Qual é o sentido do Natal para os cristãos?

Publicado em 18/12/2012 | Categoria: Notícias |


Longe do consumismo que nos cerca, a festa do Natal recorda aos cristãos o nascimento do Filho de Deus, que veio para nos guiar pelos caminhos da paz. Mistério de luz e de amor, o Natal é compreendido também sob a ótica da Páscoa. Em Jesus Cristo, Deus se torna próximo de todo homem e o convida a aceitar seu amor em total liberdade.

No Natal, os cristãos celebram o nascimento de Jesus. Mas não apenas como um personagem histórico que mudou o mundo, nascido na província romana da Judeia, no tempo do imperador César Augusto. Na festa de Natal, recorda-se algo fundamental para a fé cristã: a Encarnação do Verbo divino para a redenção da humanidade. Trata-se de um episódio que o evangelista João resume com as palavras: “O Verbo se fez carne”.

“Naquela Criança, envolvida em panos e recostada na manjedoura, é Deus que vem-nos visitar para guiar nossos passos no caminho da paz”, afirma o Papa João Paulo II (mensagem Urbi et Orbi, 25 de dezembro de 2002).

Mas é possível “algo deste tipo?” – pergunta o Papa Bento XVI –. “É digno de Deus tornar-se criança?” (audiência geral de 17 de dezembro de 2008). “Para procurar abrir o coração a esta verdade que ilumina toda a existência humana, é necessário humilhar a mente e reconhecer o limite da nossa inteligência”, responde o Pontífice.

Na gruta de Belém – explica Bento XVI –, Deus se mostra aos homens como um humilde menino para derrotar a nossa soberba. Se Deus tivesse se encarnado envolto em poder, riquezas e glória, talvez o homem tivesse se rendido mais facilmente. Mas Deus “não quer a nossa rendição”. Pelo contrário, “faz apelo ao nosso coração e à nossa livre decisão de aceitar o seu amor”.

“Fez-se pequeno para nos libertar daquela humana pretensão de grandeza, que brota da soberba; encarnou-se livremente para nos tornar deveras livres, livres para o amar”, afirma o Papa.

No Menino recém-nascido, cujo rosto os cristãos contemplam no Natal, manifesta-se Deus-Amor: “Ele pede o nosso amor: por isto faz-se menino”. “Deus fez-se pequeno a fim de que nós pudéssemos compreendê-Lo, acolhê-Lo, amá-Lo” (homilia de 24 de dezembro de 2006).

Segundo o Papa, o fato de Deus assumir a condição de Menino indica o modo como os cristãos podem encontrar o próprio Deus. “Quem não compreendeu o mistério do Natal, não entendeu o elemento decisivo da existência cristã. Quem não acolhe Jesus com coração de criança, não pode entrar no reino dos céus” (audiência geral de 23 de dezembro de 2009).

Primeiro Presépio vivo

A atmosfera espiritual particular do Natal se deve a São Francisco de Assis. Na famosa celebração do Natal em Greccio (comuna italiana da região do Lácio), em 1223, São Francisco fez a representação de um presépio ao vivo. Assim “ofereceu uma contribuição decisiva para a difusão da tradição natalícia mais bonita, a do presépio” (Bento XVI, audiência geral, 23 de dezembro de 2009).

A noite de Greccio, com a representação ao vivo do presépio, “voltou a dar à cristandade a intensidade e a beleza da festa do Natal, e educou o Povo de Deus para compreender a sua mensagem mais autêntica, o calor particular, e a amar e adorar a humanidade de Cristo”.

“Com São Francisco e com o seu presépio eram postos em evidência o amor inerme de Deus, a sua humildade e a sua benignidade, que na Encarnação do Verbo se manifesta aos homens para ensinar um novo modo de viver e de amar”, afirma Bento XVI.

Graças a São Francisco, o povo cristão “pôde compreender que no Natal Deus se tornou deveras o ‘Emanuel’, o Deus-conosco, do qual não nos separa barreira nem distância alguma. Naquele Menino, Deus tornou-se tão próximo de cada um de nós, tão próximo, que podemos chamá-lo por tu e manter com ele uma relação confidencial de afeto profundo, assim como fazemos com um recém-nascido.”

 

O Natal é a antecipação do mistério pascal.

O Natal está presente na Igreja sempre envolto na luz e na realidade do mistério da Páscoa. Assim como a pregação evangélica vai remontar até a infância a partir da Ressurreição, e João vai projetar sobre o Verbo Encarnado a glória do Ressuscitado, assim também a Igreja vai contemplar o Natal à luz da Ressurreição (Castellano, 1989).

Na Igreja Oriental, o Natal já significa o princípio da Redenção. Na Igreja de Roma, de forma especial a partir do Papa Leão Magno (século V), o Natal é parte integrante do sacramento pascal.

“A festa de hoje renova para nós os primeiros instantes da vida sagrada de Jesus, nascido da Virgem Maria. E enquanto adoramos o nascimento do nosso Salvador, celebramos também o nosso nascimento. Efetivamente, a geração de Cristo é a origem do povo cristão. O natal da cabeça é também o natal do corpo” (São Leão Magno, LH, dia 31 de dezembro).

Portanto, em sua perspectiva teológica, o Natal é início do sacramento pascal, que compreende nas confissões de Fé a Encarnação do Filho de Deus. O Natal é também o início da Redenção, pois nele o Deus assume a natureza humana. Uma outra característica é que no Cristo da glória também está presente o mistério salvífico de seu Nascimento. E o “hoje” do nascimento de Cristo converte-se em presença eterna do Verbo/Palavra de Deus (Castellano, 1989).

A respeito da espiritualidade do Natal, podem-se destacar três características: é um mistério de luz – vitória sobre as trevas –; é restauração cósmica – início da normalização da comunhão com Deus, que fora perturbada pelo pecado; é intercâmbio da Redenção – “ao se tornar Ele um de nós, nós nos tornamos eternos (Prefácio III).

O Natal é ainda anúncio de paz, com a manifestação do “Príncipe da Paz” (segundo o profeta Isaías). O Nascimento do Senhor constitui também o jubiloso anúncio de uma grande alegria e a festa da glória de Deus.

Aos homens de hoje, o Natal continua se apresentando como uma festa universal. “De fato, mesmo quem não se professa crente, pode sentir nesta celebração cristã anual algo de extraordinário e de transcendente, algo de íntimo que fala ao coração”, afirma Bento XVI (audiência geral, 17 de dezembro de 2008).

* Fotos: Arquivo

Fonte: Arquidiocese do RJ



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