“Verdadeira missão não é proselitismo, mas atração a Cristo”
No último fim de semana, o Papa realizou uma viagem apostólica à Geórgia e Azerbaijão, dois países do extremo leste europeu. E nesta quarta-feira (05/10), dedicou o seu encontro público com os fiéis, na Praça São Pedro, a uma recordação desta experiência. Dezenas de milhares de pessoas acompanharam o relato do Pontífice.
Visita completa missão ao Cáucaso, depois da Armênia
A missão na Geórgia teve caráter ecumênico, pois sua população é majoritariamente ortodoxa, e foi intitulada “Pax vobis”. No Azerbaijão, república de religião islâmica, o lema foi “Somos todos irmãos”.
Na audiência, Francisco começou explicando que os dois países têm raízes históricas, culturais e religiosas muito antigas, mas ambos, celebrando 25 anos de independência do regime soviético, estão vivendo uma fase nova, desafiadora e repleta de dificuldades.
Igreja chamada a estar presente
“A Igreja Católica atua nos campos da caridade e da promoção humana, sempre em comunhão com as comunidades cristãs e em diálogo com outras comunidades religiosas, na certeza que Deus é Pai de todos e nós somos irmãos e irmãs”.
Dissertando sobre a etapa na Geórgia, o Papa recordou o encontro com o ‘venerado’ Patriarca Elias II, definindo-o ‘comovente’, e a oração na Catedral com os assírios-caldeus pela Síria, no Iraque e no Oriente Médio. Outro momento de destaque foi a missa com os católicos do país, celebrada na memória de Santa Teresa do Menino Jesus, padroeira das missões:
Verdadeira missão não é proselitista
“Ela nos recorda que a verdadeira missão não é proselitismo, mas atração a Cristo a partir da forte união com Ele na oração, na adoração e na caridade concreta, como o fazem os religiosos e religiosas encontrados em Tblisi, na Geórgia, e em Baku, no Azerbaijão. Também as famílias cristãs são preciosas no acolhimento, discernimento e integração da comunidade!”, disse Francisco.
700 católicos no Azerbaijão
No país de maioria muçulmana, os católicos são poucas centenas, mas têm boas relações com todos, afirmou, lembrando dois eventos: a Eucaristia e o encontro inter-religioso.
“Dirigindo-me às autoridades azeris, fiz votos que as questões abertas possam encontrar boas soluções e todas as populações caucásicas vivam na paz e no respeito recíproco. Que Deus abençoe a Armênia, Geórgia e Azerbaijão, e acompanhe o caminho de seu povo santo peregrino naqueles países”.
Antes de conceder a bênção final aos participantes da audiência e a todos em sintonia por rádio e TV, o Papa saudou os diversos grupos presentes, entre os quais os poloneses ex-prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz.
(CM)
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Papa à iniciativa privada: não ser espectador das bombas que caem
Construir e não destruir: foi o que pediu o Papa aos funcionários do ramo italiano de uma empresa de telefonia, recebidos no Vaticano antes da Audiência Geral, para falar de projetos da iniciativa privada em benefício da população.
De modo especial, o Pontífice comentou o projeto “Instant Schools for Africa”, para favorecer o acesso on line de jovens africanos a recursos educativos, inclusive para residentes em campos de refugiados.
Esta iniciativa, disse Francisco, se insere no amplo e variegado horizonte de intervenções públicas e privadas orientadas na promoção de um mundo mais inclusivo, mais solidário, mais capaz de oferecer oportunidades de desenvolvimento a pessoas e grupos sociais em risco de exclusão.
Depois de ouvir a explicação do projeto, o Papa fez um pedido: que entre os recursos oferecidos aos jovens, possa haver o acesso aos textos sacros das várias religiões, em diversas línguas. “Isso seria um belo sinal de atenção à dimensão religiosa, tão radicada nos povos africanos, e de encorajamento ao diálogo inter-religioso.”
“Pelo que ouvi, concluiu Francisco, este projeto é construtivo, e hoje é preciso ser construtivos, fazer coisas que levem a humanidade avante e não somente ver como caem as bombas sobre pessoas inocentes, crianças, doentes, cidades inteiras. Construir, não destruir!”
O Papa em Amatrice com a população atingida pelo terremoto
Realizando um desejo anunciado, o Papa Francisco visitou na manhã desta terça-feira (04/10) a cidade de Amatrice, no centro da Itália, devastada pelo terremoto de 24 de agosto passado. O tremor, de 6 graus na escala Richter, deixou centenas de mortos e ainda hoje, cerca de 4 mil pessoas vivem acampadas em tendas instaladas pela Defesa Civil.
Visita sem aviso
Às 9h10 desta manhã, o Pontífice chegou de Roma em automóvel e antes de visitar a cidade, entrou na escola pré-fabricada ‘Capranica’, construída em Villa San Cipriano. Acompanhado pelo bispo de Rieti, Dom Domenico Pompili, cumprimentou os alunos e o reitor, que haviam sido informados de sua visita e o aguardavam. O Papa abraçou todos e agradeceu especialmente aos bombeiros pelo generoso serviço prestado nas operações de socorro.
Solidariedade e oração
“Pensei muito nos dias seguintes ao terremoto que uma minha visita seria mais um incômodo do que uma ajuda, e não queria incomodar. Por isso, deixei passar um pouco de tempo para que algumas coisas fossem arrumadas, como a escola. Mas desde o início senti que tinha que vir aqui! Simplesmente para dizer que estou com vocês, perto de vocês e nada mais. E que rezo, rezo por vocês. Proximidade e oração, esta é a minha oferta para vocês. Que o Senhor abençoe a todos, que Nossa Senhora os proteja neste momento de tristeza, de dor e provações”.
Ave Maria
Após a bênção, Francisco rezou uma Ave Maria com os presentes e os encorajou: “Vamos avante, há sempre um futuro. Muitas pessoas queridas nos deixaram, caíram sob os escombros. Coragem, olhemos sempre para frente. Ajudemo-nos uns aos outros, pois se caminha melhor juntos. Obrigado”.
“Esperança” foi o sentimento que o Papa deixou no coração das pessoas.
O impacto do silêncio
Em seguida, o Pontífice foi à chamada ‘zona vermelha’, fechada por razões de segurança, e se aproximou o máximo possível dos escombros, aonde se deteve alguns minutos em recolhimento para rezar.
Visita prosseguiu em outras localidades atingidas
Depois de constatar de perto a destruição, junto aos escombros, o Pontífice deixou Amatrice saudando as pessoas alojadas na ‘Tendópoli Amatrice 1’ e se dirigiu a Accumoli e Arquata del Tronto.
Silêncio para não atrair a mídia
No Vaticano, reinou o silêncio sobre esta data, já que o Papa não queria uma viagem anunciada e a presença maciça da imprensa. Os próprio bispos das duas dioceses atingidas, Rieti e Ascoli, tiveram confirmação apenas esta manhã.
Quatro dias após o terremoto, na oração do Angelus de domingo, 28 de agosto, o Pontífice expressou sua proximidade espiritual aos habitantes atingidos pelo cisma e anunciou: “Assim que for possível também eu espero poder visitar-vos, para vos levar pessoalmente o conforto da fé, o abraço de pai e de irmão, o amparo da esperança cristã”.
Domingo (02/10) à noite, retornando do Azerbaijão, Francisco reafirmou a intenção de visitar a região, mas não mencionou a data. “Irei sozinho, como sacerdote, como bispo, como Papa, mas sozinho. Quero estar próximo das pessoas”.
(CM)
Terremoto: Papa visita Pescara e Arquata del Tronto
O Papa Francisco visitou, na manhã da terça-feira (04/10), as cidades italianas de Amatrice, Accumoli, Pescara del Tronto e Arquata del Tronto devastadas pelo terremoto de 24 de agosto passado que causou 295 mortos.
Depois de visitar Amatrice, o Papa foi à Casa de Saúde San Raffaele, em Borbona, Província de Rieti, que acolhe doentes crônicos e não autossuficientes. Ali, saudou 60 pacientes, dentre os quais muitos idosos deslocados por causa do abalo sísmico. O Pontífice permaneceu ali um longo tempo e almoçou com eles.
Após o almoço, Francisco visitou o Comando do Corpo de Bombeiros, em Cittareale, base para as áreas do terremoto. Dali, se dirigiu a Accumoli, uma das cidades mais afetadas pelo sismo, onde saudou várias pessoas na Praça São Francisco, incluindo o Prefeito da cidade, Stefano Petrucci. O Papa rezou diante da igreja de São Francisco destruída pelo terremoto.
De Accumoli, o Papa se dirigiu a Pescara del Tronto, nas Marcas, onde parou três vezes ao longo do caminho para saudar pequenos grupos de pessoas.
Pouco antes da 14h locais, o Santo Padre chegou a Arquata del Tronto e ali saudou mais de 100 pessoas, dirigindo-lhes algumas palavras. Rezou com elas uma Ave Maria, pedindo pelos seus entes queridos que morreram no abalo sísmico. O Papa visitou a escola adaptada debaixo de uma tenda.
“Eu quis estar perto de vocês neste momento e dizer-lhes que tenho vocês no coração. Sei de seus sofrimentos, angústias e também de seus mortos. Estou com vocês. Por isso, quis estar aqui hoje”, disse o Pontífice aos sobreviventes do terremoto em Arquata.
“Coragem! Sempre adiante! Os tempos mudarão e será possível continuar. Estou com vocês”, concluiu.
Na visita a Pescara e Arquata del Tronto o Papa foi acompanhado pelo Bispo de Ascoli Piceno, Dom Giovanni D’Ercole. (MJ)
Prefeitos de Amatrice e Accumoli: Papa nos deu esperança
A saudar o Papa Francisco em sua visita, nesta terça-feira (04/10), a Amatrice, estava o Prefeito da cidade, Sergio Pirozzi. Entrevistado pela nossa emissora, eis o que disse:
Pirozzi: “Esta foi a visita mais forte do ponto de vista emocional. Como eu disse no dia das exéquias, a nossa fé nos ensina, nos transmite esperança. Temos a certeza de que depois da morte existe uma vida. Por isso, a mensagem extraordinária é que, depois da morte que nós tivemos, a visita do Papa representa a vida, aquela que virá: Voltaremos a viver em nossas casas, em nossos lugares. Eu já disse estas coisas e a coisa mais bonita foi o seu abraço, o testemunho de uma proximidade extraordinária não somente física, mas sobretudo emocional. Agradeço ao Papa porque eu vi nos olhos do meu povo a esperança e não há coisa mais bela que essa!”
O Prefeito de Accumoli, Stefano Petrucci, acompanhou o Pontífice em sua visita ao que restou dessa cidade.
Petrucci: “Depois de uma desgraça desse tipo, ter aqui o Papa Francisco para nós é um ponto de força.”
Qual é a situação em Accumoli?
Petrucci: “A comunidade, cerca de 250 pessoas, se encontra em San Benedetto del Tronto: famílias com crianças, jovens e avós. Outras 350 pessoas usufruíram da contribuição e se arranjaram autonomamente na casa de parentes ou pagando aluguel ou de outra forma. Aqui permaneceram cerca de 50 pessoas que trabalham nas atividades agrícolas e na criação de animais. Agora, devemos ajudá-las, pois ainda vivem numa condição de desconforto, pois os containers de uso familiar ainda não foram entregues e chegarão daqui a uma semana. Atualmente, estão na casa de amigos que possuem casas habitáveis ou em motorhome.” (MJ)