‘Precisamos fazer avançar o bem’,
‘A paz é possível onde se ensina, se assimila e se cultiva o respeito pelo ser humano’.
“Em saída, pela paz” é o nome do mais recente artigo de Dom Jaime Spengler, Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Ele começa a reflexão enumerando as seguintes exortações do papa Francisco: sair, “aprimeirar-se”, tomar a iniciativa, envolver-se, acompanhar, festejar.
Segundo o Prelado, diante dos desafios que a obra da construção da paz apresenta, somos convidados a nos sentir envolvidos em primeira pessoa pela questão. Para ele, trata-se de colaborar para buscar indicações, superar situações, apresentar soluções e desenvolver ações a fim de promover, a todos, vida serena e tranquila.
Dom Jaime ainda destaca que toda pessoa pode colaborar para tornar mais humana a família humana brasileira e a sua história. Conforme ele, urge fomentar sintonia entre as atividades profissionais, sociais, culturais e religiosas. “Não se pode reduzir o âmbito da fé à esfera do privado, sem considerar os deveres temporais e o cuidado para com os demais. Também não se pode reduzir a característica cristã de nosso povo e cultura à pertença a uma determinada comunidade de fé, seja grande ou pequena. Há valores, direitos, deveres, conquistas compreensíveis somente a partir do ocular da tradição cristã”, avalia.
Outro aspecto mencionado pelo Arcebispo é que há uma inegável ligação entre evangelização e promoção humana: em outros termos, a evangelização possui uma dimensão social. De acordo com ele, está marcada pelo “cuidado e promoção da dignidade humana em todas as etapas da sua existência: o cuidado com a família, com as crianças, os adolescentes e jovens, com os trabalhadores e trabalhadoras (…); a atenção dispensada aos migrantes, a promoção de uma sociedade que respeite as diferenças, o combate ao preconceito e à discriminação, o apoio a iniciativas de inclusão social dos indígenas e afrodescendentes, entre outras”.
O prelado também salienta que a paz é possível onde se ensina, se assimila e se cultiva o respeito pelo ser humano; onde cada um sabe considerar o outro como seu próximo, “sem qualquer exceção, como ‘outro ele mesmo’, e zele, antes de tudo, pela sua existência e pelos meios que são necessários para viver dignamente”.
Ele acrescenta ainda que o respeito devido a quem não crê não pode ser imposto de forma arbitrária, silenciando suas convicções religiosas. “A pessoa que crê vive no mundo, transformando-o, onde possam reinar a paz, a justiça, a tolerância, a fraternidade.” Além disso, Dom Jaime explica que diante do fenômeno da “globalização da indiferença”, precisamos cultivar a atenção para com o mundo em que vivemos, pois a cultura do conforto e do bem-estar a qualquer preço pode ofuscar nossa visão e compreensão dos fatos.
Segundo ele, corre-se o risco de cair na indiferença diante da violência que rouba a todos! “Precisamos fazer avançar o bem. Enquanto homens e mulheres de boa vontade, marcados pela fé, podemos favorecer o diálogo da Igreja com o mundo e a humanidade que o habita. A Igreja deseja participar do processo de construção de uma sociedade mais justa e humana, como condição para a tão desejada paz. Ela não pode ficar restrita ao âmbito da vida privada”, ressalta.
Por fim, o Arcebispo afirma que vale recordar o que disse o Papa: “Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar é que haja tantos irmãos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida”. Dom Jaime completa: “E podemos também dizer sem a necessária e salutar paz”.
SIR
Fonte: Dom Total