a comunidade hebraica e o Estado de Israel e, finalmente, pelos momentos com a comunidade cristã no Getsémani e no Cenáculo, na dimensão de oração, típica desta peregrinação. O director da Sala de Imprensa do Vaticano, padre Federico Lombardi, comentou telefonicamente esta viagem histórica do Papa Francisco à Terra Santa nos microfones da RV [Gabriella Ceraso].

Certamente, na parte da manhã o encontro com o Islão, o encontro com o hebraísmo e o Estado de Israel foram particularmente significativos e foram também o foco de atenção dos media internacionais. Eu acho que o pequeno acto original desta viagem, o momento do abraço diante do Muro das Lamentações do Papa com o rabino e a personalidade muçulmana, o abraço de três amigos, três religiões diferentes diante do “Muro das Lamentações” foi realmente um pequeno mas grande sinal, porque para além de todos os discursos sobre o diálogo inter-religioso, as dificuldades de se entender um ao outro e assim por diante, e depois a cultura do encontro de que fala o Papa, o encontro entre pessoas concretas que se tornam capazes de se entender um ao outro e, portanto, também de trabalhar juntos para construir a paz, que é – acho eu – a via fundamental mais determinante. Um outro grande encontro pessoal, que parece ter caracterizado esta manhã, é o que aconteceu entre o Papa e o presidente Peres: eu tive a impressão de que eles são dois grandes sábios construtores de paz. O Papa, naturalmente, com a sua autoridade de líder religioso que convida a rezar pela paz, e também uma pessoa verdadeiramente sábia que passou uma vida longa através de muitas situações, mas que se vê que aspira realmente a um mundo melhor, que quer colocar a sua experiência de vida ao serviço da busca do bem comum dos povos, superando as tensões e fazendo a paz. A maneira como o Papa falou também do acolhimento de Peres, e em cuja “casa”, ele se sentia feliz, parece-me que foi um grande elogio e uma óptima premissa também para este próximo encontro de oração pela paz, que foi substancialmente confirmado pelas pessoas convidadas e que, portanto, esperamos que possa ter lugar bastante brevemente, no Vaticano.

Nalguns momentos o Papa parecia emocionado, mas também muito provado: quando ele disse o seu “não” à violência em nome de Deus, mas também o “nunca mais a monstruosidade do Holocausto”, como se tivesse sobre si a vergonha do homem, de quanto o homem é capaz de fazer nos momentos de escuridão total …

É verdade. O Papa usou uma expressão que me parece que é muito própria, característica, quando fala da vergonha. É uma palavra bíblica, em que também os antigos profetas, quando falavam da experiência do pecado e do peso do pecado sobre a humanidade e o povo de Israel, diziam: “A vergonha para nós que não fomos capazes de construir a paz”. Pois esta palavra vergonha, de facto, no discurso do papa no Yad Vashem pareceu-me precisamente que revelava este seu sentimento profético muito forte que lhe dá, por vezes, um tom particularmente perspicaz que nos toca e nos sacode.

Finalmente, no Getsémani, e em seguida no Cenáculo, os dois últimos eventos deste dia intenso e, mais uma vez, é a luz da esperança que o Papa pede aos cristãos de testemunhar. E depois, também reiterou a ideia de uma igreja que sai fora, uma Igreja em serviço, que é um outro tema que lhe é muito querido …

Claro, porque no Cenáculo foi celebrada a Missa de Pentecostes e, portanto, exactamente o evento da Igreja que, recebendo o Espírito, se torna missionária. Eu diria que pudemos experimentar a alegria desta celebração mesmo no lugar originário da missão da Igreja pelo poder do Espírito ….

Contudo, o tema da esperança pareceu quase prevalecer, mesmo nestes últimos momentos do dia …

Certamente, a presença do Espírito que dá vida, acompanha, e torna presente Jesus Cristo ressuscitado, é um Espírito que alimenta evidentemente uma esperança mais forte que qualquer forma de desânimo pelas dificuldades que estão à nossa volta. Portanto, mesmo nesta terra, mesmo com os problemas que as comunidades eclesiais podem ter, que as comunidades dos povos podem ter. E com o anúncio do Espírito que desce para nos tornar missionários e renovar, para renovar a Criação, é um anúncio de esperança para todos!

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Patriarca Bartolomeu fala do encontro com o Papa Francisco em Jerusalém


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Em 1964 iniciou um caminho “que agora já não pode mais parar”: ainda não chegámos “à meta da unidade dos cristãos”, mas a partir daquele momento, “aprendemos a perdoar-nos uns aos outros pelos erros e desconfianças do passado, e demos passos importantes no sentido da aproximação e reconciliação”. Agora “chegou o momento de seguirmos em frente – diz Bartolomeu, Patriarca de Constantinopla – e com o Papa Francisco faremos precisamente um bom passo em frente” – uma convicção que o patriarca tem alimentado desde que ele encontrou o bispo de Roma, por ocasião das celebrações do início do ministério papal, quando se aproximava o quinquagésimo aniversário do “histórico abraço de Jerusalém”. Dos frutos que ele espera deste encontro Bartolomeu fala na entrevista ao nosso jornal, na vigília da partida para a Terra Santa.


Papa Francisco nos passos do Papa Paulo VI, 50 anos mais tarde. Durante esse tempo, passou-se do “diálogo do amor” ao “diálogo da verdade”. E agora, como poderá continuar o caminho, em vista da meta final?

 

Não há dúvida que o histórico encontro entre os nossos veneráveis Predecessores, o Patriarca Ecuménico Atenágoras e o Papa Paulo VI marcou um novo início nas relações entre o catolicismo e a ortodoxia. É importante lembrar que aquele encontro seguia-se a um milénio inteiro de desconfiança recíproca e de distanciamento teológico entre as nossas duas grandes tradições. Apesar da nossa história comum de Escritura e Tradição, as nossas duas Igrejas, arriscavam portanto, de ser danificadas pelo isolamento e a auto-suficiência, tendo seguido caminhos diferentes a partir do século XI. O encontro em Jerusalém, no dia 5 de Janeiro de 1964, foi um ponto de partida extraordinário para o longo caminho de reconciliação e de diálogo, que as gerações posteriores foram chamadas a continuar. Olhando para trás nos últimos cinquenta anos, podemos ser gratos a Deus por aquilo que foi alcançado, tanto no “diálogo de amor” como no “diálogo da verdade”. O espírito de amor fraterno e de respeito recíproco tomou o lugar das velhas polémicas e suspeitas.

 

E a nível teológico?

 

A Comissão mista internacional para o diálogo teológico das duas Igrejas produziu vários importantes documentos conjuntos. Estamos, no entanto, conscientes de que ainda há muito a fazer entre as nossas duas Igrejas, bem como dentro delas. Sem dúvida, o caminho é longo e difícil. Contudo, como discípulos de nosso Senhor, que rezou ao Pai e exortou aos seus discípulos a serem “um” – ut unum sint, lemos no Evangelho de João (17,21) – não temos outra alternativa senão prosseguir este caminho de reconciliação e de unidade. Qualquer outro caminho seria uma traição vergonhosa da vontade do Senhor e um retorno inaceitável ao nosso passado separado.

 

Disse recentemente que espera poder convocar em breve o Grande Concílio da Igreja Ortodoxa para simbolizar a unidade da sua Igreja. Poderá ser também uma ocasião para redescobrir o valor da unidade de todos os cristãos?

Durante a última assembleia, a synaxis dos chefes das Igrejas Ortodoxas autocéfalas do mundo, que teve lugar em Istambul de 6 a 9 de Março últimos, os primazes das Igrejas Ortodoxas falaram da questão do Santo e Grande Sínodo da Igreja Ortodoxa, tendo decidido por unanimidade que, acelerando o processo de preparação, será convocado em Constantinopla em 2016. Este Sínodo, como observa, será um sinal vital de unidade entre as Igrejas Ortodoxas, num momento em que o mundo exige uma resposta unificada aos seus desafios fundamentais. Durante tal assembleia, informámos aos irmãos primazes sobre o nosso próximo encontro com o Papa Francisco em Jerusalém. Eles exprimiram assim o seu apoio ao evento e reiteraram o seu empenho em favor do diálogo teológico com a Igreja Católica Romana. Isto é importante, uma vez que o encontro em Jerusalém será muito mais de uma confirmação simbólica da nossa disponibilidade de continuar no caminho de amor iniciado há 50 anos pelos nossos predecessores em espírito de fidelidade à verdade do Evangelho. Será também uma importante ocasião para que o mundo possa ver uma abordagem unida – para além das identidades confessionais e das diferenças – ao sofrimento dos cristãos em tantos lugares, especialmente nas regiões onde o cristianismo nasceu e se desenvolveu . Além disso, também será uma oportunidade para falarmos das injustiças que os membros mais vulneráveis ​​das sociedades contemporâneas são obrigados a suportar, assim como das preocupantes consequências da crise ecológica.

 

Há muita expectativa por este encontro. E muitos nutrem esperanças concretas de um passo em frente decisivo que leve a superar os obstáculos que ainda impedem a unidade entre os cristãos. Quais são as suas expectativas e as suas esperanças?

 

Hoje, mais do que há cinquenta anos, há uma necessidade urgente de reconciliação, e isto faz com que o nosso próximo encontro com o Papa Francisco em Jerusalém seja um evento de grande significado. Trata-se naturalmente – como devemos humildemente entender e admitir – apenas de um primeiro passo para irmos ao encontro do mundo, como afirmação do nosso desejo de aumentar os esforços em favor da reconciliação cristã e pacífica. Isto demonstrará igualmente a nossa disponibilidade e responsabilidade comum em progredir no caminho preparado pelos nossos predecessores. Portanto, como líderes eclesiásticos e espirituais, vamos nos encontrar para dirigir um apelo e um convite a todas as pessoas, independentemente da sua fé e suas virtudes, por um diálogo que, no fundo, visa o conhecimento da verdade de Cristo e a saborear a imensa alegria que acompanha o encontro com Ele. Contudo, em última análise, isto só é possível eliminando a separação interior entre uns e outros e através da unidade de todo o povo em Cristo, que é a verdadeira plenitude do amor e da alegria.

 

Mas este era o objectivo também do encontro de 1964.

É claro que de 1964 até hoje não alcançámos a plena comunhão, que deve ser sempre o objectivo final dos fiéis discípulos de Cristo. Contudo, aprendemos a perdoar-nos uns aos outros pelos erros e a desconfiança do passado; e demos passos importantes no sentido da reaproximação e a reconciliação. Atenágoras e Paulo VI foram certamente grandes precursores da unidade. No entanto, outro passo importante para a reconciliação e a unidade será realizado, com a graça de Deus, no dia 25 de Maio de 2014, através do encontro com o nosso irmão Papa Francisco. Que tudo seja segundo a vontade de Deus.

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Fonte: Rádio Vaticano



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