“Passar do estilo de vida morno ao alegre anúncio de Jesus”
Muitas pessoas consagradas foram perseguidas por terem denunciado atitudes de mundanidade: o espírito mau prefere uma Igreja sem riscos e morna. Foi o que disse o Papa Francisco na homilia da Missa celebrada na Casa Santa Marta.
Na sua homilia, o Pontífice comentou o capítulo 16 dos Actos dos Apóstolos, que narra Paulo e Silas em Filipos. Uma escrava que tinha um espírito de adivinhação começou a segui-los e, gritando, os indicou como “servos de Deus”. Era um louvor, mas Paulo, sabendo que esta mulher estava possuída por um espírito maligno, um dia o expulsou. Paulo – notou o Papa – entendeu que “aquele não era o caminho da conversão daquela cidade, porque tudo permanecia tranquilo”. Todos aceitavam a doutrina, mas não havia conversões.
Muitos consagrados perseguidos por terem dito a verdade
Isto se repete na história da salvação: quando o povo de Deus estava tranquilo, não arriscava ou servia – não “digo aos ídolos” – mas “à mundanidade”, explica Francisco. Então o Senhor enviava os profetas que eram perseguidos “porque incomodavam”, como ocorreu com Paulo: ele entendeu o engano e mandou embora esse espírito que, apesar de dizer a verdade – isto é, que ele e Silas eram homens de Deus – no entanto, era “um espírito de torpor, que tornava a igreja morna”. “Na Igreja – afirma – quando alguém denuncia tantos modos de mundanidade é encarado com olhos tortos, não deve ser assim, melhor que se distancie”:
“Eu lembro na minha terra, tantos, tantos homens e mulheres, consagrados bons, não ideólogos, mas que diziam: ‘Não, a Igreja de Jesus…’ – ‘Ele é comunista, fora!’, e os expulsavam, os perseguiam. Pensemos no beato Romero, não?, o que aconteceu por dizer a verdade. E muitos, muitos na história da Igreja, também aqui na Europa. Por quê? Porque o espírito maligno prefere uma Igreja tranquila sem riscos, uma Igreja dos negócios, uma Igreja cómoda, na comodidade do torpor, morna”.
No capítulo 16, se fala ainda dos patrões dessa escrava, que ficaram bravos com ela porque não podiam mais ganhar dinheiro às suas custas por ter perdido o poder de adivinhação. O Papa destacou que “o espírito maligno sempre entra pelo bolso”. “Quando a Igreja está morna, tranquila, toda organizada, não existem problemas, mas olhem onde há negócios”, afirmou Francisco.
Mas além do dinheiro, há outra palavra ressaltado pelo Pontífice, que é a “alegria”. Paulo e Silas são arrastados pelos patrões da escrava diante dos juízes, que ordenaram que fossem açoitados e levados à prisão. O carcereiro os leva para a parte mais escondida da prisão. Paulo e Silas cantavam. Por volta da meia-noite, há um forte tremor de terremoto e todas as portas da prisão se abrem. O carcereiro está para se matar antes que fosse assassinado por ter deixado os prisioneiros escaparem, mas Paulo o exorta a não se machucar, porque – disse – “estamos todos aqui”. Então o carcereiro pede explicações e se converte. Lava as feridas deles, é batizado e fica cheio de alegria”:
“E este é o caminho da nossa conversão diária: passar de um estado de vida mundano, tranquilo, sem riscos, católico, sim, sim, mas assim, morno, a um estado de vida de verdadeiro anúncio de Jesus Cristo, à alegria do anúncio de Cristo. Passar de uma religiosidade que olha demasiado para os lucros para uma religiosidade de fé e de proclamação: ‘Jesus é o Senhor’”.
Este é o milagre que o Espírito Santo faz. O Papa exortou então a ler o capítulo 16 dos Atos para ver como o Senhor “com os seus mártires” leva a Igreja para frente:
“Uma Igreja sem mártires não dá nenhuma confiança; uma Igreja que não se arrisca provoca desconfiança; uma Igreja que tem medo de anunciar Jesus Cristo e afugentar os demónios, os ídolos, o outro senhor, que é o dinheiro, não é a Igreja de Jesus. Na oração pedimos a graça e também agradecemos o Senhor pela renovada juventude que nos dá com Jesus e pedimos a graça que ele mantenha esta renovada juventude. Esta Igreja de Filipos foi renovada e tornou-se uma Igreja jovem. Que todos nós tenhamos isso: uma renovada juventude, uma conversão do modo de viver morno ao anúncio alegre que Jesus é o Senhor”. (BS-BF-SP)
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Papa às Pias Discípulas: longe dos profetas da desgraça, sede alegres
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (22/05), na Sala do Consistório, no Vaticano, cinquenta e três participantes do 9º Capítulo Geral das Pias Discípulas do Divino Mestre.
O Capítulo Geral das religiosas teve início, em Roma, no dia 10 de abril e prossegue até 28 de maio, sobre o tema “Vinho novo em odres novos”. No último dia 10, foi eleita a nova Superiora Geral, Ir. M. Micaela Monetti, que exercerá o cargo até 2023. Este é o segundo mandato da religiosa.
Comunhão
O Papa desejou às Pias Discípulas do Divino Mestre que esse tempo do Capítulo Geral traga frutos abundantes do Evangelho na vida do Instituto.
“Frutos, sobretudo, de comunhão. Abertas ao Espírito Santo, Mestre da diversidade e Mestre da unidade nas diferenças, vocês caminharão na comunhão que respeita a pluralidade, que as impulsione a tecer incansavelmente a unidade nas diferenças legítimas, considerando a sua presença em vários países e culturas. Como permitir a cada um de se expressar, de ser acolhido com os seus dons específicos, de se tornar plenamente co-responsável? Cultivando a atenção e o acolhimento recíproco, praticando a correcção fraterna e o respeito pelas irmãs vulneráveis, crescendo no espírito de viver juntas, banindo das comunidades as divisões, invejas e fofocas, dizendo as coisas com franqueza e caridade.”
Carismas
Francisco destacou os frutos de comunhão com os homens e mulheres de nosso tempo, com os irmãos e irmãs da Família Paulina, pois as Pias Discípulas do Divino Mestre tem como pai e fundador Pe. Tiago Alberione, e a missão de levar o Evangelho aos homens e mulheres de nosso tempo, “através do apostolado litúrgico e auxílio aos sacerdotes”.
Frutos de comunhão com outros carismas. “É o momento da sinergia de todos os consagrados para acolher as riquezas de outros carismas e colocá-los a serviço da evangelização, permanecendo fiéis à própria identidade. Ninguém constrói o futuro isolando-se, nem com as próprias forças”, disse o Papa.
Escuta
“O Capítulo Geral é tempo de ouvir o Senhor que nos fala através dos sinais dos tempos. Tempo de escuta recíproca e abertura ao que o Senhor nos comunica através dos irmãos. Tempo de confronto sereno e sem preconceitos entre os próprios projectos e os dos outros. Tudo isso requer abertura da mente e do coração.”
“O Capítulo Geral é um tempo propício para exercer o espírito do êxodo e da hospitalidade: sair de si para acolher com alegria a parte da verdade que o outro me comunica e juntos caminhar para a verdade plena e única que nos torna livres”.
Discernimento
“Ouvir as irmãs, como também os homens e as mulheres de hoje. Nesse tempo de grandes desafios, que exigem dos consagrados fidelidade criativa e busca apaixonada, a escuta e a partilha são muito necessárias, se quisermos que a nossa vida seja plenamente significativa para nós mesmos e para as pessoas que encontramos.”
“Para tal objectivo é necessário manter um clima de discernimento, para reconhecer o que pertence ao Espírito e o que é contrário a Ele. Diante de nós se abre um mundo de possibilidades. A cultura em que estamos imersos nos apresenta todas como válidas e boas, mas se não quisermos ser vítimas da cultura do zapping, e às vezes de uma cultura de morte, devemos incrementar o hábito do discernimento, nos formar e formar para o discernimento. Nunca se cansem de se perguntar como indivíduo e comunidade: Senhor, o que devo fazer? O que devemos fazer?”
Profecia
Segundo Francisco, “o Capítulo é também tempo para renovar a docilidade ao Espírito que anima a profecia. Este é o valor irrenunciável para a vida consagrada, pois é uma forma especial de participação na missão profética de Cristo”.
O Papa encorajou as religiosas a viverem “a profecia da alegria, aquela que nasce do encontro com Cristo numa vida de oração pessoal e comunitária, de escuta da Palavra, no encontro com os irmãos e irmãs, numa vida comunitária fraterna e alegre, inclusiva da fragilidade e que abraça a carne de Cristo nos pobres”.
Francisco incentivou as Pias Discípulas do Divino Mestre a serem “profetas da esperança com os olhos voltados para o futuro”. “Como todos os discípulos de Jesus sabemos que a esperança é para nós uma responsabilidade. Jesus Cristo é a nossa esperança. Nele depositamos a nossa confiança e com a força do Espírito Santo podemos ser profetas da esperança. Não se unam aos profetas da desgraça que fazem tanto mal à Igreja e à vida consagrada”, concluiu. (BS/MJ)
Papa: Regina Coeli na Praça de S. Pedro
No domingo, dia 21 de Maio de 2017, o Papa Francisco procedeu, às 12 horas locais de Roma, à celebração do Regina Coeli na Praça de S. Pedro, repleta de fiéis e peregrinos proveniente de diversas partes da Itália e do mundo inteiro.
Comentando o texto do Evangelho de domingo, sexto tempo pascal (Jo 14, 15-21), Francisco fez notar que é a continuação do Evangelho da semana passada que disse, “nos conduz àquele momento comovente e dramático que é a última ceia de Jesus com os seus discípulos”.
O Evangelista João recolhe da boca do Senhor os seus últimos ensinamentos antes da paixão e da morte. Jesus promete aos seus amigos que, depois dele receberão um “outro Paráclito”, isto é um outro “Advogado defensor e consolador, o “Espírito da verdade” e acrescenta: não vos deixareis órfãos: voltarei para junto de vós”.
Estas palavras, sublinha o Santo Padre, transmitem a alegria de uma nova vinda de Cristo: Ele ressuscitado e glorificado, habita no Pai e, ao mesmo tempo, vem até nós através do Espírito Santo. E nesta sua nova vinda se revela a nossa união com Ele e com o Pai: “reconhecereis que Eu estou no Pai e que vós estais em Mim e Eu em vós”.
Meditando estas palavras de Jesus temos a percepção da fé de ser o povo de Deus em comunhão com o Pai e com Jesus mediante o Espírito Santo. Neste mistério de comunhão a Igreja encontra o mistério inexaurível da própria missão que se realiza mediante o amor.
De facto, recorda o Pontífice, Jesus no Evangelho deste domingo nos diz “ se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre, esse realmente Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai e Eu amálo-ei e manifestar-Me-ei a ele”.
É o amor que nos introduz no conhecimento de Jesus, graças à acção do Espírito Santo. O amor a Deus e ao próximo é o maior mandamento do Evangelho. O Senhor chama-nos hoje a corresponder generosamente à chamada evangélica ao amor, colocando Deus no centro da nossa vida e dedicando-nos ao serviço dos irmãos, especialmente dos mais necessitados de ajuda e de consolação.
Se existe uma atitude que nunca foi fácil mesmo para uma comunidade cristã, é próprio a atitude de saber amar segundo o exemplo do Senhor. Muitas vezes os contrastes, o orgulho, as invejas, as divisões deixam um sinal indelével sobre o rosto da Igreja. Uma comunidade cristã deveria viver na caridade de Cristo, mas pelo contrário, é próprio ali, neste âmbito que o maligno intervém e nós, as vezes, deixamo-nos enganar. E quem paga por tudo isso são as pessoas espiritualmente mais frágeis. Quantos de entre eles se afastaram porque não se sentiram acolhidos, compreendidos e amados.
Também para um cristão, saber amar não é um dado adquirido uma vez por todas; trata-se de uma conquista: cada dia é preciso recomeçar, se deve exercitar para que o nosso amor para com os irmãos e irmãs que encontramos se torne maduro e purificado daqueles limites ou pecados que o tornam parcial, egoístico, estéril e infiel. Cada dia se deve aprender a arte de amar, cada dia deve-se seguir com paciência a escola de Cristo, com a ajuda do seu Espirito.
Francisco concluiu a sua meditação fazendo votos para que a Virgem Maria, perfeita discípula do seu Filho e Senhor, nos ajude a ser cada vez mais dóceis ao Paráclito, o Espírito da verdade, para que possamos aprender cada dia, a amar como Jesus nos amou.
Após a alocução do Regina Coeli, Francisco falou aos milhares de fiéis e peregrinos presentes na Praça de S. Pedro, das “dolorosas notícias” da situação de guerra e das suas vítimas e dos desalojados, que chegam da República Centro Africana, país que, disse Francisco “conservo no coração”. O Papa manifestou a sua aproximação para com as populações, aos bispos e todos aqueles que estão empenhados na causa da paz e da convivência pacifica naquele país. “Rezo para os defuntos, os feridos e renovo, o meu apelo: calem as armas e prevaleça a boa vontade de dialogar para dar ao país a Paz e o desenvolvimento.
O Santo Padre pediu em seguida aos presentes para que se unam todos juntos a ele e a toda a Igreja no próximo dia 24 de Maio em união espiritual com os fiéis católicos da China, por ocasião da Beata Virgem Maria “Ajuda dos Cristãos” venerada no Santuário Sheshan em Shanghai e pediu aos chineses que concentrem o seu olhar em Maria nossa Mãe, para que nos ajude a discernir a vontade de Deus sobre o caminho concreto da Igreja na China e para que nos ajude a acolher com generosidade o projecto de amor . Não esqueçamos, disse, de testemunhar a fé com a oração e com o amor, mantendo-nos sempre abertos ao encontro e ao diálogo.
Francisco saudou todos os fiéis e peregrinos presentes na Praça de S. Pedro, provenientes de diversas partes de Itália, da Europa e do mundo, entre eles também o grupo do Colégio S. Tomás de Lisboa.
Finalmente o Santo Padre anunciou que na quarta-feira do dia 28 de Junho vai presidir o Consistório para a criação de 5 novos Cardeais que, disse, “representam a universalidade da Igreja”, e vai concelebrar no domingo, 29 de Junho, por ocasião da Solenidade de S. Pedro e S. Paulo, a Santa missa juntamente com os novos Cardeais.
Os futuros cardeais provêm da Espanha, Suécia, Laos, El Salvador e Mali:
São eles:
Dom Jean Zerbo, Arcebispo de Bamako, no Mali
Dom Juan Jose Omella, Arcebispo de Barcelona, na Espanha
Dom Anders Arborelius, Bispo de Estocolmo, Suécia
Dom Louis-Marie Ling Mangkhanekhoun, Bispo e Vigário apostólico de Paksé, Laos
Dom Gregório Rosa Cháves, Bispo auxiliar da Arquidiocese de San Salvador, El Salvador
Fonte: Rádio Vaticano