Papa se despede do Sri Lanka: Deus abençoe e proteja o país
O Papa Francisco já deixou o Sri Lanka e chega esta quinta-feira às Filipinas, segunda e última etapa de sua viagem à Ásia. Ao se despedir do país, o Papa publicou esta quinta-feira uma mensagem no Twitter: “Deus abençoe e proteja o Sri Lanka”.
De Colombo, o correspondente da RV, Silvonei José, faz um balanço da passagem de Francisco pelo país:
O Papa Francisco concluiu a sua visita ao Sri Lanka, primeira etapa da sua viagem ao continente asiático, o mais populoso do planeta e com o menor número de católicos, que agora o leva às Filipinas. O último compromisso, antes de partir do aeroporto internacional de Colombo uma rápida visita ao Instituto Cultural Bento XVI, uma iniciativa iniciada em 2011 pelo Arcebispo de Colombo, Cardeal Malcolm Ranjith, com o objetivo de colaborar com as autoridades e outras instituições do país para reconstruir a nação após a desastrosa guerra civil que durou 30 anos. O Papa dentro da capela do Instituto se deve em oração diante da imagem de Nossa Senhora de Lanka.
O Sucessor de Pedro veio confirmar na fé os irmãos e sacudir as consciências para a real e possível reconciliação. Francisco pediu já no início de sua visita na terça-feira (13) o respeito aos direitos humanos e a busca pela verdade em um país, onde as feridas de uma longa guerra civil ainda não se cicatrizaram.
“A grande obra de reconciliação – disse – deve incluir a melhoria das infraestruturas e cobrir as necessidades materiais, mas, também, e ainda mais importante, promover a dignidade humana, o respeito dos direitos humanos”. Neste país ainda dividido entre cingaleses e a minoria tâmil, a Igreja tem um papel particular, já que há católicos nas duas comunidades, ser ponte, disse o Pontífice.
Foram dias marcados pela alegria de um povo que invadiu as ruas para saudar o “homem que veio de longe”. Uma alegria contagiante que as pessoas demonstram desde os primeiros momentos de sua chegada. As bandeiras, os cantos, os sorrisos, o corre-corre pelas ruas deram o tom do que ocorreu aqui em Colombo. O povo cingalês fez com que o Papa se sentisse em casa, como um velho amigo que vinha reencontrar velhos companheiros de viagem. Mas naquele abraço ideal a Francisco não estava somente a demonstração de carinho e afeto dos católicos e cristãos mas também a expressão de todo um povo, budista, hinduísta, muçulmano, que olhou para este peregrino da paz, para o “líder que beija os pés”, como descreveu um dos jornais a figura de Francisco, como uma pessoa de casa. A sua humildade contagiou as pessoas que mesmo de religiões diferentes quiseram ver esse homem vestido de branco que veio do fim do mundo. Certamente para os cingaleses a expressão fim do mundo, em referência à Argentina tem uma dimensão precisa: muito longe de casa.
O Papa Francisco trouxe na sua bagagem uma mensagem de reconciliação aos cingaleses. Uma viagem que representa um sinal consistente da sua atenção ao continente asiático. E sai daqui com a certeza de sementes lançadas em terreno fértil.
Budistas, muçulmanos, protestantes, católicos, todos estão contentes pela visita do Papa, convictos de que a passagem de Francisco foi uma bênção para um país que começa uma nova etapa em sua história.
E o Santo Padre não desiludiu as expectativas encorajando o povo e o novo governo do país a curar as feridas e a buscar a unidade.
No encontro com os líderes religiosos budistas, hinduístas, muçulmanos e cristãos elevou sua voz para condenar o fundamentalismo apelando para que não se use a religião para a causa da violência ou da guerra.
Já a cerimônia de canonização de José Vaz, em Colombo, foi uma verdadeira festa da fé, um encontro com a realidade de uma Igreja que deseja ser ponte em uma sociedade em busca de um caminho comum. E o exemplo de humildade e santidade de São José Vaz certamente será de apoio e estímulo para um povo que vive a dimensão da sua fé em meio às vicissitudes de um país de maioria budista mas que deseja ser a terra de “todos os homens de boa vontade”.
Já a visita ao Santuário de Nossa Senhora de Madhu, fez com que o povo do Sri Lanka voltasse ao passado e vivesse com alegria, a sua fé. Este Santuário, símbolo da reconciliação nacional, no passado foi um campo de refugiados, daqueles que fugiam da guerra civil que durante 30 anos ceifou a vida de mais de 100 mil pessoas. Foi a primeira visita de um Pontífice a este local de oração onde Francisco rezou com os fiéis pela paz, pedindo a intercessão de Nossa Senhora por obter esse dom.
Francisco pediu ainda que Maria acompanhe com as suas orações os esforços dos cidadãos do Sri Lanka de ambas as comunidades, tâmil e cingalesa, em reconstruir a unidade perdida em um renovado espírito de reconciliação e fraternidade.
Francisco na sua chegada sublinhou que a visita era antes de tudo pastoral, mas disse ainda que a visita era a expressão do amor e a solicitude da Igreja por todos os cingaleses. Um amor que o Papa trouxe na bagagem e que deixou aqui, mas também leva consigo o amor de um povo que o ama – e demonstrou isso nestes dias – e ama a Igreja de Cristo.
A visita de Francisco é um novo início para o Sri Lanka e é vista como uma benção para a paz e a harmonia neste país; foi a visita de “um homem santo”, como escreveu um jornal local, que vela pela paz e pelo mundo. (Dos estúdios da Rádio Vaticano em Colombo, Sri Lanka, Silvonei José)
Nesta quinta-feira, antes de despedir-se do Sri Lanka e partir para a segunda etapa desta sua sétima viagem apostólica internacional indo para as Filipinas, o Papa Francisco visitou a Capela dedicada a “Nossa Senhora de Lanka” em Bolawalana. Para um balanço da viagem do Santo Padre a este país – a partir de alguns eventos não previstos –, o colega Silvonei José entrevistou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi:
Encontro do Papa com o ex-presidente
“Foram três eventos simples, mas significativos, que se somaram – como se dá habitualmente – ao programa. O primeiro foi a visita de cortesia do ex-presidente, com seu irmão, que era também um ministro do governo precedente, e com as respectivas mulheres. Como foi este ex-presidente a convidar o Papa a vir ao Sri Lanka, era também justo e normal que desejasse saudá-lo e expressar sua gratidão por ter vindo e pelo bom êxito da visita. Tratou-se, portanto, de uma visita de cortesia, muito simples, breve, mas que dá um sentido também de harmonia, de serenidade pelo fato desta mudança que provavelmente muitos não previam. E essa mudança deu-se de modo tão pacífico e tão respeitoso, que é um sinal certamente de maturidade também para a democracia e para o país do Sri Lanka e de seus responsáveis. Portanto, creio que este encontro tenha sido um elemento para a população do Sri Lanka que em grande parte também votou para este presidente. Um sinal positivo.”
Visita a um templo budista
RV: Houve um encontro também num templo budista?
Pe. Federico Lombardi:– “Sim. O Papa tinha encontrado no aeroporto um relevante representante de uma das organizações budistas, que lhe expressara o desejo de vê-lo e que queria encontrá-lo. Este personagem tinha vindo também para o encontro inter-religioso da terça-feira, junto a todos os outros monges budistas que estavam presentes. O Papa aproveitou o tempo que teve esta tarde para fazer uma rápida visita ao centro, em que está também o templo e a sala religiosa de oração desta comunidade budista. Foi acolhido com grande familiaridade. Foi-lhe bem explicada a realidade deste lugar de oração e lhe foi mostrado o Stupa, que contém relíquias e que é um dos objetos sagrados que têm no templo, diante da estátua de Buda; e inclusive abriram o objeto sagrado para o Papa, coisa que acontece – parece-me – somente uma vez por ano. Portanto, foi uma abertura excepcional como sinal de respeito, de honra, de amizade por esta grande autoridade religiosa que os visitava. Enquanto abriam este objeto que contém relíquias, alguns jovens monges que estavam ali presentes recitaram um canto, uma oração com muita naturalidade e simplicidade. Foi um momento breve, mas significativo da naturalidade, estilo familiar com que o Papa leva adiante as relações com as pessoas, inclusive das outras religiões. De certo modo, é a sua cultura e pedagogia do encontro pessoal que, depois, faz caminhar as grandes causas como a do diálogo inter-religioso. Também neste caso notamos isso. Este personagem budista tinha ali exposta uma bonita fotografia com o Papa Bento XVI: portanto se vê que é uma pessoa que cultiva o diálogo com as outras religiões e tinha estado no Vaticano por ocasião de uma audiência. Tinha uma bonita foto sua, de 2007, com o Papa Bento XVI… Portanto, não era uma pessoa nova na relação amistosa com os católicos.”
O abraço com os bispos
RV: O terceiro evento com os bispos do país…
Pe. Federico Lombardi:– “O Papa quis ir porque na terça-feira não tinha ido à residência arquiepiscopal de Colombo. Estava programado para a manhã de terça-feira, para pouco depois da chegada, uma visita para um encontro com todos os bispos do país e o almoço com eles: na realidade, como a viagem tinha sido longa e o trajeto do aeroporto até a Nunciatura Apostólica tinha sido feito sob o sol, o Papa estava cansado e o tempo estava reduzido, preferiu repousar para estar depois em forma para os encontros da parte da tarde. Como de fato se deu… Mas como esta tarde o Papa estava muito bem ao término do dia, quis então recuperar com um ato de amizade, de simpatia, esta visita aos bispos. Na realidade os bispos estavam voltando de Madhu, do norte do país, e tinham partido tarde e já estava meio escuro, com isso chegaram atrasados: desta vez, foram eles que fizeram o Papa esperar… foi um encontro breve, mas cordial e simpático.”
Extraordinária contribuição do Papa, superior às expectativas
RV: Pe. Lombardi, para concluir: estes dois dias intensos no Sri Lanka…
Pe. Federico Lombardi:- “O Papa deu verdadeiramente uma contribuição absolutamente extraordinária, diria muito superior ao que se pudesse imaginar. Ajudado também por uma circunstância de certo modo inesperada, que é o fato que estas eleições, que eram temidas, foram realizadas na paz e com a mudança abriram esperanças que levam a pensar que também na vida concreta desta sociedade, estas mensagens, estas palavras do Papa de reconciliação, de construção comum de uma nova sociedade reconciliada, possam tornar-se realidade. E isso é uma coisa muito bonita e nós esperamos que isso aconteça. A Igreja demonstrou-se muito ativa, presente, capaz de uma preparação pastoral profunda destes eventos. Portanto, creio que a Igreja será capaz também de levar adiante a herança desta viagem e das mensagens que o Papa lhe confiou para o bem da sociedade em seu conjunto.”
Papa muito contente
RV: O Papa está contente com a viagem?
Pe. Federico Lombardi:– “Sim que está contente! Muito contente! Ele a vive como uma graça de Deus e sente muito a ajuda da Providência que lhe dá forças para fazer coisas que normalmente uma pessoa com a sua idade não conseguiria fazer e lhe oferece também ocasiões para encontrar pessoas, povos numa forma tão positiva que abre o coração à esperança.” (RL)
Fonte: Rádio Vaticano