CF 2012 – Momento de Reflexão
Campanha da Fraternidade 2012
Que a saúde se difunda sobre a Terra
Estamos na Quaresma e este período de quarenta dias é tempo propício para que nos voltemos mais profundamente para o sentido da vida, buscando encontrar saídas mais bonitas e significativas para ela. Esses caminhos os encontraremos em Deus, eis que o mundo é incapaz de nos saciar plenamente daquilo que no mais íntimo temos necessidade.
A cada ano a Igreja do Brasil convida-nos a refletir sobre um grande tema, como parte dessa preparação pascal. No tempo da Quaresma de 2012, o chamado é para que lancemos um olhar mais de perto sobre a saúde no nosso país. Fraternidade e saúde pública é o grande tema da Campanha da Fraternidade deste ano.
Doença e saúde podem ser vistas como as duas faces da mesma moeda e a maneira como encaremos esta realidade, poderá nos mostrar muito bem, por qual dos dois lados fazemos a opção fundamental de vida. E isto não somente num nível pessoal, mas também comunitário e mesmo em relação ao Brasil e ao mundo. Construímos saúde ou mantemos doença?
Num rápido olhar sobre a Bíblia será possível se encontrar esses dois lados da moeda bem definidos. No Primeiro Testamento a saúde é vista, com propriedade, como graça de Deus e a doença, ao contrário, é enxergada erradamente como o abandono de Deus, ou seja, uma desgraça (a falta da graça). Como se o Pai pudesse se esquecer daquele filho sofredor ou, pior ainda, que Ele não gostasse dele por conta dos seus pecados, ou mesmo das faltas dos seus pais ou avós.
Pode-se ver esta situação já nos tempos de Jesus, quando um dia os discípulos observam um cego à beira do caminho. Perguntam então ao Mestre: “Senhor, quem pecou, foi ele, ou foram seus pais?” E Jesus prontamente lhes responde: “Nem ele, nem seus pais pecaram, mas acontece isto para que se manifeste a glória de Deus”. Da primeira parte da explicação não resta nenhuma dúvida e hoje em dia nem cabe mais discutir algo assim.
Reflitamos então sobre a segunda parte da resposta de Jesus: “Isto ocorre para que se manifeste a glória de deus”. Como podemos pensar que a glória de Deus irá se manifestar a partir da doença de alguém? A resposta está na compaixão e na solidariedade. Através da acolhida e do cuidado com o doente estaremos manifestando em nós a glória do Pai. Deus se revela em nós através do milagre da compaixão e da misericórdia.
São as nossas mãos que devem realizar hoje o prodígio da cura que Jesus, pela sua vida pública afora, foi realizando, de dar saúde às pessoas. Há muitos tipos e formas de realizar isto. Até um sorriso, um olhar, um singelo toque de carinho e mesmo a presença silenciosa naquele momento difícil, é presente de Deus que propiciamos, gerando saúde à volta. Cabe-nos discernir sobre aquela maneira a qual estamos chamados, na vida real, a patrocinar.
Dar saúde é gerar vida e para tal é preciso estar com os sentidos atentos. É necessário primeiramente ver quem necessita viver. Mas não basta só olhar. É fundamental chegar perto, não como mera curiosidade, mas com compaixão, sentindo no coração misericórdia pelo que está vivendo o outro. Há aí uma nova atitude, há que se partir de alguma maneira para a ação.
Não basta ficar na intenção, ou só repetir coisas que todos já sabem do tipo “Vou rezar, Deus vai cuidar de você”. Sim, rezar é muito bom, mas há que gerar compromissos concretos na vida. A pergunta que se pode fazer então é: “o que, ao meu alcance, posso fazer para amenizar esta dor, ou mesmo dar a saúde”?
Ver a realidade e aproximar-se dela, compadecer-se com a dor que enxerga, tomar atitudes para salvar a vida, comprometer-se com a situação, acompanhar e cobrar sobre o que está sendo feito. É deste ciclo todo que, como cristãos, somos chamados a cuidar.
A Campanha da Fraternidade 2012 leva-nos a esta mirada mais ampla sobre a saúde pública no Brasil. Convida-nos a ir além da situação mais cômoda “de classe média”, com planos de saúde, que é bem distante daquela na qual vive a grande maioria dos irmãos brasileiros. A Quaresma então é este tempo para que rezemos mais sobre a dura realidade do povo simples e os ajudemos a ter mais saúde.
Para rezar: Lc 10,25-37
– Como sou chamado a gerar saúde?
– Quem são os “doentes” que preciso ver com compaixão?
– Cobro das autoridades e acompanho a execução das políticas públicas de saúde?
Fernando Cyrino