“Só Eucaristia sacia fome de afeto, perdão e misericórdia”
A partir desta quinta-feira (12/11), até dia 15, realiza-se em Mumbai o Congresso Eucarístico indiano. O Cardeal Malcolm Ranjith, arcebispo de Colombo, no Sri Lanka, é o Enviado Especial do Papa. Estão participando ainda quatro cardeais indianos: Telesphore Toppo, Baselios Cleemis, George Alencherry e Oswald Gracias, além de 71 bispos e 665 delegados de toda a Índia.
Os trabalhos serão abertos pelo Card. Toppo, arcebispo de Ranchi, que recordará o seu encontro com a beata Madre Teresa de Calcutá. Sexta-feira (13/11), dois sobreviventes das perseguições anticristãs de 2008 em Orissa darão o seu testemunho.
O Papa Francisco participa do Congresso com uma mensagem em vídeo.
Com o tema “Nutridos pela Eucaristia para nutrir os outros”, este Congresso é um dom de Deus não só para os cristãos da Índia, mas para toda a população deste país tão rico de diversidades culturais e espiritualidades”, diz o Papa.
“Os seres humanos de todo o mundo hoje precisam de nutrimento para saciar também fomes como a de amor, de imortalidade, de afeto, atenções, perdão e misericórdia, que podem ser satisfeitas somente com o Pão que vem do alto”, prossegue, explicando que a Eucaristia não se encerra com a comunhão do corpo e do sangue, mas nos conduz à solidariedade com os outros.
“Quem é saciado e nutrido por Cristo não pode ficar indiferente quando vê seus irmãos e irmãs sofrerem na indigência e na fome. São chamados a levar a alegria do Evangelho àqueles que ainda não a receberam; e reforçados pelo Pão vivente, serem portadores de esperança àqueles que vivem nas trevas e no desespero”.
O Papa encerra a mensagem fazendo votos que o Congresso Eucarístico seja ocasião para a união de todos no amor. (CM)
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“Reconhecer no pobre o rosto de Jesus”
“Deus e o homem não são dois extremos de uma oposição: desde sempre, estes procuram um ao outro, porque Deus reconhece no homem a própria imagem e o homem se reconhece somente olhando para Deus.”
Foi o que disse o Papa Francisco na missa celebrada esta tarde em Florença, com a qual concluiu sua visita à capital da região italiana da Toscana. Partindo do Evangelho do dia, a homilia do Santo Padre desenvolveu-se em torno de duas perguntas que Jesus faz a seus discípulos.
A primeira: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? (Mt 16,13). A segunda: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). Atendo-se à primeira, o Pontífice disse tratar-se de uma pergunta que demonstra o quanto o coração e o olhar de Jesus estão abertos a todos.
Jesus se interessa por aquilo que o povo pensa, não para contentá-lo, mas para poder comunicar com ele, observou Francisco. “Sem saber o que o povo pensa, o discípulo se isola e inicia a julgar o povo segundo seus pensamentos e suas convicções.”
“Os discípulos de Jesus jamais devem esquecer de onde foram escolhidos, ou seja, do meio do povo, e jamais devem cair na tentação de assumir atitudes de distanciamento, como se aquilo que o povo pensa e vive não lhes dissesse respeito e não lhes fosse importante.”
O Santo Padre ressaltou que isso vale também para nós. A Igreja, como Jesus, vive no meio do povo e pelo povo. “Por isso, em toda a sua história, sempre levou em si a mesma pergunta: quem é Jesus para os homens e as mulheres de hoje?”, acrescentou.
Para isso, é necessário amadurecer uma fé pessoal com Ele. Eis então que se coloca a segunda pergunta que Jesus faz aos discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pergunta que ressoa ainda hoje à consciência de nós, seus discípulos, e é decisiva para a nossa identidade e a nossa missão.
Assista ao vídeo da missa
“Somente se reconhecermos Jesus em Sua verdade, seremos capazes de olhar a verdade da nossa condição humana, e poderemos dar a nossa contribuição para a plena humanização da sociedade.” A pergunta de Cristo é respondida por Simão: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, frisou o Papa, acrescentando:
“Essa resposta abarca toda a missão de Pedro e assume em si aquilo que se tornará para a Igreja o ministério petrino, isto é, custodiar e proclamar a verdade de fé; defender e promover a comunhão entre todas as Igrejas; conservar a disciplina da Igreja.”
Esta profissão de fé que Simão Pedro proclamou permanece também para nós. “Ela não representa somente o fundamento da nossa salvação, mas também a estrada mediante a qual ela se realiza e a meta à qual caminha”, observou o Pontífice.
De fato, na raiz do mistério da salvação está a vontade de um Deus misericordioso, que não se rende diante da incompreensão, da culpa e da miséria do homem, mas se doa a ele até fazer-se Ele mesmo homem para encontrar toda pessoa na sua condição concreta.
É este amor misericordioso de Deus que Simão Pedro reconhece no rosto de Jesus. O mesmo rosto que somos chamados a reconhecer nas formas em que o Senhor nos assegurou a sua presença no meio de nós:
“No amor sem limites, que se faz serviço generoso e solícito para com todos; no pobre, que nos recorda que Jesus quis que sua suprema revelação de si e do Pai tivesse a imagem do humilhado crucificado.”
Concluída a santa missa celebrada no Estádio Municipal “Artemio Franchi” de Florença, da qual participaram 55 mil fiéis, o Papa Francisco encerrou seus compromissos na capital da região italiana da Toscana, partindo pouco depois das 17h de volta para o Vaticano. (RL)
Papa à Igreja italiana: inovar com liberdade, sem obsessão pelo poder
Ao chegar a Florença, oriundo de Prato, o primeiro compromisso de Francisco foi na Catedral da cidade, onde encontrou os participantes do V Congresso Eclesial da Igreja italiana.
O discurso do Santo Padre foi inspirado no tema do Congresso: “O novo humanismo em Cristo Jesus”.
Para Francisco, podemos falar de humanismo somente a partir da centralidade de Jesus, descobrindo Nele os traços do rosto autêntico do homem. “É a contemplação da face de Jesus morto e ressuscitado que recompõe a nossa humanidade, inclusive daquela fragmentada pelas fadigas da vida ou marcada pelo pecado. Não devemos domesticar a potência do rosto de Jesus. O rosto é a imagem da sua transcendência. Jesus é o nosso humanismo”, disse o Papa.
O Pontífice ressaltou que a face de Jesus é semelhante àquela de tantos nossos irmãos humilhados e escravizados. E indicou três sentimentos que caracterizam o humanismo cristão: a humildade, o desinteresse próprio e a bem-aventurança.
Dirigindo-se à Igreja italiana, o Papa recorda que seus membros não devem ser obcecados pelo poder, evitando pelo menos duas tentações: a do pelagianismo e a do gnosticismo. E recomenda o que escreveu na Exortação Apostólica Evangelii gaudium, isto é, a inclusão social dos pobres e a capacidade de encontro e de diálogo.
“Este nosso tempo requer viver os problemas como desafios e não como obstáculos”, disse Francisco, que descreveu o que espera da Igreja italiana:
“Apraz-me uma Igreja italiana inquieta, sempre mais próxima dos abandonados, dos esquecidos, dos imperfeitos. Desejo uma Igreja alegre com o rosto de mãe, que compreende, acompanha e acaricia. Sonhem também vocês esta Igreja, acreditem nela, inovem com liberdade. Sejam criativos ao expressar o gênio que os grandes desta terra, de Dante a Michelangelo, expressaram de modo inigualável.”
“Não cabe a mim dizer como realizar este sonho”, finalizou Francisco, mas indicou o aprofundamento nos próximos anos de sua Exortação Evangelii gaudium, de onde colher os critérios práticos e para aplicar as suas diretrizes.
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(BF)
Papa: “Combater câncer da corrupção e veneno da ilegalidade”
A cidade ‘mais chinesa’ da Itália, e uma das mais multiculturais da Europa, Prato, recebeu o Papa nesta terça-feira (10/11) com sol e muita gente nas ruas. Cerca de 30 mil vieram de localidades vizinhas e desde às 6h, a cidade estava tomada. O helicóptero proveniente do Vaticano aterrissou às 7h45 no estádio da cidade e com o papamóvel, Francisco chegou ao adro, de onde se dirigiu à multidão.
A cidade de Prato – como explica o bispo, Dom Agostinelli – tem 191 mil habitantes, dos quais 34.600 (18,12%) são estrangeiros. A maior parte, 16 mil, são chineses; e outras grandes comunidades são formadas por albaneses, romenos, paquistaneses e marroquinos. A indústria têxtil é o motor desta sociedade.
Antes de proferir seu discurso, o Papa entrou na Basílica para venerar o ‘Santo Cinto’, relíquia que, de acordo com uma lenda medieval, teria sido lançada do céu pela Virgem Maria a São Tomé durante a Assunção. O Cinto da Virgem é um pedaço de tecido de lã verde, com cerca de 90 centímetros, tendo em suas extremidades pequenas cordas para amarrá-lo. A relíquia é exposta à venera¬ção pública cinco vezes ao ano: na Páscoa, nos dias 1º de maio, 15 de agosto, 8 de dezembro e no Natal. Nessas ocasiões, ela é colocada no púlpito externo, à direita da Catedral, local de onde falou o Papa.
A ‘cidade de Maria’
Este ‘sinal de bênção’ para a cidade sugeriu a Francisco a inspiração para o seu primeiro discurso. O primeiro pensamento leva ao caminho de salvação empreendido pelo povo de Israel, da escravidão do Egito à terra prometida. Antes de libertá-lo, o Senhor pediu para celebrar a ceia pascal e comê-la ‘com os rins cingidos’: cerrar as vestes significa estar prontos, preparar-se para partir, para colocar-se em caminho.
“É este o convite do Senhor ainda hoje, mais do que nunca: a não ficarmos fechados na indiferença, mas a nos abrirmos, a sentirmo-nos chamados para deixar nossas coisas e ir até o outro, a compartilhar a alegria de encontrar o Senhor e a fadiga de caminhar na sua estrada”.
Prosseguindo, o Papa encorajou os presentes a arriscarem, a aproximarem-se dos homens e mulheres de nosso tempo, a tomar a iniciativa e envolverem-se, sem medo, pois não existe fé sem riscos. E neste sentido, agradeceu a cidadania pelos esforços desta comunidade na integração, contrastando a cultura da indiferença e do descarte. Elogiou ainda as iniciativas de inclusão dos mais frágeis.
O segundo pensamento do Papa se inspirou no convite feito por São Paulo a vestirmos uma couraça ‘particular’, a de Deus, que combate os espíritos do mal cinge com a verdade:
“Não se pode fundar nada de bom sobre as tramas da mentira e da falta de transparência. Procurar e optar sempre pela verdade não é fácil; é uma decisão vital que marca profundamente a existência de cada um e da sociedade, para que seja mais justa e honesta. A sacralidade de todo ser humano requer, para cada um, respeito, acolhida e um trabalho digno”.
Tragédia do trabalho
Fora do texto, o Papa recordou os 7 operários chineses mortos há dois anos em um incêndio na zona industrial de Prato. Moravam dentro do galpão no qual trabalhavam, em um dormitório feito de reboco: uma tragédia da exploração – disse – que representa condições de vida desumanas.
“A vida de toda comunidade exige que se combatam, até o fim, o ‘câncer’ da corrupção e o veneno da ilegalidade. Dentro de nós e junto aos outros, não nos cansemos de lutar pela verdade!”, prosseguiu.
Encorajamento aos jovens
Terminando, Francisco convidou os jovens a não cederem ao pessimismo e à acomodação, agradecendo-os pelas orações. “Maria é quem transformou o sábado da desilusão no alvorecer da ressurreição. Quem se sente cansado e oprimido pelas circunstâncias da vida, confie em nossa Mãe que está perto de nós e nos consola”.
Após a missa, um casal de desempregados, três sindicalistas e representantes das comunidades chinesa, ucraniana, polonesa, romena, filipina, nigeriana e paquistanesa, além de representantes das instituições locais, prefeitos da província, associações de diferentes categorias – um total de 60 pessoas, saudaram o Papa pessoalmente.
Um ‘ciao Papa’ escrito em chinês saudou o Papa enquanto o pároco da comunidade, Pe. Roberto, doou ao Pontífice dois quadros em estilo chinês retratando Santa Maria e o Espírito Santo. E a Praça continuou aplaudindo e gritando “Francesco”.
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Fonte: Rádio Vaticano