Papa: “Crianças e mulheres de rua não são números, não são ‘pacotes’ de troca”
O Papa Francisco recebeu na manhã desta quinta-feira, na Sala Clementina, no Vaticano, os 80 participantes no Simpósio Internacional sobre a Pastoral de Rua, promovido pelo Pontifício Conselho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes.
No seu discurso aos presentes o Papa destacou a finalidade destes dias de estudo e de reflexão, ou seja, preparar um plano de ação em resposta ao fenômeno das crianças e mulheres – e das suas famílias – que têm como principal ambiente de vida, a rua. “Tenho uma grande estima pelo seu compromisso em tutelar e promover a dignidade dessas crianças e mulheres; por isso, os encorajo a irem avante com confiança e impulso apostólico”, disse o Papa.
Em seguida chamou a atenção para as realidades que eles encontram, às vezes muito tristes, causadas pela indiferença, pela pobreza, pela violência familiar e social, e pelo tráfico de pessoas humanas. Não falta também – acrescentou -, a dor pela separação conjugal e o nascimento de crianças fora do matrimônio, destinados a uma vida “errante”.
“As crianças e as mulheres de rua não são números, não são “pacotes” a serem trocados: são seres humanos com seu próprio nome e seu rosto, com uma identidade dada por Deus a cada um deles”.
Nenhuma criança escolhe viver na rua, continuou o Papa. Infelizmente, também no mundo moderno e globalizado, muitas crianças são privadas de sua infância, de seus direitos, do seu futuro. A falta de leis e de instrumentos adequados contribui para agravar seu estado de privação: a falta de uma verdadeira família, a falta de educação e cuidados de saúde.
“Cada criança abandonada ou forçada a viver na rua, e que se tornou vítima de organizações criminosas, é um grito que se eleva a Deus, que criou o homem e a mulher à sua imagem; é um grito de acusação contra um sistema social que há décadas criticamos, mas que temos dificuldade em mudar segundo os critérios de justiça”.
É preocupante, continuou o Papa, ver um número crescente de jovens e mulheres que são forçados a ganhar a vida na rua, vendendo seus corpos, explorados por organizações criminosas e, por vezes, por parentes e familiares.
“Esta realidade é uma vergonha das nossas sociedades que se orgulham de serem modernas e de terem atingido elevados níveis de cultura e desenvolvimento. A corrupção generalizada e a busca do lucro a todo o custo privam os inocentes e os mais fracos das possibilidades de uma vida digna, alimentando o crime do tráfico de pessoas e outras injustiças que pesam sobre seus ombros”.
“Ninguém – destacou mais uma vez Francisco -, pode ficar indiferente diante da necessidade urgente de proteger a dignidade da mulher, ameaçada por fatores culturais e econômicos!”
Peço a vocês, por favor, – disse ainda o Papa – que não desistam diante das dificuldades dos desafios que interpelam a sua convicção, alimentada pela fé em Cristo, que demonstrou, até à morte na cruz, o amor preferencial de Deus Pai pelos mais fracos e marginalizados. A Igreja não pode permanecer em silêncio, as instituições eclesiais não podem fechar os olhos diante do nefasto fenômeno de crianças e mulheres de rua.
É importante envolver as diferentes expressões da comunidade cristã nos vários países, a fim de eliminar as causas que obrigam uma criança ou uma mulher a viver na rua ou ganhar a vida na rua.
Nós nunca podemos deixar de levar a todos, especialmente aos mais vulneráveis e desfavorecidos, a bondade e a ternura de Deus Pai misericordioso. “A misericórdia – finalizou Francisco -, é o ato supremo com o qual Deus vem ao nosso encontro, é o caminho que abre o coração à esperança de sermos amados para sempre”. (SP)