Papa Francisco pede Igreja de “portas abertas
O Papa Francisco pediu nesta sábado para que a Igreja se mantenha “de portas abertas”, citando o exemplo de padres que se recusam a batizar crianças nascidas fora do casamento. “Nós, muitas vezes, acabamos por ser controladores da fé ao invés de facilitadores”, lamentou em sua missa diária na residência de Santa Marta, no Vaticano, onde vive desde a sua eleição. O Papa citou o exemplo de um padre que se recusou a batizar o filho de uma mãe solteira, de acordo com uma passagem de sua homilia transmitida pela Rádio Vaticano. “Esta mulher teve a coragem de continuar a gravidez e de não devolver a criança a seu remetente. E o que ela encontrou? Uma porta fechada”, declarou, em linguagem muito direta.”Isto não é zelo, é colocar distâncias com Deus! Quando vamos por este caminho não ajudamos o povo de Deus”, frisou, acrescentando: “Jesus instituiu sete sacramentos e com este tipo de atitude criamos um oitavo: o sacramento da alfândega pastoral!”.
Em setembro de 2012, então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio já havia criticado os padres que se recusavam a batizar as crianças nascidas fora do casamento, chamando-os de “hipócritas”. Desde sua eleição, o Papa Francisco atinge os espíritos com sua linguagem simples e direta e sua proximidade com os fiéis, mantendo-se na linha de seus antecessores em termos de moralidade. Ele não hesita em repreender o clero: na quinta-feira convidou os bispos italianos a não se deixarem “seduzir pela perspectiva de uma carreira, a tentação do dinheiro”.
A acolhida cristã
Os cristãos que pedem nunca devem encontrar as portas fechadas. As igrejas não são escritórios onde apresentar documentos e papelada quando se pede para entrar na graça de Deus. “Não devemos instituir o oitavo sacramento, o da alfândega pastoral!”. É o acolhimento cristão o tema da reflexão do Papa Francisco na homilia da missa celebrada na capela da Domus Sanctae Marthae na manhã de sábado (25), entre outros com o cardeal Agostino Cacciavillan. Comentando o evangelho de Marcos (10, 13-16) o Pontífice recordou a repreensão dirigida por Jesus aos discípulos que queriam afastar dele as criancinhas que o povo lhe levava para lhe pedir uma carícia. Os discípulos propunham “uma bênção geral e depois todos fora”, mas o que diz o Evangelho? Que Jesus se indignou – respondeu o Papa – dizendo “deixai-os vir a mim, não lho impeçais. A quem é como eles pertence o Reino de Deus”.
Para explicar melhor o conceito o Pontífice fez alguns exemplos. Em particular o que acontece quando dois noivos que se querem casar se apresentam na sacristia de uma paróquia e, em vez de apoio ou felicitações, ouvem enumerar as despesas da cerimônia ou perguntar se têm todos os documentos. Assim por vezes, recordou o Papa, eles “encontram a porta fechada”. Deste modo quem teria a possibilidade “de abrir a porta agradecendo a Deus por este novo matrimônio” não o faz, aliás, fecha-a. Muitas vezes “somos controladores da fé e não felicitadores da fé do povo”. Trata-se de algo, acrescentou o Papa, que “começou no tempo de Jesus, com os apóstolos”.
Trata-se de “uma tentação que sentimos; a de nos apropriar, de nos apoderar do Senhor”. E mais uma vez o Papa recorreu a um exemplo: o caso de uma jovem mãe que vai à Igreja, à paróquia, pede para batizar o filho e sente-se responder “de um cristão ou de uma cristã”: não, “não podes, não és casada”. E prosseguiu: “Olhai para esta moça que teve a coragem de dar continuidade à sua gravidez” e não abortou: “O que encontra? Uma porta fechada. E assim acontece com muitas. Este não é um bom zelo pastoral. Isto afasta do Senhor, não abre as portas. E assim quando nós estamos neste caminho, nesta atitude, não fazemos o bem às pessoas, ao povo de Deus. Mas Jesus instituiu sete sacramentos e nós com esta atitude instituímos o oitavo, o sacramento da alfândega pastoral”.
“Jesus indigna-se quando vê estas coisas, porque quem sofre com isso? O seu povo fiel, o povo que tanto ama”. Jesus, explicou o Papa Francisco ao concluir a homilia, quer que todos se aproximem dele. “Pensemos no santo povo de Deus, povo simples, que se quer aproximar de Jesus. E pensemos em todos os cristãos de boa vontade que erram e em vez de abrir uma porta a fecham. E peçamos ao Senhor que todos os que se aproximam da Igreja encontrem as portas abertas para receberem este amor de Jesus”.
Fonte: L’Osservatore Romano/ Dom Total
Nesse sábado, durante audiência à assembleia plenária da Fundação vaticana “Centesimus Annus – Pro Pontífie”, o Papa também tratou a crise econômica e o desemprego, que ele descreveu como “uma mancha de óleo que se estende pelo ocidente… fazendo as fronteiras da pobreza diminuírem”. Para ele, a palavra “solidariedade” não deve ser entendida como “uma mera assistência aos pobres, mas como um desafio para alimentar todo o sistema global”.
Fonte: L’Osservatore Romano/ Dom Total