Recuperar a alegria em família

Publicado em 07/07/2015 | Categoria: Notícias Papa Francisco |


papa 7 de julho

Homilia do Papa em Guayaquil: recuperar a alegria em família

 

 

Uma missa dedicada ao amor e à alegria em família, celebrada no Parque Los Samanes, em Guayaquil, após visitar o Santuário da Divina Misericórdia, foi o ponto alto da visita do Papa Francisco ao Equador nesta segunda-feira, (6/7).

Maria e o episódio das Bodas de Caná guiaram a reflexão do Papa Francisco. “As Bodas de Caná se repetem em cada geração, em cada família, em cada um de nós” e “Maria está atenta àquelas bodas já iniciadas, é solícita pelas necessidades dos esposos, não se fecha em seu mundo”, disse o Papa. O vinho é sinal de alegria, de amor, de abundância:

A família

“Quantos dos nossos adolescentes e jovens percebem que, em suas casas, há muito que não existe nenhum! Quantas mulheres, sozinhas e tristes, se interrogam quando foi embora o amor, quando se diluiu da sua vida! Quantos idosos se sentem deixados fora da festa das suas famílias, abandonados num canto e já sem beber do amor diário. A falta de vinho pode ser efeito também da falta de trabalho, doenças, situações problemáticas que as nossas famílias atravessam. Maria não é uma mãe “reclamadora”, não é uma sogra que espia para se consolar com as nossas inexperiências, erros ou descuidos. Maria é simplesmente mãe! Permanece ao nosso lado, atenta e solícita. Maria é mãe!”

E é nesse momento que Maria se dirige com confiança a Jesus e reza. A sua solicitude pelas necessidades dos outros apressa a “hora” de Jesus. Maria nos ensinou a deixar as nossas famílias nas mãos de Deus; ela ensinou a rezar, alimentando a esperança que nos indica que as nossas preocupações também preocupam Deus:

A oração

“Rezar sempre nos arranca do perímetro das nossas preocupações, nos fazendo transcender aquilo que nos magoa, agita ou falta a nós mesmos para nos colocarmos na pele dos outros, calçarmos os seus sapatos. A família é uma escola onde a oração também nos lembra que há um nós, que há um próximo vizinho, evidente: vive sob o mesmo teto, compartilha conosco a vida e se faz necessitado”.

Maria, finalmente, age. As palavras “fazei o que Ele vos disser”, dirigidas aos serventes, são um convite dirigido também a nós para nos colocarmos à disposição de Jesus – observou o Papa –  que veio para servir e não para ser servido. O serviço é o critério do verdadeiro amor. E isso se aprende especialmente na família, onde nos tornamos servidores uns dos outros por amor. No seio da família, ninguém é descartado; Todos valem o mesmo:

Família: Riqueza social

Na família, “se aprende a pedir licença sem servilismo, a dizer ‘obrigado’ como expressão duma sentida avaliação das coisas que recebemos, a dominar a agressividade ou a ganância, e a pedir desculpa quando fazemos algo de mal. Esses pequenos gestos de sincera cortesia ajudam a construir uma cultura da vida compartilhada e do respeito pelo que nos rodeia”. A família é o hospital mais próximo, a primeira escola das crianças, o grupo de referência imprescindível para os jovens, o melhor asilo para os idosos. A família constitui a grande “riqueza social” que outras instituições não podem substituir, devendo ser ajudada e reforçada para não perder jamais o justo sentido dos serviços que a sociedade presta aos cidadãos. Com efeito, esses serviços que a sociedade oferece aos cidadãos não são uma espécie de esmola, mas uma verdadeira “dívida social” para com a instituição familiar, que é a base e que tanto contribui para o bem comum de todos”.

A família também constitui uma pequena Igreja, uma “Igreja doméstica” que, juntamente com a vida, canaliza a ternura e a misericórdia divina. Na família, a fé se mistura com o leite materno: experimentando o amor dos pais, sente-se envolvido pelo amor de Deus:

Sínodo no Vaticano

“E, na família, os milagres se fazem com o que há, com o que somos, com aquilo que a pessoa tem à mão. Muitas vezes não é o ideal, não é o que sonhamos, nem o que “deveria ser”. Tem um detalhe para se fazer pensar. O vinho novo das bodas de Caná nasce das talhas de purificação, isto é, do lugar onde todos tinham deixado o seu pecado”.

O Papa recordou então do Sínodo Ordinário dedicado às famílias, a ser realizado para amadurecer um verdadeiro discernimento espiritual e encontrar soluções concretas para as inúmeras dificuldades e importantes desafios que a família deve enfrentar nos nossos dias. E pediu orações por uma intenção particular: “Para que, mesmo aquilo que nos pareça impuro, nos escandalize ou espante, Deus – fazendo-o passar pela sua “hora” – possa milagrosamente transformá-lo. A família hoje precisa desse milagre”.

“Apostar no amor”

Francisco observou, que a boa nova que ensina esta passagem, é que o melhor dos vinhos ainda está por ser bebido, o mais gracioso, profundo e belo para a família ainda está por vir:

“Ainda está por vir o tempo em que saboreamos o amor diário, onde os nossos filhos redescobrem o espaço que partilhamos, e os mais velhos estão presentes na alegria de cada dia. O melhor dos vinhos está na esperança, está para vir a cada pessoa que aposta no amor. Precisamos apostar no amor! E ainda está por vir, mesmo que todas as variáveis e estatísticas digam o contrário; o melhor vinho ainda está por vir para aqueles que hoje veem desmoronar tudo. Murmurai até acreditá-lo: o melhor vinho está por vir; e sussurrai-o aos desesperados ou que desistiram do amor. Deus sempre Se aproxima das periferias de quantos ficaram sem vinho, daqueles que só têm desânimos para beber; Jesus Se sente inclinado a desperdiçar o melhor dos vinhos com aqueles que, por uma razão ou outra, sentem que já lhes romperam todas as talhas”.

Como Maria nos convida, façamos “o que Ele nos disser” e agradeçamos por, neste nosso tempo e na nossa hora, o vinho novo, o melhor, nos faça recuperar a alegria de viver família.

Após a celebração, o Pontífice visitou o Colégio Javier, da Companhia de Jesus, onde almoçou com os jesuítas da comunidade.

 

HOMILIA DO SANTO PADRE (não é o texto definitivo)

A passagem do Evangelho que acabamos de ouvir é o primeiro sinal prodigioso, segundo a narrativa do Evangelho de João. A preocupação de Maria, transformada em súplica a Jesus: “Não têm mais vinho!” e a referência à “hora” vão se compreender nos relatos da Paixão.

É bom que assim seja, porque nos permite ver a ânsia de Jesus por ensinar, acompanhar, curar e alegrar, a começar da súplica de sua Mãe: “Não têm mais vinho!”.

As bodas de Caná se repetem em cada geração, em cada família, em cada um de nós e em nossas tentativas de fazer com que o nosso coração consiga se apoiar em amores duradouros, fecundos e felizes. Demos um lugar à Maria, “a mãe”, como diz o evangelista. Façamos com Ela o itinerário de Caná.

Maria está atenta naquelas bodas já iniciadas, é solícita pelas necessidades dos esposos. Não Se fecha em Si mesma, não Se encerra no seu mundo; ao contrário, o seu amor A faz “ser para” os outros. E, por isso, Se dá conta da falta de vinho. O vinho é sinal de alegria, de amor, de abundância. Quantos dos nossos adolescentes e jovens percebem que, em suas casas, há muito que não existe nenhum! Quantas mulheres, sozinhas e tristes, se interrogam quando foi embora o amor, quando se diluiu da sua vida! Quantos idosos se sentem deixados fora da festa das suas famílias, abandonados num canto e já sem beber do amor diário. A falta de vinho pode ser efeito também da falta de trabalho, doenças, situações problemáticas que as nossas famílias atravessam. Maria não é uma mãe “reclamadora”, não é uma sogra que espia para se consolar com as nossas inexperiências, erros ou descuidos. Maria é simplesmente mãe! Permanece ao nosso lado, atenta e solícita. Maria é mãe! Digam todos comigo: ‘Maria é mãe’. Outra vez: ‘Maria é mãe’. E é nesse momento que Maria se dirige com confiança a Jesus e reza.

Não vai ao chefe de mesa; apresenta a dificuldade dos esposos diretamente a seu Filho. A resposta que recebe parece desalentadora: “Que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora” (v. 4). Mas, entretanto, já deixou o problema nas mãos de Deus. A sua solicitude pelas necessidades dos outros apressa a “hora” de Jesus. Maria é parte dessa hora, desde o presépio até à cruz – Ela soube “transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura” (EG 286), e nos recebeu como filhos quando uma espada Lhe transpassava o coração –, Maria nos ensinou a deixar as nossas famílias nas mãos de Deus; ela ensinou a rezar, alimentando a esperança que nos indica que as nossas preocupações também preocupam Deus.

Rezar sempre nos arranca do perímetro das nossas preocupações, nos fazendo transcender aquilo que nos magoa, agita ou falta a nós mesmos para nos colocarmos na pele dos outros, calçarmos os seus sapatos. A família é uma escola onde a oração também nos lembra que há um nós, que há um próximo vizinho, evidente: vive sob o mesmo teto, compartilha conosco a vida e se faz necessitado.

Maria, finalmente, age. As palavras “fazei o que Ele vos disser” (v. 5), dirigidas aos serventes, são um convite dirigido também a nós para nos colocarmos à disposição de Jesus, que veio para servir e não para ser servido. O serviço é o critério do verdadeiro amor. E isso se aprende especialmente na família, onde nos tornamos servidores uns dos outros por amor. No seio da família, ninguém é descartado; Todos valem o mesmo.

Na família, “se aprende a pedir licença sem servilismo, a dizer ‘obrigado’ como expressão duma sentida avaliação das coisas que recebemos, a dominar a agressividade ou a ganância, e a pedir desculpa quando fazemos algo de mal. Esses pequenos gestos de sincera cortesia ajudam a construir uma cultura da vida compartilhada e do respeito pelo que nos rodeia” (LS 213). A família é o hospital mais próximo, a primeira escola das crianças, o grupo de referência imprescindível para os jovens, o melhor asilo para os idosos. A família constitui a grande “riqueza social” que outras instituições não podem substituir, devendo ser ajudada e reforçada para não perder jamais o justo sentido dos serviços que a sociedade presta aos cidadãos. Com efeito, esses serviços que a sociedade oferece aos cidadãos não são uma espécie de esmola, mas uma verdadeira “dívida social” para com a instituição familiar, que é a base e que tanto contribui para o bem comum de todos.

A família também constitui uma pequena Igreja, uma “Igreja doméstica” que, juntamente com a vida, canaliza a ternura e a misericórdia divina. Na família, a fé se mistura com o leite materno: experimentando o amor dos pais, sente-se envolvido pelo amor de Deus.

E, na família, os milagres se fazem com o que há, com o que somos, com aquilo que a pessoa tem à mão. Muitas vezes não é o ideal, não é o que sonhamos, nem o que “deveria ser”. Tem um detalhe para se fazer pensar. O vinho novo das bodas de Caná nasce das talhas de purificação, isto é, do lugar onde todos tinham deixado o seu pecado. “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20). Na família de cada um de nós e na família comum que todos formamos, nada se descarta, nada é inútil. Pouco antes de começar o Ano Jubilar da Misericórdia, a Igreja vai celebrar o Sínodo Ordinário dedicado às famílias para amadurecer um verdadeiro discernimento espiritual e encontrar soluções concretas para as inúmeras dificuldades e importantes desafios que a família deve enfrentar nos nossos dias. Convido vocês a intensificar a oração por essa intenção: para que, mesmo aquilo que nos pareça impuro, nos escandalize ou espante, Deus – fazendo-o passar pela sua “hora” – possa milagrosamente transformá-lo. A família hoje precisa desse milagre.

E toda essa história  começou porque “não tinham vinho” e tudo se pôde fazer porque uma mulher – a Virgem Maria – esteve atenta, soube pôr nas mãos de Deus as suas preocupações e agiu com sensatez e coragem. Mas, tem um detalhe e não é menos significativo o dado final: saborearam o melhor dos vinhos. E essa é a boa nova: o melhor dos vinhos ainda está por ser bebido, o mais gracioso, profundo e belo para a família ainda está por vir. Ainda está por vir o tempo em que saboreamos o amor diário, onde os nossos filhos redescobrem o espaço que partilhamos, e os mais velhos estão presentes na alegria de cada dia. O melhor dos vinhos está na esperança, está para vir a cada pessoa que aposta no amor. Precisamos apostar no amor! E ainda está por vir, mesmo que todas as variáveis e estatísticas digam o contrário; o melhor vinho ainda está por vir para aqueles que hoje veem desmoronar tudo. Murmurai até acreditá-lo: o melhor vinho está por vir; e sussurrai-o aos desesperados ou que desistiram do amor. Deus sempre Se aproxima das periferias de quantos ficaram sem vinho, daqueles que só têm desânimos para beber; Jesus Se sente inclinado a desperdiçar o melhor dos vinhos com aqueles que, por uma razão ou outra, sentem que já lhes romperam todas as talhas.

Como Maria nos convida, façamos “o que Ele nos disser” e agradeçamos por, neste nosso tempo e na nossa hora, o vinho novo, o melhor, nos faça recuperar a alegria de viver família.

 

 

 

Veja também:

Terceiro dia de Francisco no Equador: a Santa Missa no Parque do Bicentenário

 

 

Papa Francisco almoça com os jesuítas

papa jesuitas almoço

O Papa Francisco almoçou, nesta segunda-feira (06/07), com cerca de vinte jesuítas provenientes das comunidades engajadas no serviço social. O almoço com os seus confrades ocorreu no Colégio Javier da Companhia de Jesus, em Guayaquil, após presidir a missa no Parque de Los Samanes. O Pontífice ficou cerca de uma hora e meia no colégio administrado pelos jesuítas.  

Papa encontra um velho amigo

Estava presente o Pe. Francisco Cortes, mais conhecido como Pe. Paquito, 91 anos, velho amigo do Papa, mestre de noviços do colégio Javier quando Bergoglio era provincial dos jesuítas argentinos. 

Durante vários anos Bergoglio enviou os seus estudantes para se formar sob a supervisão do Pe. Paquito, do qual apreciava o método e os resultados. Os dois se conhecem desde 1980. Mesmo que tenham se encontrado apenas três vezes entre Equador e Argentina, o pontífice manteve esse laço. “Pe. Paquito ficou surpreso pelo fato de o Papa se recordar sempre dele”, disse o diretor da revista jesuíta ‘La Civiltà Cattolica’, Pe. Antonio Spadaro, que faz parte da comitiva papal.

“O almoço foi muito agradável. Realizou-se num ambiente familiar, com uma conversa simples na qual se recordava a vida jesuíta, os conhecimentos comuns, as atividades do colégio e outros jesuítas que estavam presentes. Portanto, muito simples, amigável e  fraterno entre religiosos da mesma congregação. Foi um encontro tranquilo de uma hora e meia, muito alegre e simpático”, disse Pe. Lombardi no briefing sobre as atividades do Papa nesta segunda-feira. 

Durante o almoço foi comemorado o aniversário de Pe. Spadaro que completou 49 anos. O Papa pediu uma velinha para colocar no bolo feito para o aniversariante. 

Assistência às mulheres vítimas da violência

Dentre as comunidades que representaram os jesuítas no almoço desta segunda-feira, estava presente uma comprometida com a assistência às mulheres que sofreram violência e que correm o risco de cair nas garras do tráfico de pessoas. 
Para ficar com os confrades jesuítas o Papa Francisco renunciou ao seu repouso após a refeição. 

O Colégio Javier foi fundado pela Companhia de Jesus, em Guayaquil, em 1956. O primeiro ano escolar teve início em 17 de fevereiro do mesmo ano, com 52 estudantes. Sucessivamente, a estrutura foi ampliada e faz parte da Federação Latino-americana de Colégios da Companhia de Jesus. (MJ)

Fonte: Rádio Vaticano



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