Reflexão pré Natal

Publicado em 18/12/2013 | Categoria: Notícias |


 

reflexao pre natal

O rádio, em meio ao engarrafamento matinal, me informa da queda de braço entre governo e deputados em torno da liberação da grana das “emendas parlamentares”, aquelas que suas excelências podem aplicar diretamente em “suas bases”. A batalha se justifica, afinal, quem tem dinheiro tem poder, quem tem poder tem ainda mais dinheiro…

Na notícia, um detalhe me chama a atenção. Uma das regras do jogo determina que pelo menos 50% das verbas sejam destinados à Saúde. A princípio, tudo bem. Mas, penso, gostaria de ver a mesma preocupação quando se trata de vincular e fiscalizar a aplicação de verbas para a Educação, já que alguns dos maiores problemas do nosso país são consequência direta justamente da falta de Educação.

“Educai as crianças e não será preciso punir os homens”. A frase foi dita por um matemático grego que viveu de 570 a 496 a.C. Não aprendemos bem a lição do professor Pitágoras. Investimos pouco, e mal, na Educação, o que leva a espantosas contradições e trágicos equívocos.

O Brasil criou, nos últimos anos, um dos mais eficientes sistemas de vacinação na Rede Pública. As vacinas estão lá, disponíveis e gratuitas no Posto de Saúde, mas… por falta de Educação, orientação, informação, muitas crianças ainda levam para a vida sequelas de doenças que poderiam ser evitadas com uma simples gotinha. Falta, também, orientação sobre hábitos e cuidados de higiene, alimentação, prevenção.

Nosso país é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Mas é, também, um dos campeões de desperdício. Segundo dados de uma pesquisa, perde-se 20% na colheita, 8% no transporte e armazenamento, 15% na indústria de processamento, 1% no varejo e 20% no processamento culinário e nos hábitos alimentares. Ou seja, mais da metade da nossa produção vira lixo… por falta de Educação, orientação, informação.

Temos um avanço fantástico na tecnologia dos Meios de Comunicação Social. Em tempo real, a Internet coloca o mundo ao alcance de um click, mas a TV ainda reina, e os canais a cabo (apesar do preço inacessível para a maioria) vieram trazer diversificação de conteúdo e acesso a produções de alta qualidade. No entanto, os Datenas, Faustões e Gugus da vida continuam sendo nossos maiores Ibopes e o João Kleber voltou ao ar, com seus testes de fidelidade… por falta de Educação, orientação, informação.

Conseguimos fazer vigorar entre nós o mais longo período republicano de estabilidade política, com eleições livres, urna eletrônica, verdadeiro estado democrático de direito. Mas, continuamos elegendo quem temos elegido… por falta de Educação, orientação, informação.

Essas mazelas não atingem apenas as camadas economicamente mais desfavorecidas da população. Informação nem sempre é cultura, diploma não significa sabedoria. Mas é preciso apontar nossas escolhas nessa direção.

Por essas e outras, considero que investir em Educação, a curto, médio, longo e permanente prazo é opção decisiva para deixarmos para trás nossa realidade de subdesenvolvimento.

O problema é que quem decide tudo isso são nossos representantes nos palácios legislativos. E eles sabem que um povo educado começa a perceber a diferença entre favor e direito, entre demagogia e democracia, entre pão e circo, entre estagnação do presente e esperança para o futuro. Daí, contrariando Pitágoras, preferem investir mais na punição dos homens, com a vantagem de que dá muito mais ibope.

Segundo levantamento da Secretaria da administração Penitenciária e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o custo mensal para manter cada preso no sistema prisional de SP (a maior população carcerária do país) é de 1800 reais, enquanto, em contrapartida, um aluno do Ensino Fundamental ou Médio custa 227,75 aos cofres do Estado.

Faço as contas no embalo do noticiário que pede, pede não, exige, justiça, ou seja, cadeia, para os bandidos travestidos de torcedores que protagonizaram a selvageria que vimos no último domingo, num estádio de futebol do país que vai sediar a próxima Copa.

O assunto empolga a mídia, até porque há imagens em slow motion dos bárbaros de ambos os lados, massacrando os rivais de ambos os lados.

Enquanto isso…

Já à noite, no sagrado recesso do lar, vejo no Jornal da Band matéria sobre as “regalias” dos presos mensaleiros recolhidos à Papuda. Familiares de detentos comuns protestam contra o tratamento ‘vip’ dispensado aos visitantes das outrora excelências, agora reduzidas à condição nada excelente. Acesso livre, sem revista ou constrangimento, em dia e hora à escolha do freguês.

Já os visitantes dos presos comuns têm que se cadastrar, dormir na fila, esperar no sol, na chuva, passar por detalhada revista, inclusive íntima, dia e hora limitados, limitação também no que pode e como pode ser levado.

A conclusão da matéria? É preciso colocar os vips na fila…

Penso comigo, na contramão do senso comum; será que a opção mais civilizada não seria tratar a TODOS com urbanidade e respeito, sem ingenuidade, ou seja, dar aos familiares dos presos comuns (o que seria um preso incomum?) um tratamento civilizado sem privilégios?

Para isso precisaríamos nos educar mais, aprender com Pitágoras, Buda e Mandela que a vingança, o rancor, é uma brasa que seguramos nas mãos para atirar contra o inimigo, quando ele passar. Quem se queima somos nós…

Vou dormir guardando minha esperança sob o travesseiro, com-partilhando com você, leitor, leitora, minhas reflexões. A curto prazo, nas eleições do ano que vem, penso que vamos ainda eleger menos educadores e mais brucutus, aqueles que não tocam em Educação, mas prometem penas mais duras, cadeia, pena de morte, prisão perpétua…

Como se já não fossem duras as penas a que nosso povo está condenado nos pontos de ônibus, como se não estivéssemos prisioneiros em nossas casas, como se não fossemos condenados à morte nas filas dos postos de saúde, à ignorância nas salas de aula das nossas escolas precárias, como se não fosse perpétua a nossa raiva diante dos escândalos dos milhões desviados, roubados, privando-nos do presente, negando-nos o futuro…

 

Autor: Eduardo Machado

 

Fonte: Amai-vos



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