Festa na Capela Bom Pastor
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O PASTOR, OS PASTORES E A PASTORAL
Na liturgia deste domingo, o evangelho traz as palavras de Jesus sobre o “bom pastor” (Jo 10,11-18) e a 1ª leitura (At 4,8-12) nos mostra o primeiro pastor da jovem comunidade cristã, Pedro, defendendo o rebanho perante o supremo conselho dos judeus em Jerusalém. Dois exemplos de pastores que põem em jogo sua vida em prol de suas ovelhas. Por isso, também, este domingo é o domingo das vocações “pastorais”.
Antes, porém, de assimilar a mensagem destas leituras é preciso nos deslocarmos para as estepes da Judeia, para imaginar o que significa a imagem do “pastor”. O povo de Judá era, tradicionalmente, um povo de pastores de ovelhas e cabras. Assim, por exemplo, o rei Davi foi chamado de detrás do rebanho para ser rei de Judá e Israel. Ora, havia pastores proprietários, para quem o rebanho era seu sustento, e assalariados, que não se importavam muito com o rebanho… Todo judeu conhecia a história de Davi, que, para salvar o rebanho de seu pai Jessé, correu risco de vida enfrentando um leão (1Sm 17,34-37). E conheciam-se também as advertências proféticas contra os maus pastores de Israel (os reis e chefes) que se engordavam à custa das ovelhas em vez e de conduzi-las à pastagem (Ez 34,2 etc.).
O pastor “certo” é Jesus, diz Jo 10,11. Ele conduz as ovelhas com segurança, dando a vida por elas, pois são pedaços de seu coração, à diferença dos mercenários, que fogem quando se apresenta um perigo: um leão, um lobo… Jesus é o pastor de verdade, o Messias, o novo Davi e muito mais! Ele dá a vida pelas ovelhas. O caminho pelo qual conduziu as ovelhas foi o do amor até o fim. Ele deu o exemplo. Sua vida certamente não esteve em contradição com sua “pastoral”, como acontece com outros.
O que é pastoral? Não é chefia e organização. É conduzir, no amor demonstrado por Jesus, aqueles que viram nele resplandecer a vida e a salvação. Os que escutam sua voz. Pastoral é evangelização continuada, é fidelidade à boa-nova proclamada. Assim como a “pastoral” de Jesus, talvez exija fidelidade até a morte (desde Tiago e Pedro até Dom Oscar Romero e os demais mártires de hoje). Os pastores têm de identificar-se com Jesus, que dá a vida pelos seus.
Quem são as ovelhas? São os que seguem a voz do pastor. Mas não só os que participam da Igreja de modo organizado. A organização da comunidade não é o último critério para a missão pastoral. Diante dos discípulos que eram de origem judaica, Jesus declarou: “Tenho ainda outras ovelhas, que não são deste rebanho” (Jo 10,16). A pastoral tem uma dimensão missionária que ultrapassa os integrados e os organizados!
E quem são os pastores? Há pastores constituídos, os que participam do sacramento da Ordem (papa, bispos, presbíteros, diáconos). Mas, como o Espírito sopra onde quer, a vocação pastoral pode estender-se além desses limites. Cada um pode ser um pouco “pastor” de seu irmão. Até os serviços que a Igreja anima para a transformação da sociedade são chamados de pastorais (pastoral da terra, da mulher marginalizada, dos direitos humanos, direitos socioambientais etc.). O que importa é que os agentes pastorais assumam o empenho da própria vida na linha de Jesus e de seu testemunho de amor. Que sejam “bons pastores”, amando a Cristo e a seus irmãos de modo radical, dando a vida por eles. Que não usem as ovelhas para ambições eclesiásticas ou políticas. Que não sejam traiçoeiros. Que transmitam a seus irmãos o carinho de Deus mesmo.
(Parte do Roteiro Homilético foi elaborada pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro “Liturgia Dominical”, Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da “Bíblia Ecumênica” – TEB e a tradução da “Bíblia Sagrada” – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total. A produção do Roteiro Homilético é de responsabilidade direta do Pe. Jaldemir Vitório SJ, Reitor e Professor da FAJE.)
PISTAS PARA REFLEXÃO
– Há uma diferença muito grande e essencial entre o bom pastor e o mercenário: enquanto o primeiro protege e doa a própria vida para proteger a ovelha, o segundo pensa somente de acordo com os próprios interesses e benefícios; o primeiro sai de si para pensar no bem coletivo, e o segundo resume a vida a si mesmo e considera as pessoas como sujeitas ao seu serviço.
– Uma sociedade marcada por individualismo, egoísmo, violência, consumismo, intolerância e ódio há de se espantar com o estilo de vida do discípulo de Jesus. Todo discípulo deve se apresentar como sal da terra e luz do mundo. Nesse sentido, ser discípulo traz o significado profundo de causar diferença nos lugares por onde vive e passa. Fundamentalmente, o discípulo é um espelho que reflete a própria vida de Jesus. Assim, uma pergunta se torna essencial: em seus passos, que faria Jesus?
Fonte: Periódico da Editora Paulus – O Domingo./ Roteiro Homilético.