Que ele cresça e eu diminua
Como disse o papa Francisco, é preciso dar esperança aos que a perderam e acolher os excluídos.
Por Geovane Saraiva*
Jeremias foi o profeta que passou uma barra pesadíssima, vivenciando com maior intensidade a rejeição e a perseguição, numa situação inigualável, comparada aos demais profetas. Foi chamado a falar de Deus e em nome de Deus, numa época marcada pelo negativismo, às vésperas da ruína do reino de Judá (século VI a.C). Ele foi perseguido por seus algozes, preso, maltratado, porque sua missão consistia em plantar a esperança, extirpando a maldade ao “arrancar e destruir, exterminar e demolir, construir e plantar”, numa forte mensagem demolidora e devastadora.
Com João Batista, milagroso filho de Isabel, a coisa novamente se repete, na brutalidade e crueldade do crime, o qual morreu testemunhando sua fé, ao denunciar mentiras e injustiças da corte. Ele que preparou um povo bem disposto para o início da missão pública de Jesus, dizendo com todas as letras que ele mesmo caminharia à frente do Filho de Deus, anunciando que os sinais dos tempos chegaram e as promessas anunciadas por Zacarias estavam para se realizar. O seu vibrante convite foi o de acordar o povo do sono, muitas vezes profundo, para reconhecer o Salvador da humanidade anunciado como o sol que veio nos visitar.
Neste contexto, não podemos esquecer o papa Francisco, ao recordar a importância de se praticar à caridade com o próximo, ao propor a “dar esperança aos que a perderam e de acolher os excluídos”. O Sumo Pontífice também se referiu ao dom que Jesus deu aos católicos, no dia em que se celebrou a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo – Corpus Christi. “Jesus não veio ao mundo para dar qualquer coisa, e sim para dar a sua própria vida como alimento aos que têm fé nele”, afirmou em 19 de junho deste ano.
Já no sábado, dia 21, o papa Francisco desembarcou em Cassano, região da Calábria, sul da Itália. Lá foi acolhido pelos peregrinos no estádio da cidade, onde recebeu o carinho de milhares de crianças. Nas arquibancadas, grupos folclóricos vestidos com trajes típicos entoaram canções e ao som de tambores, dançaram a conhecida ‘tarantella’ para o Romano Pontífice, que faz-nos recordar não somente o maior entre os nascidos de mulher, João Batista, que desejava ardentemente que a fama de Jesus crescesse e não a sua. Queria criar uma consciência na qual a humanidade percebesse ser instrumentos de Deus no mundo, fazendo de tudo para enaltecer a realeza de Deus, daí usar a expressão emblemática, na direção da humildade, despojamento, anonimato e último lugar: “É necessário que ele cresça e eu diminua” (Jo 3, 29), no mesmo rigor do profeta Jeremias, no contexto dramático da perseguição e da rejeição (bullying).
João Batista, que recebeu a incomensurável missão de testemunhar o Salvador da humanidade, como luz redentora, preparou um povo bem disposto a acolhê-lo. Anunciando que para vivermos bem e realizados, é necessário que se faça seguir Jesus de Nazaré, a partir da exigência, que tem origem no seu projeto de amor para conosco, através da experiência central e decisiva, na obediência ao projeto do Pai em favor da humanidade, a exemplo do papa Francisco, ao condenar qualquer forma de tortura e aqui recordo a assertiva do Apóstolo Paulo: “Vós participastes, com efeito, do sofrimento dos prisioneiros e aceitastes com alegria a espoliação dos vossos bens, certos de possuir uma fortuna melhor e durável. Não percais, pois, a vossa segurança, que tamanha esperança merece” (Hb 10, 34-35).
Um homem foi enviado por Deus, e o seu nome se chamava João. O Evangelho de São João, logo no início, depois do prólogo, trata do batismo realizado por João no Rio Jordão, batizando o autor do batismo nas águas santificadas, tendo como ponto alto o seu encontro com Jesus, que ao ver Jesus passar, reconheceu-o imediatamente, assim como o havia reconhecido, pulando de alegria e felicidade, quando ainda estavam nos ventres de suas mães, então assim se expressou: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29), diante da Jornada Internacional das Nações Unidas para apoiar as vítimas de tortura, neste dia 26 de junho quando Santo Padre, nesta circunstância vivida em Cassano, “Reiterou a firme condenação de qualquer forma de tortura”.
A solenidade de um homem, que de acordo com a afirmação da palavra de Deus: “Ele será grande diante do Senhor; estará cheio do Espírito Santo desde o seio materno, e muito se alegrarão com seu nascimento (Lc 1, 15.14), renove o nosso sonho da cidade que há de vir, a Jerusalém Celeste”.
* Geovane Saraiva é padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal – Pároco de Santo Afonso. É autor dos livros “O peregrino da Paz”, “Nascido Para as Coisas Maiores”, “A Ternura de um Pastor”, “A Esperança Tem Nome”, “Dom Helder: sonhos e utopias” e “25 Anos sobre Águas Sagradas”.
Fonte: Dom Total