Serve um homem que inspire esperança ao mundo
Análise do vaticanista Andrea Tornielli antes do Conclave que vai eleger o sucessor de Bento XVI.
No final do conclave que começa na tarde de hoje, o eleito que aparecerá vestido de branco da sacada da basílica de São Pedro deverá ser capaz de devolver esperança a uma humanidade que sente extrema necessidade.
Não só de um articular capaz de reestruturas uma Cúria cuja imagem sai em frangalhos da discussão dos cardeais ou de um policial chamado a por ordem entre os indisciplinados. As sociedades ocidentais estão enfrentando uma grave crise econômica e uma mais profunda crise de valores. Existem áreas do mundo devastadas por guerras e violência que ficam meio escondidas, apesar da globalização. O Papa não é o maior herói da história chamado a assumir todos os problemas graças às suas qualidades. A ele compete só – porquanto lhe compete – anunciar o Evangelho.
Mostrar, também através de jeito humano, o rosto da misericórdia de um Deus que se torna próximo de uma humanidade curvada, para abraçar antes de julgar. Trata-se de uma necessidade percebida pelo colégio dos purpurados, que também e sobretudo disso debateram, conscientes pela responsabilidade da escolha que estão para realizar. É verdade, os escândalos e os problemas da Cúria nos últimos anos deixaram os sinais. O Secretário de Estado Tarcísio Bertone, durante a última semana, ouviu muitas palavras críticas sobre sua gestão. Também se podemos nos perguntar se os cardeais, todos os cardeais, realmente tenham feito tudo o que estava em seu poder no recente passado para tentar modificar a situação.
Mas a Cúria, também se conseguisse se reformular tornando-se mais ágil, funcional, transparente e mais colegial, ficaria só uma estrutura de poder na visão de uma Igreja auto-referencial e voltada para si mesma. A Igreja – é este um dos grandes ensinamentos de Bento XVI – nunca poderá ser comparada a uma grande multinacional. Por isso o Papa, hoje mais do que nunca, deve ser primeiramente um verdadeiro homem de Deus, não um administrador ou um perito de marketing, também se religioso. O não fácil Conclave que se abre esta tarde inicia no sinal de uma maior incerteza com relação ao de oito anos atrás.
Existem alguns candidatos mais em vista, mas ninguém parece, neste momento, poder contar com um consenso como aquele que levou Ratzinger à eleição em 2005. Lógico, a expressão «quem entra Papa no conclave sai cardeal» deve ser relativizada, e foi já várias vezes desmentida. Uma destas dói em 1963, quando o «papável» mais destacado e forte era o arcebispo ambrosiano João Batista Montini. Alcançou a Cátedra à qual estava predestinado, mas as votações eram complicadas e a tensão foi crescendo ao ponto que o próprio Montini pensou em se levantar para dizer que se retirava. Foi segurado no último instante pelo colega que estava a seu lado.
Lembrar este episódio e avaliar o clima de incerteza que vivem ainda a poucas horas do conclave vários purpurados dos vários continentes serve para lembrar que o jogo iniciará só às 18h (locais, 14h de Brasília) desta terça-feira, com o início da votação. Nada se pode excluir, nem um purpurado fora do páreo. Um grande arcebispo de Gênova, o card. Giuseppe Siri, celebrando um das missas de sufrágio por Paulo VI, em 1978, afirmou aos colegas purpurados: «Parece-me um dever que me dirija aos venerados irmãos do sacro colégio e lhes lembre como a tarefa que estamos para começar não seria dignamente executada afirmando: ‘O Espírito santo vai pensar!’ e deixando-nos levar pela inércia e sem sofrimento ao primeiro impulso, à irracional sugestão».
Os 115 cardeais que esta tarde se fecharão na Sistina terão que rezar, trabalhar e sofrer para perceber no meio deles o homem de Deus que tantos esperam.
Fonte: Dom Total